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Rickson Teve 400 Lutas, O Meu Pai Teve 5000.


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Faixa coral de Jiu-Jitsu e filho de ninguém menos do que Helio Gracie, Relson mora nos Estados Unidos há 27 anos e nunca deu aulas no Brasil. Perto de completar 60 anos, o lutador está se estruturando para voltar a morar definitivamente no Rio de Janeiro, onde inclusive já abriu sua primeira academia tupiniquim, situado no bairro do Leblon. O samurai recebeu a TATAME em seu novo templo e concedeu uma entrevista exclusiva e cheia de polêmicas. Sem papas na língua, Relson declarou que Hélio encarou muito mais desafios do que o Rickson, disse que poucas pessoas atualmente praticam o puro Jiu-Jitsu Gracie, contou com detalhes sua última briga de rua no Rio de Janeiro, alfinetou Royce Gracie, entre muitos assuntos que você confere abaixo.

Se o Royce não tivesse sido o campeão dos primeiros UFCs, o rumo do esporte seria diferente?

Claro, certamente. Ele não teria mostrado a eficiência do Gracie Jiu-Jitsu. O Royce era o mais novo, o mais inexperiente, o que menos tinha competido. Isso fez mais efeito na eficiência que a gente queria mostrar. Com as finalizações que o Royce deu com quimono e sem quimono, mostrou toda a flexibilidade e versatilidade do Jiu-Jitsu, pegando todo mundo. Isso foi uma coisa que realmente convenceu o mundo. Começou pela América e Japão com o Rickson a frente no mesmo ano que o Royce, em 1993. No meio de 1994, o Rickson e o Royler foram para o Japão, e lá fizeram a abertura do Vale Tudo Open, que passou depois a ser o Pride.

Na época, o Rickson era considerado o melhor. Por que ele não foi o escolhido para representar a família e o Jiu-Jitsu? Foi parte da estratégia escolher o mais franzino?

Sim, o efeito foi maior. O Rickson era visto como campeão, profissional no ringue, tinha uma grande margem de resultados a favor dele, enquanto que o Royce não. Seria muito mais fácil justificarem a derrota deles dizendo que haviam perdido para o Rickson e não para o Royce. Quem era o Royce? Irmão caçula do Rickson?

Você está há anos fora do país e agora está voltando ao Rio de Janeiro, onde foi criado. Qual é a ideia?

É um passo que eu tenho que dar. É a minha vida, a minha maneira de ser e eu quero voltar ao Brasil porque acho que teria um final de vida melhor aqui, com todas as condições. É melhor a vida aqui com dinheiro e estou voltando com um pé de meia. Eu passei de 1985 até hoje na América e nesses 27 anos aqui, eu nunca ensinei no Brasil. Eu estou com uma academia no Leblon agora e a gente vai sempre manter essa academia como academia do meu pai. Esse sistema que eu quero introduzir, os garotos jovens sentem confiança em se defender na rua de um marginal, um bandido. Eles sabem que tem resposta através dessa defesa pessoal. Esse Jiu-Jitsu não existe mais no Brasil.

Você acha que se perdeu um pouco esse Jiu-Jitsu que o Helio desenvolveu, focado na defesa pessoal?

Certamente. Eu só segui o que o Helio fez. Todo mundo quer trocar o que ele fez, dizem que está errado. Ele era um mestre, um cara que viveu para o Jiu-Jitsu, que tinha uma deficiência física e fez a dieta pra curar e poder resistir, para poder a academia estar aberta e receber as visitas que iam desafiá-lo. Naquele tempo era só desafio. Só vinha pedreira. Capoeira, Luta Livre, Wrestling... Todos batiam lá na academia e pagavam para ver. O que não faltaram foram testes para o meu pai.

E com relação ao Carlos Gracie, você acredita que ele teve a mesma importância para o Jiu-Jitsu do que o Helio?

Eu acho que meu pai foi o que botou tudo a prova. Foi o Helio que afinou o Jiu-Jitsu para ser uma coisa técnica. O Carlos conheceu o Jiu-Jitsu e passou para o Helio. O Carlos teve o mérito de conhecer o Jiu-Jitsu primeiro, mas o Helio não conseguia realizar o sistema proposto por Carlos porque ele não tinha força. Ele não conseguia levantar a perna e aí o Carlos falava. “Então faz da sua maneira”. Aí ele traçava as pernas e estrangulava. Ele fez um sistema de defesa. É isso que eu acredito. Ele é um cara tão magrinho e fez o sistema funcionar, então tem que provar a leões, tigres, crocodilos. Ele provou a todo mundo. Ele foi contra a Capoeira, contra Judô, o que fosse. Ele provou que era o melhor. Esse sistema de defesa pessoal é o que eu acho mais importante no Jiu-Jitsu. Essa luta de chão é boa quando você tem tempo pra fazer.

Se você é um doutor, um advogado, professor ou catedrático na universidade, você não pode ser um campeão de Jiu-Jitsu. Hoje em dia, o Jiu-Jitsu tem que ter a parte física, tem que ter tempo pra competir, tem que dedicar seis horas pra treinar porque o outro está fazendo seis horas por dia, tomando vitamina. Qual é a chance que vai dar para o um arquitetozinho, um doutor que não pode machucar os dedos e não pode operar? Qual é o Jiu-Jitsu que você vai ensinar pra ele? Ele não quer saber de se embolar, ele quer saber de o cara não dar uma paulada nele, puxar um ferro, tomar um tiro e tomar a arma, como é visto na vida prática. Agora a gente vai voltar com o autêntico Jiu-Jitsu Gracie.

O que o senhor acha do Jiu-Jitsu de competição?

Eu sou contra esse Jiu-Jitsu só de competição e eu sou contra essas academias que ensinam o MMA diretamente. Eu faço um cara se defender na rua com a faixa branca ou azul de Jiu-Jitsu, muito mais do que um praticante de MMA. Quando eles vierem com soco, terão uma surpresinha. Esse MMA está vindo em diferentes maneiras de ensinar a arte da luta. Todo mundo toma soco. Qual não tomou soco na cara? Me diz. Todos eles. Anderson Silva tomou, Machida toma, todos eles tomam. A defesa pessoal que ensino, o Jiu-Jitsu puro não te permite levar soco na cara.

De quantas lutas de Vale-Tudo o senhor participou?

Participei de 138. Na última, saí correndo porque quiseram me juntar no Havaí.

Quanto tempo tem isso?

Cinco meses. Tive que correr no Havaí. Quiseram me juntar, eu estava com umas moças, os caras falaram uma piada. “Que isso? Não tem respeito e educação com as moças?” Aí vieram dois ou três, quiseram me cercar, eu comecei a andar rápido, vi que o cerco ia fechar. Era hora de correr. A esperteza vem daí também: querer sobreviver. Eu não quero ser um valente morto,

Dessas 138 lutas que você fez, qual foi a maior dureza?

Foi na casa de shows Mistura Fina, uma das últimas brigas de rua aqui do Rio de Janeiro. Eu devia ter uns 31 anos, estava desquitado e com uma mulher linda na mesa. Fui pegar uma bebida, quando eu voltei, o cara começou a falar o que ia fazer com ela. Eu falei: “amigo, é minha namorada”. Ele não me respeitou. “Vou dar uma palavrinha com ela dois minutos e vou embora”. A minha namorada disse “ele está me chateando”. Eu não quis brigar dentro do bar, pedi para ele descer. “Como a gente vai resolver isso?”, e eu respondi “como você quiser”. “Vamos lá embaixo, vamos fazer”. “Aqui não, vamos lá embaixo”, eu falei.

O cara era o maior touro. Pensei “essa parada vai pegar fogo”. Ele alto, 1,82m, uns 90kg, beque central. “Vamos esquecer isso? Eu e você brigar? Ninguém está vendo. Não vamos arrumar nada com essa briga. Vamos esquecer isso”. Aí ele falou: “meu irmão, vamos fazer o seguinte: chega lá, eu vou sentar na mesa e você fica calado”. Eu falei: “o que é que você falou?” Mandei uma mão na cara, ele ensaiou uma baiana, bati, ele caiu no chão. Dei três na cara, ele virou de costas e eu estrangulei. Ele dormiu muito rápido.

E o que você fez?

Pensei: “Um cavalo desses não vai levantar?”. Esfreguei a cara no paralelepípedo. Ele estava dormindo. Eu deitei em cima, raspou tudo. Ele ficou duas semanas de casca. Arrastei a cara dele no paralelepípedo, com ele dormindo, anestesiado, sem reação. Aí ele acordou. Quando ele acordou, eu vi o sangue no paralelepípedo, naquelas frestinhas. Tinha muito sangue. Ele estava até sensível, tinha sangue pra todo lado e eu até fiquei preocupado, pensei: “Matei o cara”. Nada. Dois segundos, o cara se virou. Eu deixei ele se virar, não levantei. Continuei ali mesmo, pra começar dali (risos). Eu estava montado, o deixei rodar e fiquei montado. Quando ele acordou, agarrou o meu pescoço direito, não viu nem a anestesia, acordou na bad trip, achou que fosse um pesadelo. Quando acordou, dois na cara e uma chave de braço. Eu quebrei o braço dele. Aqueles brações...

E qual foi o desfecho, você deixou ele apagado?

O que aconteceu quando ele dormiu? aqueles molequinhos que cuidam de carro, me perguntaram: “ele está dormindo, moço? Posso tirar o relógio dele?”. Eu respondi: “meu irmão, limpa ele rápido (risos)”. Tirou relógio, carteira, sapato, cinto. Saíram os três correndo gritando “obrigado, moço”. Foi a briga que eu achei que fosse mais difícil e foi a mais fácil. Não tinha nem dez segundos, eu botei pro chão. Mais dois segundos e eu esfreguei a cara em doze segundos de briga.

Quem é o Gracie da nova geração que você gosta ver de lutar, que acha que representa bem a família?

Ninguém mais segue o sistema Helio Gracie, eu não aprovo nada. Eu não vejo ninguém representar. O Royce foi bem enquanto ele não mudou para o Caratê, Muay Thai, sei lá. Ele começou a fazer essas coisas e entrou com o estilo Muay Thai pra cima do Matt Hughes. O Royce lutou Muay Thai com o Matt Hughes, vocês não o viram lutando Jiu-Jitsu. Eu nunca mais falei com o Royce depois desse dia porque ele estava lutando Muay Thai e foi pro abismo.

O Roger pode ter sucesso nesse novo MMA?

Só se ele mudar para o estilo Helio Gracie, só se ele treinar comigo. Se ele treinar comigo, ele ganha. Se ele treinar com os outros, não ganha. Ninguém ensina o estilo Helio Gracie mais, então danou-se. Para os que ensinam o estilo Helio Gracie, tudo é possível.

Quem, além de você, pratica o Jiu-Jitsu Helio Gracie?

O Rickson, que está morando no Rio e está passando os ensinamentos, mas é muito privado. Rickson tem um sistema de ensino, continua ensinando Jiu-Jitsu, mas num sistema que ele acha o ideal. Não é mais aberto e eu não encontro o Rickson na academia mais, mas ele é adepto do puro Jiu-Jitsu Gracie. O Rorion você pode encontrar em Torrance, na Califórnia. Tem o Pedro Valente. Mas o Rorion e o Pedro Valente ficam na parte técnica de defesa pessoal. A minha é defesa pessoal, mas eu venho com aprimoramento para defesas de posições. Como você sabe, eu tenho um livro na minha cabeça que tem oito páginas. As oito páginas tem só isso. Tem uma página dupla, que é a respeito da parte em pé, que é o bloqueio de pisão e a defesa de baiana. São as únicas duas páginas em pé do meu livro. Se você fizer aquelas duas páginas, ninguém te pega, é uma coisa certa.

O Rorion fez bem em vender o UFC, já que desvirtuou a ideia original, que era o confronto das modalidades?

Ele não tinha como evitar essa mudança. Todo mundo pegou o Jiu-Jitsu e começou a colocar no seu sistema. Agora o Wrestling tem Jiu-Jitsu, o cara do Judô faz Jiu-Jitsu, o Caratê faz Jiu-Jitsu, misturou. Todo mundo tira vantagem do Jiu-Jitsu e bota no Muay Thai, mas ganha por estrangulamento. Eu não vejo o pessoal no UFC defendendo nada. Não vejo ninguém levar o outro para o chão, não vejo. É a oportunidade. Você não está contando de o cara dar o pé, você passar e o outro cai. Não tem uma pessoa no UFC assim. Quando o Royce lutava, você contava que ele fosse agarrar e ganhar, mas ninguém procura mais o clinche para colocar o Jiu-Jitsu em prática.

E a luta do Royce com o Matt Hughes?

Foi uma vergonha, ele não usou Jiu-Jitsu nenhum. Tá de sacanagem? Faz a merda e manda o meu pai cheirar? Sacanagem. ‘Cheira aí, pai’ (risos). Eu não falo com ele mais. Falta de respeito chamar o meu pai pra ver ele lutar Caratê. Depois disso não falei mais com o Royce. Ele é meu irmão, mas não dá.

E a dieta Gracie, você é adepto?

Certamente. Esse é o sucesso pra você poder se manter. A gente não tem tempo pra ficar doente. Todo dia tem visita na minha academia. A academia é aberta e todo dia chegava um havaiano. “Olha como é isso? Pode me mostrar?” Não tenho tempo pra ficar doente. Jogaram um boato de que eu estava com ataque de coração. Os caras arranjam uma brincadeira ingrata. Eu não tenho tempo nem de ficar doente. Vinte seminários e os caras falam que eu estou doente? Não vem de conversa fiada que eu estou muito ocupado, não tenho tempo nem de ficar doente... tá maluco.

E com relação ao Rickson e as 400 lutas. Você acha que não são verídicas?

Não é que eu acho que não sejam verídicas. O Rickson teve essas lutas sem dúvidas. Ele contou treinos em academias, desafios, contou tudo. A gente sabe que ele tem umas 13 lutas no Japão, de Vale Tudo e duas com o Zulu. A do Hugo Duarte foi briga, mas ele não tem 400 brigas de rua. Ele incluiu as lutas do Sambô, incluiu treino de academia, campeonato, que chamam de luta, mas não são lutas, são treinos. Lutas foram as 14 ou 15 no Japão, de Vale Tudo, e mais umas duas no Brasil. A lá do Olímpico ele não fez, era muito jovem. Ele fez duas com o Zulu e umas 14 no Japão que foram consideradas lutas, em arena. O resto é tudo treino. Quatrocentas lutas... É o que o meu pai falou. Eu não estou dizendo que o Rickson não teve as 400 lutas, ele teve as 400, mas, nesse tipo de luta, o meu pai teve 5000. O meu pai tinha um mercado muito maior pra provar. O meu pai fez mais testes do que o Rickson.

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