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A sabedoria convencional nos diz que o ganho ou perda de peso está no modelo de “calorias para dentro, calorias para fora”, que geralmente se resume no refrão “coma menos, se exercite mais”. Mas uma nova pesquisa revela que a equação é muito mais complexa do que parece, e vários outros fatores estão em jogo.

Pesquisadores de um campo relativamente novo estão olhando para os químicos industriais e aspectos não calóricos das comidas que influenciam no ganho de peso. Os cientistas que estão conduzindo essa pesquisa acreditam que essas substâncias, presentes em muitas comidas, podem estar alterando a maneira como nossos corpos armazenam gordura e regulam nosso metabolismo. Mas nem todos concordam. Muitos cientistas, nutricionistas e médicos acreditam no modelo do balanço energético.

Bruce Blumberg, professor de biologia na Universidade da Califórnia, estuda o efeito dos poluentes orgânicos que são altamente usados pela indústria dos agrotóxicos e nos sistemas de água. Os compostos organoestânicos “mudam a maneira como nosso corpo responde às calorias”, ele afirma. “Os que nós estudamos, o tributilestanho e o trifenilestanho, geram mais, e maiores, células de gordura nos animais expostos. Aqueles que tratamos com esses químicos não têm uma alimentação diferente do que aqueles que não engordam. Eles estão comendo comida comum, mas estão ficando mais gordos”.

Um estudo muito comentado de janeiro trouxe mais lenha para essa discussão: ele confirmaria a crença no modelo do balanço energético, e foi citado por muitos pesquisadores que trabalham no campo. Quando o autor do estudo, George Bray, foi questionado a respeito dos aditivos e ingredientes industriais em nossa comida, ele afirmou que “não faz diferença alguma. As calorias contam. Não há dados que comprovem o contrário”.

Os participantes do estudo de Bray receberam quantidade baixa, normal e alta de proteína, além de mil calorias a mais do que o necessário. O estudo não levou em conta o conteúdo e a forma das calorias, como foram processadas, ou quais aditivos ou químicos industriais estavam presentes.

Bray não acredita que aditivos ou a maneira como os alimentos são processados pode afetar o resultado do estudo. De fato, ele completou uma pesquisa em 2007, que ele se refere como “o estudo Big Mac”, com os participantes recebendo três refeições por dia, durante três dias, com um grupo comendo apenas itens como o Big Mac, e outro comendo apenas “comida caseira”. Bryan diz que o resultados não revelam nenhuma diferença: “Pelo menos nos quesitos como tolerância à glicose, insulina, e outros, não houve diferença. Agora, se você os alimentar por um período maior, é claro que a quantidade vai influenciar muito”.

Outro estudo, realizado pela Universidade de Princeton, indica que o tipo da caloria importa. Os pesquisadores descobriram que ratos que bebiam xarope de milho, com muita frutose, ganhavam mais peso do que aqueles que bebiam água com açúcar, mesmo que o número de calorias fosse o mesmo. Os primeiros animais também exibiram sinais de síndrome metabólica, como ganho de peso anormal, especialmente gordura visceral ao redor da barriga, e aumento significativo dos triglicérideos.

Miriam Bocarsly, autora principal do estudo, afirmou: “A questão das calorias para dentro, calorias para fora, é muito boa e muito debatida no campo. Mas nós temos esse resultado que aconteceu com ratos. Algo é obviamente diferente entre o xarope e a água com açúcar, mas o que será?”.

Blumberg comenta que a frutose, por si só, já é um obesógeno. “A frutose cristalizada não existe na natureza, nós estamos fabricando isso”, afirma. “A frutose não é comida. As pessoas pensam que ela vem da fruta, mas não. A que comemos é sintetizada. Sim, é derivada da comida. Mas cianeto também vem da comida. Você chamaria ele de comida?”.

O neuroendocrinologista Robert H. Lustig também acredita que a frutose é um elemento relacionado à obesidade. “Eu pessoalmente coloco a frutose nos obesógenos. Como a frutose engana o cérebro para que coma mais, ela possui propriedades consistentes para a obesidade”, diz.

Lustig é outro, entre os pesquisadores e médicos, que enxerga o modelo do balanço calórico como falso. “Eu não acredito nesse modelo, centralizado nas calorias”, comenta. “Acredito no do depósito de gordura, que é centrado na insulina. A razão é que, ao alterar a dinâmica da insulina, você pode mudar o consumo calórico e o comportamento relacionado às atividades físicas. Isso tem sido minha pesquisa pelos últimos 16 anos”, conta. A ideia de Lustig é que, ao aumentar a circulação de insulina – geralmente um resultado do consumo exagerado de frutose – as pessoas ficam mais esfomeadas e cansadas, o que resulta em excesso de alimentação e falta de motivação para se exercitar.

Outro possível elemento obesógeno é o bisfenol A (BPA), encontrado em muitos alimentos e materiais de embalagens. O professor Frederick S. vom Saal, da Universidade de Columbia/Missouri, vem estudando isso.

O Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgou que quase todos os americanos testados tinham BPA na urina, “o que indica que há grande exposição da população ao BPA”. Algumas marcas já se pronunciaram, e planejam parar de usar o produto nas latas e embalagens dos alimentos.

Vom Saal acredita que o BPA é apenas o exemplo mais proeminente das várias substâncias presentes em nossa comida que podem nos deixar obesos. “Se as pessoas realmente querem resolver a obesidade, diabetes, e doenças cardiovasculares, não é inteligente ignorar um contribuinte como esse. E nós não estamos obesos apenas por causa do BPA. Também sei que a nicotina e outros químicos influenciam na diabetes e nas doenças metabólicas”.

Se a teoria dos “obesógenos” for aceita, a indústria da comida estará com problemas. Seria difícil promover alimentos diet e “saudáveis” que podem ter menos calorias, mas contém uma série de substâncias que podem contribuir para o aumento de peso.

A ênfase que a indústria coloca nas escolhas pessoais põe o ônus no individuo, e deixa o consumidor com difíceis decisões para fazer sobre os produtos e aditivos industriais. E os produtos não vêm com essas substâncias listadas, já que não é obrigatório.

“As pessoas dizem para mim o tempo todo: ‘O que eu faço?’”, comenta vom Saal. “E a resposta é, não há muito que fazer, porque a indústria não é obrigada a te contar sobre esses químicos. Como evitar algo que você não enxerga?”.

O modelo do balanço energético também coloca a responsabilidade no consumidor, porque a sabedoria convencional é de que as pessoas comem demais.

Será que podemos continuar essa discussão simplesmente em termos de calorias ingeridas? Ou olhar apenas para as categorias tradicionais, como gorduras, proteínas e carboidratos, e lacticínios, carnes, grãos e vegetais? Como há uma proliferação de poluentes industriais nos alimentos ultraprocessados, muitos especialistas acreditam que não

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Postado (editado)

Quase parei de ler ao me deparar com

"Pelo menos nos quesitos como tolerância à glicose..."

Acho bastante complicado ter intolerância à glicose, glicogênio, aminoácidos, etc...

Editado por Dan Hibiki
Postado

talvez seja "sensitivity" o termo mal traduzido aí. Sensibilidade à glicose é uma coisa, tolerância é outra.

Não creio que um "especialista" falaria uma besteira tão grande dessa. Ca^d~e a entrevista original?

Mas enfim, mesmo que a hipótese de substâncias agregadas no processo de industrialização dos produtos favorecam a obesidade, o fator do balanço energético certamente é o maior causador da mesma. A longo prazo, pode ser que esses fatores menores influenciem mesmo, já que até mesmo o câncer provèm da ingestão dessas porcarias.

Postado

As pessoas comem cada vez mais (nao necessariamente no sentido de quantidade, mas principalmente no sentido de alimentos cada vez mais calóricos), ingerem cada vez menos nutrientes e exercícios físicos... piada né?

Tem coisa que nao precisa complicar, incrível como muitos tentam jogar a culpa da obesidade em algum fator rídiculo como "maior consumo de frutose" ao invés de aceitarem que as pessoas que definem seus próprios corpos (salvo raras exceções, é claro). O que realmente está nos tornando gordos é esse estilo de vida de gordo, simples.

(e nao estou falando isso sobre alguem do fórum, pelamor; estou falando sobre nutricionistas/cientistas/afins da atualidade).

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Quase parei de ler ao me deparar com

"Pelo menos nos quesitos como tolerância à glicose..."

Acho bastante complicado ter intolerância à glicose, glicogênio, aminoácidos, etc...

se não tivesse, ia ser complicado.

Ele ta se referindo a expressão de receptores pra insulina nas células, a glicose é circulante.

Você ta pensando em tolerância/intolerância no trato digestivo? Aquela que não há enzimas pra digerir o leite, por exemplo?

E sobre o artigo: tem gente procurando desculpinhas pra um problema que é simples. A sociedade ta cheia de preguiça, ninguém quer mais superar obstáculos e enfrentar dificuldades, só querem achar os verdadeiros demônios.

Postado

se não tivesse, ia ser complicado.

Ele ta se referindo a expressão de receptores pra insulina nas células, a glicose é circulante.

Você ta pensando em tolerância/intolerância no trato digestivo? Aquela que não há enzimas pra digerir o leite, por exemplo?

E sobre o artigo: tem gente procurando desculpinhas pra um problema que é simples. A sociedade ta cheia de preguiça, ninguém quer mais superar obstáculos e enfrentar dificuldades, só querem achar os verdadeiros demônios.

Não, não pensei isso. Só pensei que até hoje nunca ouvi dizer de alguém que tenha intolerância a glicose, do tipo cara precisar de estoque de glicogênio e ter uma reação por intolerância à glicose.

Postado

Não, não pensei isso. Só pensei que até hoje nunca ouvi dizer de alguém que tenha intolerância a glicose, do tipo cara precisar de estoque de glicogênio e ter uma reação por intolerância à glicose.

que? continuo sem entender.

Tolerância aí, na verdade, ele quis dizer resistência periférica. É uma situação em que o organismo faz as células expressarem menos receptores pra a insulina, assim há menos entrada de glicose. Não deixa de ser uma tolerância.

Postado

O problema da obesidade, cada vez mais presente em nosso meio (e já num índice pandêmico), não é ocasionado pela falta de atividade física - hoje em dia fazemos muito mais atividade física que no tempos da antiguidade, nos quais o homem caçava num dia e adquiria alimento por vários dias, não se fazendo necessário tanto deslocamento - mas sim pelo abuso de alimentos cada vez mais carentes de micronutrientes e sobrecarregados com nutrientes vazios, como açúcares simples e gorduras hidrogenadas.

O Jornal da Band já destacou em uma de suas reportagens, meses atrás: Aumento de 54% nos casos de diabetes tipo II para os próximos 20 anos.

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