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" Uma História Que Merece Ser Contada "


Johnn

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É meio grande,mas eu recomendo,vale a pena gastar alguns minutinhos pra ler !

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Odilon

Oliveira condenou, nos últimos dez anos, mais de cem chefões do

narcotráfico. Os bandidos oferecem US$ 1 milhão a quem acabar com ele

Em

cima de um armário de metal, na sala 117 da 3a Vara Federal de Mato

Grosso do Sul, está a imagem de gesso de São Jorge, o santo guerreiro

protetor dos oprimidos. “Uma mulher aqui da cidade me deu essa estátua”,

diz o juiz Odilon Oliveira, com forte sotaque nordestino. “Ela disse

que o santo vai me resguardar.” Na parede, um certificado de bênção do

papa Bento XVI dedicado especialmente ao juiz – presente oferecido por

um padre de uma cidade do interior sul-mato-grossense – reforça a

escolta espiritual. “As pessoas me dão terços, santinhos, estátuas. Elas

rezam para que nada de ruim aconteça comigo”, diz Odilon.

Ele

diz confiar na ajuda divina. Mas, para não dar chance aos inimigos – e

eles são muitos –, um grupo fortemente armado de anjos da guarda se

reveza para manter a segurança do doutor Odilon, como ele é conhecido.

São pelo menos três policiais federais armados com pistolas e fuzis

colados dia e noite no juiz. E toda essa cautela ainda pode ser

insuficiente: Odilon Oliveira é hoje um dos homens mais ameaçados do

Brasil.

Caçador

de traficantes de drogas, ele tem entre seus inimigos – segundo

investigações das polícias do Brasil e do Paraguai – empresários,

políticos e chefes de quadrilhas, como Fernandinho Beira-Mar. Já sofreu

dois atentados e foi alvo de vários planos de assassinato. Semanas

atrás, ÉPOCA presenciou um episódio que mostra a fama do juiz entre a

bandidagem. No dia 21 de novembro, em audiência na penitenciária federal

de segurança máxima de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, Odilon

Oliveira discutia com o colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía, um dos

maiores traficantes de drogas do mundo, sobre um pedido de extradição

feito pelo governo dos Estados Unidos. Ao fim da audiência, o advogado

do traficante comentou com seu cliente: “Esse é o doutor Odilon, um juiz

rígido, muito conhecido por aqui. Temos sorte de seu processo por

tráfico não estar nas mãos dele”. Abadía respondeu de bate-pronto: “Já

ouvi falar dele aqui dentro do presídio. Muitos traficantes foram

condenados por ele”.

Nos

últimos dez anos, Odilon não só condenou centenas de traficantes,

inclusive os chefões, a penas pesadas, como também esvaziou os cofres de

várias quadrilhas. O juiz confiscou 85 fazendas. São 36 mil hectares de

terra, ou três vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro. Ele ainda

apreendeu 166 imóveis, entre casas, apartamentos e terrenos, 564

veículos, 18 aviões, seis embarcações e quase R$ 15 milhões em dinheiro.

Odilon calcula ter causado, com os confiscos, um prejuízo de cerca de

R$ 2 bilhões aos traficantes. “Para o bandido, perder o que ele

conseguiu com o crime é pior que ficar preso. Quando não há confisco de

bens, o criminoso movimenta o dinheiro mesmo estando dentro da cadeia”,

diz Odilon. “E, depois que sai, consegue usufruir o que ganhou.”

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Em

sua passagem por Ponta Porã , em Mato Grosso do Sul, cidade onde

funciona uma espécie de interposto das drogas que vêm do Paraguai, ele

condenou, em um ano, 114 traficantes a penas que somam quase mil anos de

prisão. Saiu de lá para a capital, Campo Grande, e continuou fazendo

estragos na estrutura do crime organizado. Os barões do tráfico passaram

a oferecer dinheiro pela cabeça de Odilon. A primeira oferta, em 1998,

foi de US$ 60 mil. Segundo investigações das polícias do Brasil e do

Paraguai, a oferta hoje está em US$ 1 milhão.

Foram

tantas as tentativas de assassiná-lo que, durante um encontro entre

magistrados de Brasil, Itália, Portugal e Estados Unidos, Odilon foi

homenageado como se tivesse morrido combatendo o crime.

Poucos

anos atrás, um pistoleiro contratado na região chegou perto, segundo o

juiz. Odilon diz que o bandido estava dentro de uma academia de

ginástica, mas não teve coragem de esfaqueá-lo na frente de duas

crianças. “Aquelas duas crianças me salvaram”, diz Odilon. O último

plano de assassinato foi descoberto pela polícia civil de Mato Grosso do

Sul em maio deste ano.

O

traficante Aldo Brandão, considerado um dos líderes da organização

criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em Mato Grosso do Sul,

comandou de dentro da penitenciária estadual de Dourados, naquele

Estado, um plano para matar o juiz, marcado para o Dia das Mães. Segundo

a polícia, Aldo contratou pistoleiros, providenciou uma frota de

caminhonetes, carros de luxo e até um avião para dar suporte à operação.

Os matadores prepararam tudo às escondidas, em sítios de Campo Grande. O

arsenal da missão era digno de filmes de guerra: fuzis AR-15 e AK-47,

várias pistolas e granadas. Caso algum traficante desistisse na última

hora, seria morto com a família. Ao todo, o plano teria custado cerca de

R$ 2 milhões, arrecadados de um consórcio formado por várias

quadrilhas. O plano só não foi adiante porque a polícia o descobriu e

Aldo foi transferido para uma penitenciária federal de segurança máxima.

A

cada novo esquema descoberto, a segurança do juiz aumenta. Ele já morou

em um fórum em Ponta Porã, mas precisou mudar-se por causa de uma

tentativa de invasão. Foi transferido para um hotel de uso exclusivo do

Exército, mas mesmo assim um pistoleiro trocou tiros com a sentinela de

plantão em outra tentativa de invadir o prédio. Hoje poucas pessoas no

Brasil têm um aparato de segurança tão formidável quanto Odilon. Ele só

anda s em carros blindados que suportam tiros de fuzis. É sempre

escoltado por outro carro blindado com policiais federais e antes de

sair de seu escritório ou casa veste um colete à prova de balas. Antes

de entrar em qualquer ambiente, um policial federal armado de fuzil toma

a dianteira para checar a segurança.

Em

sua casa, são agentes de segurança que autorizam a entrada das visitas.

Todos os cômodos têm ramal de interfone e os agentes sabem o celular de

cada um de seus familiares. Na Justiça Federal, onde trabalha,

praticamente todos os ambientes são monitorados por câmeras de TV. Para

falar com Odilon é necessário passar por duas portas equipadas com

detectores de metal e é preciso registrar a imagem e a impressão digital

em um cadastro na portaria do prédio.

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A

ironia é que o juiz vive tão privado de liberdade quanto os bandidos

que ele condena à prisão. “Por causa da minha segurança, tive de abrir

mão da privacidade. Isso é terrível”, diz Odilon.“Tem gente que acha que

andar escoltado por seguranças é ter status. Que bobagem. O fantástico é

ter liberdade.” Odilon é casado há 33 anos com Maria Divina e tem três

filhos. Há um ano e meio ganhou um neto e seu maior ressentimento é não

poder passar mais tempo com o garoto. “Quando um homem tem um neto, é a

última oportunidade de ele revisitar sua infância. É uma pena eu não

poder fazer tudo o que quero com meu neto”, diz.

O

juiz não vai a restaurantes, não freqüenta missas, não visita amigos.

“Eu convivo com ele há anos, e nunca o vi sair para jantar fora”, diz um

dos agentes de sua escolta. Para ir ao casamento de um dos filhos,

precisou ser escoltado por dez agentes de segurança. O doutor Odilon não

se lembra da última vez em que foi fazer compras em um supermercado.

Ele e a esposa deixaram de freqüentar as aulas de dança de salão.

Faz

quatro anos que não aparece na varanda de seu quarto. Seu passatempo é

pendurar uma rede na garagem de casa nos fins de semana e passar horas

lendo. De preferência, livros sobre crime organizado e terrorismo – no

momento está lendo Ilícito, livro-reportagem do jornalista Moises Naim

sobre o tráfico de drogas, de armas e de órgãos humanos.

A

ostentação dos traficantes condenados por Odilon, que se divertiam com

carros de luxo, mansões, iates, helicópteros e até aviões, contrasta com

a simplicidade espartana do juiz. Ele não usa relógio nem anéis. Os

óculos de grau ficam pendurados em seu pescoço, prontos para ajudá-lo a

ler algum documento. Mesmo no calor intenso de Campo Grande, o juiz não

dobra a manga da camisa nem afrouxa a gravata. Sisudo, trata a todos com

formalidade, não faz piadas nem demonstra intimidade com ninguém. Trata

por senhor e senhora a todos com quem conversa. “O senhor, por favor,

tire uma cópia deste documento para mim”, diz a um estagiário. Ele não

fala palavrão. O mais duro ataque que faz a um desafeto é chamá-lo de

“sujeito seboso”. Reflexo da criação rigorosa dada por seus pais.

Odilon

Oliveira nasceu há 58 anos na pequena Exu, cidade do sertão

pernambucano. Terceiro dos oito filhos dos lavradores Expedito e

Domercília, teve uma infância miserável. Passou fome, mas resistiu.

Alguns primos e um irmão não sobreviveram à pobreza. Para evitar novas

mortes, a família fugiu da seca e embarcou na carroceria de um caminhão

para tentar a sorte em Mato Grosso do Sul, Estado que promovia um

programa de colonização. Odilon começou a trabalhar na roça aos 5 anos,

plantando arroz, mandioca e criando galinhas – tudo para subsistência.

Aos 9 anos, começou a estudar incentivado pela mãe. “Meus pais eram

analfabetos, mas na família da minha mãe tinha gente que sabia escrever

cartas. Por isso ela me forçava a estudar”, diz.

Tomou

gosto pelos livros e passou a vender ovos e legumes para poder comprar

lápis e caderno. Virou o centro das atenções da família, que todas as

noites se reunia em torno de um lampião a querosene para ouvir Odilon

ler literatura de cordel. Após terminar o ensino médio, passou no

vestibular de Direito de uma universidade particular de Campo Grande.

Para custear os estudos, trabalhou como professor primário em uma cidade

próxima. Acordava às 4 da manhã e chegava em casa depois da meia-noite.

Formado em Direito, passou em vários concursos públicos. Foi procurador

da União, promotor de justiça, juiz estadual, até chegar, em 1986, ao

cargo que ocupa hoje: juiz federal. Ele é o único da família que

conseguiu um diploma de curso superior.

A

infância sofrida e a adolescência difícil parecem menos cruéis que a

atual realidade do juiz. “Apesar de eu não me arrepender de nada do que

fiz, a vida que eu levo hoje é mais dura. Eu sou uma pessoa mais triste

do que eu era antes”, admite o doutor Odilon. E a miséria maior é que o

juiz vislumbra um futuro ainda mais obscuro. “Eu tenho medo do que vai

ser daqui a 11 anos, quando eu me aposentar. Vou perder a proteção

policial e ainda vai ter muita gente querendo se vingar de mim”, diz.

Sua escolta será reduzida aos santinhos e à imagem de São Jorge, que

descansa em cima de seu armário.

Abraços

Editado por Johnn
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Irônico, um homem que luta para prender gente ruim acaba ficando tão preso quanto eles. Corajoso, muito.

Pois é,é bem irônico mesmo.O que acho injustiça é um cara lutar e colocar a própria vida em risco para o bem maior da sociedade acabar sem proteção quando ele se aposenta.O que você acha que vai acontecer ?

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Um grande homem, é lamentável que viva desse modo, mas infelizmente é a realidade do Brasil, já assisti à inumeras matérias sobre a vida dele. Até que ele tem "sorte" de ter uma escolta como essa antes de ser assassinado, que é o caso de muitos outros juízes, sendo o mais recente a juíza Patrícia, venho à ressaltar que além do odilon tem outros juízes menos "famosos" que também são linha dura e lutam contra a corrupção e a milícia corrupta, infelizmente enquanto o Brasil possuir corruptos em seu governo, o crime organizado vai continuar....

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