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Sensível, Vitor Belfort Abre O Coração E Fala Sobre Família E Vitória No Ufc Rio


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Quando foi campeão do UFC aos 19 anos, Vitor Belfort recebeu o apelido de ''Phenom'', o Fenômeno. Hoje, aos 34 anos, com seu nome consolidado na história do MMA e com enorme importância no crescimento do esporte no Brasil, o lutador viveu uma manhã especial na orla do Leblon, especificamente no Posto 11. Foi ali que ele foi criado, e sonhou que um dia ia se tornar um dos melhores lutadores do mundo em um esporte que, anos atrás, ainda era marginalizado no seu país. Dias depois da vitória sobre Anthony Johnson no UFC Rio, Belfort, que mora em Las Vegas, foi abordado por crianças, adultos e até senhoras. Todos o parabenizaram pela bela exibição na Arena da Barra.

- Foi aqui que passei minha infância e fui criado. Lembro ficar sentado aqui, sonhando em um dia morar nos Estados Unidos, lutar no UFC e ser campeão do mundo - lembrou Vitor.

Um dos sonhos de sua lista foi realizado no último sábado, quando derrotou o rival americano diante de 15 mil brasileiros que fizeram a Arena da Barra tremer ao gritar seu nome. Após o sentimento de euforia e redenção nos braços de seu povo, Vitor, que se denomina um leão faminto no octógono, se transformou em um cordeiro, segundo suas próprias palavras. E ao colocar a fotografia da irmã Priscila, desaparecida há oito anos, em seu corner, ele mostrou que certas lesões e feridas jamais conseguem ser curadas.

- Não deve ter nada mais feliz do que um pai poder reencontrar um filho. Quando você perde ou mãe você vira órfão. Mas quando perde um filho não tem nome para isso. É uma dor sem tamanho. Hoje, como pai, tenho ainda mais noção - disse o lutador, sem esconder as lágrimas.

Justamente no sábado, sua mãe, dona Jovita, completou 58 anos. Segundo ela, os últimos oito aniversários foram marcados por dor, diante da proximidade com a data do desaparecimento da filha. Mas, desta vez, o filho mudou o sentimento para sempre.

- O Vitor mudou minha história. Há oito anos sofro nesta data. Todo aniversário é horrível. Depois de oito anos com muito sofrimento, consegui ter um aniversário feliz. Foi coroado de felicidade.

Além do lado sensível, Vitor Belfort se revelou um chefe de família exemplar, colocando sempre em primeiro plano os três filhos e sua musa, Joana Prado, a quem classifica como seu maior alicerce. O ''Phenom'' também falou do crescimento do Ultimate, revelou não temer lesões graves ou problemas com a perda de peso e confessou estar empolgado para a revanche diante de Wanderlei Silva.

Confira abaixo a entrevista com Belfort:

Você se preocupa as possíveis sequelas que pode ter por causa do esporte?

Outro dia eu estava vendo um filme sobre a vida do Muhammad Ali e pensei nisso. Quando você toma muita pancada na cabeça e o juiz não interfere, você começa a criar pequenas lesões no seu cérebro. No UFC são diversas regras, você não pode chutar adversários no chão, por exemplo. As lesões não te dão sequelas a longo prazo. São mais hematomas, cortes...

Você, como lutador, tem conciência disso. Mas como fica a sua família? Não é difícil assistir suas lutas?

A minha esposa já está acostumada. Meus filhos também vivem minha vida. Eles assistem, fazem parte, praticam, vão ao meu treino e entendem o esporte. A arte marcial tem uma coisa muito bacana: começa sempre com respeito físico e moral. Essa sempre foi a ética do samurai. As crianças entendem, não ficam felizes quando perco. Mas o importante é compreender que não dá para controlar nenhum resultado na vida. O grande lance é entender que posso controlar o que acredito, o que treinei e pratiquei. A minha atitude mediante o resultado. Às vezes você perde porque o outro atleta foi melhor, outras vezes porque ele deu sorte. O importante é estar focado no objetivo. Trabalhar e fazer com honra e dignidade.

Como você trabalha para ter esse controle em uma luta como a de sábado?

No meu caso existia uma pressão muito grande. Estar lutando no Rio pela primeira vez, transmissão na TV aberta, a chance de vencer no Brasil. O outro atleta não foi profissional e não bateu o peso... Muita gente não sabe, mas eu podia não ter aceitado a luta e ganho o dinheiro mesmo assim. Só que eu sou um cara profissional. Eu costumo dizer que, se eu honro Deus e honro a minha família, também vou sempre honrar meu ''boss'', que é meu chefe. Falei para ele que achava um desrespeito, que não gostei. Mas nunca ia deixar ninguém sem esse clássico. Quando eu estava entrando naquela arena, vi as pessoas gritando meu nome na hora que ele me pegava. E depois teve o grito de ''o campeão voltou''. Dias depois, vejo as pessoas me aplaudindo. Como vale viver com dignidade! Essa é minha motivação.

vitorbelfort_praia_amanda-7_30.jpgVitor Belfort contou como funciona a perde de peso

(Foto: Amanda Kestelman / Globoesporte.com)

Quanto você já ganhou de peso dois dias depois da luta?

Meu peso normal é 95, 96 quilos. Eu estava na luta com 93 quilos. Na pesagem bati 84. Eu desidrato. Meu corpo é muito hidratado, eu bebo de seis a dez litros de água por dia. Então eu coloco muita água no meu corpo para quando desidratar não correr nenhum risco de saúde. É um trabalho de nutrição. O grande lance é você inserir alimentos ricos e nutricionais para o corpo. Você é uma máquina e precisa de produtos de alta qualidade. Eu desidrato como se fosse uma esponja molhada que seca. Quando saio da balança, já começo a hidratação. Perco dez quilos em uma semana. Recupero os dez em seis horas.

Depois da luta, da pressão da balança, como você chuta o balde?

Quando você não pode, sempre dá vontade. Mas existe um limite para isso. Não precisa ter desejo o tempo todo. Ainda não fui na churrascaria, nem comi o cheeseburguer que eu gosto. Mas está nos planos. Já comi pizza e nhoque (risos). Depois da luta comi uma pizza, mas a Joana come mais que eu (risos). É única coisa que a gente briga. Uma vez, a nossa empregada fez um filé e eu dividi, pegando o maior para mim. Ela comeu e pediu mais. Quando soube que acabou, brigou comigo. Me chamou de egoísta. Foi engraçado.

Alguém da sua família já te pediu para largar o esporte?

Não. Mas a Joana fica falando que preciso começar a pensar no futuro. Faço parte do presente, fiz parte do passado e ainda estou surfando nessa onda.

Aquela derrota para o Anderson Silva se tornou uma motivação?

Tudo é uma motivação. A derrota serve como aprendizado. A diferença entre o inteligente e o sábio é que o inteligente aprende com seu próprio erro, o sábio aprende com o erro dos outros. Tenho que aprender com meus erros e com os acertos do Anderson. Na época, ele era o campeão e em Las Vegas todo mundo gritava o meu nome. Quando eu entrei e quando eu saí.

E os seus próximos desafios? Você já lutou no Rio sabendo qual seria sua próxima luta...

A próxima luta vai ser contra o Wanderlei. Vou realizar o sonho de participar do Ultimate Fighter. Agora nós vamos poder conhecer os verdadeiros campeões. O Brasil vai criar um exército de campeões e trazer esse esporte para outro patamar, ainda maior. O Wanderlei tem muita qualidade em todas as áreas, um lutador completo. Acho que vai ter muita trocação, parte de chão, de queda. São lutadores explosivos, que buscam nocaute, buscam finalização, são lutadores aguerridos. Vai ser um espetáculo.

Vai ser uma boa revanche...

A palavra revanche serviria mais para ele, mas não vou menosprezar, achar que sou melhor. Somos dois lutadores de alta qualidade, dois campeões. Vamos buscar a vitória. É mais uma montanha para subir. A confiança demasiada se torna arrogância, e baixa se torna derrota. Reconheço o que tenho, o que eu sou.

dsc01514_95.jpgVitor Belfort com a sua mãe: ela voltou a sorrir no aniversário (Foto: Amanda Kestelman / Globoesporte.com)

Falando em espetáculo. O UFC não é apenas um esporte, certo?

O que faz do UFC isso tudo é que ele consegue fazer um esporte virar entretenimento e se tornar também uma referência. Na Fórmula 1 você tem o Ayrton Senna, no UFC você vai ter diversos em um esporte só. De todos os tipos, como o Aldo, de Manaus, pessoas de comunidade carentes e pessoas de famílias ricas.

Como você cuida das lesões imediatamente após a luta?

Meu olho está charmoso. Niguém tem o olho rosa como o meu (risos). Mas o UFC tem uma equipe fantástica. O médico me examinou logo depois. Um hematoma como esse você pode ter na bunda se cair. A lesão foi ao redor do olho. É simples.

Você tem um lado delicado, né?

Não tenho medo de chorar, de reconhecer um erro. Sou um leão no octógono e um cordeiro fora. Sou sensível.

vitorbelfort_praia_amanda-14_30.jpgVitor Belfort se emocionou ao falar da irmã

(Foto: Amanda Kestelman / Globoesporte.com)

Foi desta forma que você se emocionou depois da coletiva, ao falar da sua irmã?

Com certeza. Eu quis abraçar a causa dos desaparecidos. Eu tenho uma cicatriz dela na minha vida, mas eu choro com a dor do próximo. Quando vejo um criança sem futuro, um pai violentando uma criança, quando vejo uma grávida sem estrutura, quando vejo a sociedade sem preocupação com a nossa nação. Todos temos obrigação de entender que somos irmãos. Uma grande família com seus núcleos.

Foi emocionante subir no octógono com a imagem da sua irmã atrás?

Foi muito especial para mim. O disque-denúncia é uma coisa muito séria. Ajudou muito na instalação das UPPs aqui no Rio. As pessoas estão com menos medo. O desaparecimento é uma morte diária. São mais de 300 mil pessoas desaparecidas por ano. O disque-denúncia protege as pessoas que denunciam. Tem que ser solidário um com o outro. Não tem nada mais feliz do que um pai poder reencontrar um filho. Quando você perde a mãe ou o pai, você vira órfão. Mas quando perde um filho não tem nome para isso. É uma dor. Eu, como pai, tenho mais noção agora. Vou sempre abraçar esta causa.

No que exatamente você pensou quando entrou no octógono?

Que eu ia ganhar. De maneira alguma ia sair dali sem a vitória. Eu sabia que era capaz disso e não ia deixar nada acontecer errado. Nem em jogo de futebol eu vi tanta emoção. O Galvão gritando meu nome, com a torcida empurrando. Eu entrar em restaurante e todo mundo levantar cantando: ''O campeão voltou''. É uma alegria que não tem palavras. Ainda mais no aniversário da minha mãe.

Você acha que já enfrentou dores muito maiores fora do octógono?

Já, com certeza. A dor física é uma dor que você, com adrenalina, supera. Seu cérebro envia mensagens para o seu corpo continuar. As dores mais fortes da nossa vida são as dores emocionais. Elas tomam conta, paralisam seu corpo. Levo para minha vida que é importante superar obstáculos com fé. Tudo é possível para quem crê.

A dor física é uma dor que você, com adrenalina, supera. As dores mais fortes da nossa vida são as dores emocionais"

Vitor Belfort

Quando vocês se cumprimentam antes da luta, o que passa na cabeça?

Ali o cordeiro vira leão. O maior respeito que podia ter por ele é lutar da melhor forma.

Qual foi o momento mais complicado do combate?

Quando fui chutar o Johnson e ele agarrou minha perna e acabei caindo de cara. Depois peguei ele no chão com o jiu-jítsu, que foi a base de tudo que eu sei no esporte. É a arte que faz com que o pequeno possa sempre lutar com o grande. Sabia que se ele cometesse um erro eu ia finalizar. Quebrei o espírito dele durante a luta.

Como é ser casado com uma musa como Joana Prado?

Sou um homem abençoado. Tenho três musas na minha vida: Joana, Vitória e Kyara. Costumo dizer na frente de um grande homem sempre tem uma grande mulher. Eu tenho o prazer de ter uma mulher doce, que honra a família e o marido. Além da minha metade, ela é tudo que eu tenho. Eu falo para os meus filhos: eu amo a mamãe, porque se eu amá-la, vou amar vocês com o meu amor. O maior presente para os meus filhos é o nosso bom casamento. Hoje sou um homem na plenitude. Tenho uma família, uma mulher. Consigo ver a mim e a Joana velhos, em uma fazenda, cuidando um do outro. A gente se abre e ela conhece toda minha metade.

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