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Minarquismo me lembra muito o Estado liberal do sec. XIX, que também tinha como princípio o Estado como garantidor apenas dos direitos negativos e que também defendia o capitalismo de livre-mercado na economia. Este certamente foi o Estado que menos interferiu nas liberdades civis do cidadãos.

Porém, o resultado desse modelo de Estado foi a maior exploração do ser humano já vista na história da humanidade...

Abraços

na verdade o resultado desse modelo foi transformar economias rurais e agrícolas como a dos Estados Unidos do século XVIII em gigantescas potências mundiais na virada para o século XX (o modelo foi abolido em 1913)

e não sei se você concorda, mas a maior exploração do ser humano já vista na história da humanidade foi vista justamente pela ideologia contrária: socialismo no leste europeu e nos países asiáticos que o adotaram.

Postado (editado)

na verdade o resultado desse modelo foi transformar economias rurais e agrícolas como a dos Estados Unidos do século XVIII em gigantescas potências mundiais na virada para o século XX (o modelo foi abolido em 1913)

e não sei se você concorda, mas a maior exploração do ser humano já vista na história da humanidade foi vista justamente pela ideologia contrária: socialismo no leste europeu e nos países asiáticos que o adotaram.

Bom, eu ainda acho que a exploração dos trabalhadores na alta revolução industrial foi ainda maior que a que ocorreu nos países comunistas, mas não é isso que quero discutir aqui.

O ponto que quero colocar em pauta é o fato de que, num Estado minárquico, vc acabaria com direitos sociais como os direitos trabalhistas e a proteção ao consumidor. Se as pessoas pudessem negociar seus contratos (civis e trabalhistas) de forma totalmente livre, o que faz parte da proposta do minarquismo, cairíamos na mesmo cenário do sec. XIX: os empresários teriam um crescimento extraordinário nos seus negócios, mas só teriam esse crescimento porque poderiam impor as condições que desejassem aos trabalhadores e aos consumidores. Digo impor porque numa situação como essa as pessoas realmente seriam livres, mas seriam livres para escolher entre trabalhar sob condições desumanas ou morrer de fome.

É por isso que, atualmente, até mesmo campos como o direito civil, que antes era visto como âmbito máximo de realização da autonomia privada, tem esse viés mitigado pela necessidade de se considerar as desigualdades entre as partes contratantes. Uma prova disso é a existência do Código de Defesa do Consumidor, que retira da regência do Código Civil a quase totalidade dos contratos cotidianos como uma forma de buscar a defesa da parte hipossuficiente da relação jurídica.

Abraços

Editado por tguntzel
Postado

Isso tudo acontece hoje, por que o governo impede a livre concorrência. Numa economia com concorrência, os empregadores tem que pagar aos trabalhadores sutilmente acima do valor de mercado, para encorajá-los a não pedir emprego na concorrência.

Sério, esse revisionismo histórico é nojento. São essas ideias que impregnam a maior parte dos estudos históricos que tratam da evolução do industrialismo moderno. Os autores começam esboçando uma imagem idílica das condições prevalecentes no período que antecedeu a Revolução Industrial. Naquele tempo, dizem que os camponeses eram felizes, os artesãos também, com a sua produção doméstica, trabalhavam nos seus chalés e gozavam de independência, já que possuíam um pedaço de jardim e suas próprias ferramentas. Mas, aí o

sistema fabril transformou o trabalhador livre em escravo, reduziu o seu padrão de vida ao mínimo de sobrevivência, abarrotando as fábricas com mulheres e crianças, destruiu a vida familiar e solapou as fundações da sociedade, da moralidade e da saúde pública. Uma pequena minoria de exploradores impiedosos conseguiu habilmente subjugar a imensa maioria.

A verdade é que as condições no período que antecedeu à Revolução Industrial eram muito ruins. O sistema social tradicional não servia para atender às necessidades de uma população em contínuo crescimento. Nem a agricultura nem as guildas conseguiam absorver a mão de obra adicional. A vida mercantil estava impregnada de privilégios e monopólios, seus instrumentos institucionais eram as licenças e as cartas patentes, sua filosofia era a restrição e a proibição de competição, tanto interna como externa.

O sistema fabril desenvolveu-se, tendo de lutar contra o preconceito popular, os velhos costumes tradicionais, as normas e regulamentos vigentes, a má vontade das autoridades, os interesses estabelecidos dos grupos privilegiados, a inveja das guildas. O capital fixo das firmas individuais era insuficiente, a obtenção de crédito muito difícil e cara. Faltava experiência tecnológica e comercial. A maior parte dos proprietários de fábricas faliu; comparativamente, foram poucos os bem-sucedidos. Os lucros, às vezes, eram consideráveis, mas as perdas também eram. Foram necessárias muitas décadas para que se estabelecesse o costume de reinvestir a maior parte dos lucros e a consequente acumulação de capital possibilitasse a produção em maior escala.

A prosperidade das fábricas, apesar de todos esses entraves, pode ser atribuída a duas razões: primeiro aos ensinamentos dos economistas do laissez-faire. segundo, as fábricas aliviaram as autoridades e a aristocracia rural de um embaraçoso problema que estas já não tinham como resolver: proporcionavam trabalho às massas pobres que, dessa maneira, podiam ganhar seu sustento; esvaziaram os asilos, as casas de correção e as prisões. Converteram mendigos famintos em pessoas capazes de ganhar o seu próprio pão.

Os proprietários das fábricas não tinham poderes para obrigar ninguém a aceitar um emprego nas suas empresas. Podiam apenas contratar pessoas que quisessem trabalhar pelos salários que lhes eram oferecidos. Mesmo que esses salários fossem baixos, eram ainda assim muito mais do que aqueles indigentes poderiam ganhar em qualquer outro lugar. É uma distorção dos fatos dizer que as fábricas arrancaram as donas de casa de seus lares ou as crianças de seus brinquedos. Essas mulheres não tinham como alimentar os seus filhos. Essas crianças estavam carentes e famintas. Seu único refúgio era a fábrica; salvou-as, no estrito senso do termo, de morrer de fome.

É deplorável que tal situação existisse. Mas, se quisermos culpar os responsáveis, não devemos acusar os proprietários das fábricas, que — certamente movidos pelo egoísmo e não pelo altruísmo — fizeram todo o possível para erradicá-la. O que causava esses males era a ordem econômica do período pré-capitalista, a ordem daquilo que, pelo que se infere da leitura das obras destes historiadores, eram os "bons velhos tempos".

A produção artesanal das épocas anteriores abastecia quase que exclusivamente os mais ricos. Sua expansão estava limitada pelo volume de produtos de luxo que o estrato mais rico da população pudesse comprar. Quem não estivesse engajado na produção de bens primários só poderia ganhar a vida se as classes superiores estivessem dispostas a utilizar os seus serviços ou o seu talento. Mas eis que surge um novo princípio: os artigos produzidos não se destinavam apenas ao consumo dos mais abastados, mas ao consumo daqueles cujo papel como consumidores era, até então, insignificante. Coisas baratas, ao alcance do maior número possível de pessoas, era o objetivo do sistema fabril. A indústria típica dos primeiros tempos da Revolução Industrial era a tecelagem de algodão. os ricos preferiam a seda, o linho, a cambraia. Sempre que a fábrica, com os seus métodos de produção mecanizada, invadia um novo setor de produção, começava fabricando artigos baratos para consumo das massas. As fábricas só se voltaram para a produção de artigos mais refinados, e portanto mais caros, em um estágio posterior, quando a melhoria sem precedentes no padrão de vida das massas tornou viável a aplicação dos métodos de produção em massa também aos artigos melhores.

Assim, por exemplo, os sapatos fabricados em série eram comprados apenas pelos "proletários", enquanto os consumidores mais ricos continuavam a encomendar sapatos sob medida. As tão malfaladas fábricas que exploravam os trabalhadores, exigindo-lhes trabalho excessivo e pagando-lhes salário de fome, não produziam roupas para os ricos, mas para pessoas cujos recursos eram modestos. Os homens e mulheres elegantes preferiam, e ainda preferem, ternos e vestidos feitos pelo alfaiate e pela costureira.

O fato marcante da Revolução Industrial foi o de ela ter iniciado uma era de produção em massa para atender às necessidades das massas. Os assalariados já não são mais pessoas trabalhando exaustivamente para proporcionar o bem-estar de outras pessoas; são eles mesmos os maiores consumidores dos produtos que as fábricas produzem. A grande empresa depende do consumo de massa. Em um livre mercado, não há uma só grande empresa que não atenda aos desejos das massas. A própria essência da atividade empresarial capitalista é a de prover para o homem comum. Na qualidade de consumidor, o homem comum é o soberano que, ao comprar ou ao se abster de comprar, decide os rumos da atividade empresarial. Na economia de mercado não há outro meio de adquirir e preservar a riqueza, a não ser fornecendo às massas o que elas querem, da maneira melhor e mais barata possível. muitos historiadores e escritores não chegam a perceber esse fato fundamental. Segundo eles, os assalariados labutam arduamente em benefício de outras pessoas. Nunca questionaram quem são essas "outras" pessoas.

Em 1770 a Inglaterra tinha 8,5 milhões de habitantes, em 1830 a população era de 16 milhões. Esse aumento se deve principalmente à Revolução Industrial.

Os primeiros industriais foram, em sua maioria, homens oriundos da mesma classe social que os seus operários. Viviam muito modestamente, gastavam no consumo familiar apenas uma parte dos seus ganhos e reinvestiam o resto no seu negócio. Mas, à medida que os empresários enriqueciam, seus filhos começaram a frequentar os círculos da classe dominante. Os cavalheiros de alta linhagem invejavam a riqueza dos novos-ricos e se indignavam com a simpatia que estes devotavam às reformas que estavam ocorrendo. Revidaram investigando as condições morais e materiais de trabalho nas fábricas e editando a legislação trabalhista.

A história do capitalismo na Inglaterra, assim como em todos os outros países capitalistas, é o registro de uma tendência incessante de melhoria do padrão de vida dos assalariados. Essa evolução coincidiu, por um lado, com o desenvolvimento da legislação trabalhista e com a difusão do sindicalismo, e, por outro, com o aumento da produtividade marginal. Os economistas afirmam que a melhoria nas condições materiais dos trabalhadores se deve ao aumento da quota de capital investido per capita e ao progresso tecnológico decorrente desse capital adicional. A legislação trabalhista e a pressão sindical, na medida em que não impunham a concessão de vantagens superiores àquelas que os trabalhadores teriam de qualquer maneira, em virtude de a acumulação de capital se processar em ritmo maior do que o aumento populacional, eram supérfluas. Na medida em que ultrapassaram esses limites, foram danosas aos interesses das massas. Atrasaram a acumulação de capital, diminuindo assim o ritmo de crescimento da produtividade marginal e dos salários. Privilegiaram alguns grupos de assalariados às custas de outros grupos. Criaram o desemprego em grande escala e diminuíram a quantidade de produtos que os trabalhadores, como consumidores, teriam à sua disposição.

Os defensores da intervenção do governo na economia e do sindicalismo atribuem toda melhoria da situação dos trabalhadores às ações dos governos e dos sindicatos. Se não fosse por isso, dizem que o padrão de vida atual dos trabalhadores não seria maior do que nos primeiros anos da Revolução Industrial. A maioria dos autores que escreveu sobre a história das condições de trabalho no sistema capitalista era ignorante em economia e disso se vangloriava. Em várias regiões a influência do capitalismo moderno é apenas superficial. A situação nesses países, de uma maneira geral, não difere muito da que prevalecia na Inglaterra no início da "Revolução Industrial". Existem milhões de pessoas que não encontram um lugar seguro no sistema econômico vigente. Só a industrialização pode melhorar a sorte desses desafortunados; para isso, o que mais necessitam é de empresários e de capitalistas. Como políticas privaram essas nações do benefício que a importação de capitais estrangeiros lhes proporcionaria, precisam percorrer todos os estágios pelos quais a industrialização do Ocidente teve de passar. Precisam começar com salários relativamente baixos e com longas jornadas de trabalho. Mas, iludidos pelas doutrinas prevalecentes hoje em dia na Europa Ocidental e na América do Norte, seus dirigentes pensam que poderão consegui-lo de outra maneira. Encorajam a pressão sindical e promovem uma legislação pretensamente favorável aos trabalhadores. Esse radicalismo intervencionista aborta a criação de uma indústria doméstica.

Postado (editado)

Isso tudo acontece hoje, por que o governo impede a livre concorrência. Numa economia com concorrência, os empregadores tem que pagar aos trabalhadores sutilmente acima do valor de mercado, para encorajá-los a não pedir emprego na concorrência.

Sério, esse revisionismo histórico é nojento. São essas ideias que impregnam a maior parte dos estudos históricos que tratam da evolução do industrialismo moderno. Os autores começam esboçando uma imagem idílica das condições prevalecentes no período que antecedeu a Revolução Industrial. Naquele tempo, dizem que os camponeses eram felizes, os artesãos também, com a sua produção doméstica, trabalhavam nos seus chalés e gozavam de independência, já que possuíam um pedaço de jardim e suas próprias ferramentas. Mas, aí o

sistema fabril transformou o trabalhador livre em escravo, reduziu o seu padrão de vida ao mínimo de sobrevivência, abarrotando as fábricas com mulheres e crianças, destruiu a vida familiar e solapou as fundações da sociedade, da moralidade e da saúde pública. Uma pequena minoria de exploradores impiedosos conseguiu habilmente subjugar a imensa maioria.

A verdade é que as condições no período que antecedeu à Revolução Industrial eram muito ruins. O sistema social tradicional não servia para atender às necessidades de uma população em contínuo crescimento. Nem a agricultura nem as guildas conseguiam absorver a mão de obra adicional. A vida mercantil estava impregnada de privilégios e monopólios, seus instrumentos institucionais eram as licenças e as cartas patentes, sua filosofia era a restrição e a proibição de competição, tanto interna como externa.

O sistema fabril desenvolveu-se, tendo de lutar contra o preconceito popular, os velhos costumes tradicionais, as normas e regulamentos vigentes, a má vontade das autoridades, os interesses estabelecidos dos grupos privilegiados, a inveja das guildas. O capital fixo das firmas individuais era insuficiente, a obtenção de crédito muito difícil e cara. Faltava experiência tecnológica e comercial. A maior parte dos proprietários de fábricas faliu; comparativamente, foram poucos os bem-sucedidos. Os lucros, às vezes, eram consideráveis, mas as perdas também eram. Foram necessárias muitas décadas para que se estabelecesse o costume de reinvestir a maior parte dos lucros e a consequente acumulação de capital possibilitasse a produção em maior escala.

A prosperidade das fábricas, apesar de todos esses entraves, pode ser atribuída a duas razões: primeiro aos ensinamentos dos economistas do laissez-faire. segundo, as fábricas aliviaram as autoridades e a aristocracia rural de um embaraçoso problema que estas já não tinham como resolver: proporcionavam trabalho às massas pobres que, dessa maneira, podiam ganhar seu sustento; esvaziaram os asilos, as casas de correção e as prisões. Converteram mendigos famintos em pessoas capazes de ganhar o seu próprio pão.

Os proprietários das fábricas não tinham poderes para obrigar ninguém a aceitar um emprego nas suas empresas. Podiam apenas contratar pessoas que quisessem trabalhar pelos salários que lhes eram oferecidos. Mesmo que esses salários fossem baixos, eram ainda assim muito mais do que aqueles indigentes poderiam ganhar em qualquer outro lugar. É uma distorção dos fatos dizer que as fábricas arrancaram as donas de casa de seus lares ou as crianças de seus brinquedos. Essas mulheres não tinham como alimentar os seus filhos. Essas crianças estavam carentes e famintas. Seu único refúgio era a fábrica; salvou-as, no estrito senso do termo, de morrer de fome.

É deplorável que tal situação existisse. Mas, se quisermos culpar os responsáveis, não devemos acusar os proprietários das fábricas, que — certamente movidos pelo egoísmo e não pelo altruísmo — fizeram todo o possível para erradicá-la. O que causava esses males era a ordem econômica do período pré-capitalista, a ordem daquilo que, pelo que se infere da leitura das obras destes historiadores, eram os "bons velhos tempos".

A produção artesanal das épocas anteriores abastecia quase que exclusivamente os mais ricos. Sua expansão estava limitada pelo volume de produtos de luxo que o estrato mais rico da população pudesse comprar. Quem não estivesse engajado na produção de bens primários só poderia ganhar a vida se as classes superiores estivessem dispostas a utilizar os seus serviços ou o seu talento. Mas eis que surge um novo princípio: os artigos produzidos não se destinavam apenas ao consumo dos mais abastados, mas ao consumo daqueles cujo papel como consumidores era, até então, insignificante. Coisas baratas, ao alcance do maior número possível de pessoas, era o objetivo do sistema fabril. A indústria típica dos primeiros tempos da Revolução Industrial era a tecelagem de algodão. os ricos preferiam a seda, o linho, a cambraia. Sempre que a fábrica, com os seus métodos de produção mecanizada, invadia um novo setor de produção, começava fabricando artigos baratos para consumo das massas. As fábricas só se voltaram para a produção de artigos mais refinados, e portanto mais caros, em um estágio posterior, quando a melhoria sem precedentes no padrão de vida das massas tornou viável a aplicação dos métodos de produção em massa também aos artigos melhores.

Assim, por exemplo, os sapatos fabricados em série eram comprados apenas pelos "proletários", enquanto os consumidores mais ricos continuavam a encomendar sapatos sob medida. As tão malfaladas fábricas que exploravam os trabalhadores, exigindo-lhes trabalho excessivo e pagando-lhes salário de fome, não produziam roupas para os ricos, mas para pessoas cujos recursos eram modestos. Os homens e mulheres elegantes preferiam, e ainda preferem, ternos e vestidos feitos pelo alfaiate e pela costureira.

O fato marcante da Revolução Industrial foi o de ela ter iniciado uma era de produção em massa para atender às necessidades das massas. Os assalariados já não são mais pessoas trabalhando exaustivamente para proporcionar o bem-estar de outras pessoas; são eles mesmos os maiores consumidores dos produtos que as fábricas produzem. A grande empresa depende do consumo de massa. Em um livre mercado, não há uma só grande empresa que não atenda aos desejos das massas. A própria essência da atividade empresarial capitalista é a de prover para o homem comum. Na qualidade de consumidor, o homem comum é o soberano que, ao comprar ou ao se abster de comprar, decide os rumos da atividade empresarial. Na economia de mercado não há outro meio de adquirir e preservar a riqueza, a não ser fornecendo às massas o que elas querem, da maneira melhor e mais barata possível. muitos historiadores e escritores não chegam a perceber esse fato fundamental. Segundo eles, os assalariados labutam arduamente em benefício de outras pessoas. Nunca questionaram quem são essas "outras" pessoas.

Em 1770 a Inglaterra tinha 8,5 milhões de habitantes, em 1830 a população era de 16 milhões. Esse aumento se deve principalmente à Revolução Industrial.

Os primeiros industriais foram, em sua maioria, homens oriundos da mesma classe social que os seus operários. Viviam muito modestamente, gastavam no consumo familiar apenas uma parte dos seus ganhos e reinvestiam o resto no seu negócio. Mas, à medida que os empresários enriqueciam, seus filhos começaram a frequentar os círculos da classe dominante. Os cavalheiros de alta linhagem invejavam a riqueza dos novos-ricos e se indignavam com a simpatia que estes devotavam às reformas que estavam ocorrendo. Revidaram investigando as condições morais e materiais de trabalho nas fábricas e editando a legislação trabalhista.

A história do capitalismo na Inglaterra, assim como em todos os outros países capitalistas, é o registro de uma tendência incessante de melhoria do padrão de vida dos assalariados. Essa evolução coincidiu, por um lado, com o desenvolvimento da legislação trabalhista e com a difusão do sindicalismo, e, por outro, com o aumento da produtividade marginal. Os economistas afirmam que a melhoria nas condições materiais dos trabalhadores se deve ao aumento da quota de capital investido per capita e ao progresso tecnológico decorrente desse capital adicional. A legislação trabalhista e a pressão sindical, na medida em que não impunham a concessão de vantagens superiores àquelas que os trabalhadores teriam de qualquer maneira, em virtude de a acumulação de capital se processar em ritmo maior do que o aumento populacional, eram supérfluas. Na medida em que ultrapassaram esses limites, foram danosas aos interesses das massas. Atrasaram a acumulação de capital, diminuindo assim o ritmo de crescimento da produtividade marginal e dos salários. Privilegiaram alguns grupos de assalariados às custas de outros grupos. Criaram o desemprego em grande escala e diminuíram a quantidade de produtos que os trabalhadores, como consumidores, teriam à sua disposição.

Os defensores da intervenção do governo na economia e do sindicalismo atribuem toda melhoria da situação dos trabalhadores às ações dos governos e dos sindicatos. Se não fosse por isso, dizem que o padrão de vida atual dos trabalhadores não seria maior do que nos primeiros anos da Revolução Industrial. A maioria dos autores que escreveu sobre a história das condições de trabalho no sistema capitalista era ignorante em economia e disso se vangloriava. Em várias regiões a influência do capitalismo moderno é apenas superficial. A situação nesses países, de uma maneira geral, não difere muito da que prevalecia na Inglaterra no início da "Revolução Industrial". Existem milhões de pessoas que não encontram um lugar seguro no sistema econômico vigente. Só a industrialização pode melhorar a sorte desses desafortunados; para isso, o que mais necessitam é de empresários e de capitalistas. Como políticas privaram essas nações do benefício que a importação de capitais estrangeiros lhes proporcionaria, precisam percorrer todos os estágios pelos quais a industrialização do Ocidente teve de passar. Precisam começar com salários relativamente baixos e com longas jornadas de trabalho. Mas, iludidos pelas doutrinas prevalecentes hoje em dia na Europa Ocidental e na América do Norte, seus dirigentes pensam que poderão consegui-lo de outra maneira. Encorajam a pressão sindical e promovem uma legislação pretensamente favorável aos trabalhadores. Esse radicalismo intervencionista aborta a criação de uma indústria doméstica.

Primeiramente, eu nem sequer citei a época pré-industrial em tudo que eu falei e muito menos disse que era uma época feliz onde todos viviam bem.

Você também citou vários benefícios que a revolução industrial trouxe à população e eu concordo com eles. É óbvio que essa mudança nos modos de produção não gerou apenas dor e sofrimento, eu nunca disse que eu era contra o modo industrial de produção, sou contra apenas a liberdade total do sistema econômico.

Além disso, você também disse que a livre-iniciativa acabaria por dar ao empregado um certo poder de barganha perante o empregador, já que aquele poderia se demitir de seu trabalho caso seu patrão não atendesse às sua exigências. No entanto, isso funcionaria apenas no ambiente onde a demanda por trabalhadores fosse suficiente para absorver toda a oferta de mão de obra, ou seja, tal estrutura só seria possível no fantasioso esquema econômico onde houvesse 0% de desemprego. Do contrário, sempre haveria a possibilidade dos empresários se valerem dessa massa de desempregados como uma reserva de emergência para suprir a falta dos empregados mais rebeldes.

Também devo dizer que, se as leis trabalhistas não são necessárias para garantir boas condições aos trabalhadores, elas nem deveriam fazer diferença na economia. As empresas são obrigadas a fornecer uma serie de benefícios aos trabalhadores, mas esses benefícios, segundo você disse, já seriam concedidos de livre e espontânea vontade pelos empresários que seriam obrigados a isso pela própria conjuntura do mercado. Então eu pergunto: se aquilo que as leis obrigam as empresas a fazer já seria feito mesmo se tal legislação não existisse, como é, então, que essas leis estão impedindo o livre-mercado?

Outra crítica que faço à sua visão do mercado econômico, é que você parece imaginá-lo como uma concorrência perfeita. Entretanto, o que impediria as empresas de uma mesma área de criarem uma associação para combinar o salário a ser pago aos trabalhadores e que, assim, acabasse com essa possibilidade deles de migrarem de fábrica em fábrica a procura de melhores condições de trabalho? Ou então, o que impediria uma empresa de crescer tanto a ponto de monopolizar o mercado em que atua e assim controlar o preço de determinado produto?

Além disso, existem certos serviços que são monopolísticos por natureza, como o fornecimento de água, por exemplo. Você acha mesmo que é possível deixar serviços como esse sob comando de um empresa privada regida pelas mesmas leis que as outras? Essa empresa poderia simplesmente cortar o fornecimento de água de toda uma cidade toda vez que isso fosse conveniente a ela.

Outra coisa com a qual eu não concordo é com o que você disse sobre os intervencionistas defenderem essa posição por serem leigos em economia. Se é assim, me diga então por quê a maioria dos economistas, mesmo entre os mais liberais, defende, em maior ou menor grau, algum tipo de intervenção estatal na economia?

Abraço

Editado por tguntzel
Postado (editado)

Falando em Hayek, quem estiver interessado em adquirir um conhecimento básico sobre a discussão intervencionistas vs. liberalistas indico que assistam o vídeo abaixo, que passa essas informações de um modo bastante descontraído...

Tá em inglês, mas dá pra colocar legendas.

Abraços

Editado por tguntzel
Postado (editado)

Primeiramente, eu nem sequer citei a época pré-industrial em tudo que eu falei e muito menos disse que era uma época feliz onde todos viviam bem.

Você também citou vários benefícios que a revolução industrial trouxe à população e eu concordo com eles. É óbvio que essa mudança nos modos de produção não gerou apenas dor e sofrimento, eu nunca disse que eu era contra o modo industrial de produção, sou contra apenas a liberdade total do sistema econômico.

Desculpe.

Além disso, você também disse que a livre-iniciativa acabaria por dar ao empregado um certo poder de barganha perante o empregador, já que aquele poderia se demitir de seu trabalho caso seu patrão não atendesse às sua exigências. No entanto, isso funcionaria apenas no ambiente onde a demanda por trabalhadores fosse suficiente para absorver toda a oferta de mão de obra, ou seja, tal estrutura só seria possível no fantasioso esquema econômico onde houvesse 0% de desemprego. Do contrário, sempre haveria a possibilidade dos empresários se valerem dessa massa de desempregados como uma reserva de emergência para suprir a falta dos empregados mais rebeldes.

Não é necessário que exista 0% de desemprego, porque a oferta de trabalhadores não é homogênea, ou seja, um trabalhador e um desempregado não são perfeitamente substitutos, por questões de confiança, treinamento, experiência, etc. Na verdade são poucos os casos em que existe essa perfeita substituição entre trabalhadores, como em subempregos em que não é necessário praticamente nenhum treinamento. Essa questão do "exército de reserva industrial" não se aplica atualmente, em um mundo de alta diferenciação da mão-de-obra

Também devo dizer que, se as leis trabalhistas não são necessárias para garantir boas condições aos trabalhadores, elas nem deveriam fazer diferença na economia. As empresas são obrigadas a fornecer uma serie de benefícios aos trabalhadores, mas esses benefícios, segundo você disse, já seriam concedidos de livre e espontânea vontade pelos empresários que seriam obrigados a isso pela própria conjuntura do mercado. Então eu pergunto: se aquilo que as leis obrigam as empresas a fazer já seria feito mesmo se tal legislação não existisse, como é, então, que essas leis estão impedindo o livre-mercado?

Na verdade fazem diferença sim, porque apesar dos empregados atuais manterem suas condições sem elas, você precisa considerar todos os empregos que não são criados porque empresários entrantes ainda não têm condicões de arcar com os custos trabalhistas. Direitos trabalhistas agradam as big corporations, exatamente porque aleija os novos competidores que não têm um aparato financeiro e jurídico para seguir as leis. Além disso, leis que obrigam o empregador a pagar coisas como alimentacão, transporte, seguro saúde, previdência, somente reduzem o salário do empregado, porque para o empregador não faz diferença se ele esta pagando 1000$ em salário ou 500$ em salário e 500$ em benefícios. Mas ele não vai pagar 1000$ em salario mais 500$ em benefícios, porque afinal empresa não faz caridade e não paga mais do que o trabalhador produz.

Outra crítica que faço à sua visão do mercado econômico, é que você parece imaginá-lo como uma concorrência perfeita. Entretanto, o que impediria as empresas de uma mesma área de criarem uma associação para combinar o salário a ser pago aos trabalhadores e que, assim, acabasse com essa possibilidade deles de migrarem de fábrica em fábrica a procura de melhores condições de trabalho? Ou então, o que impediria uma empresa de crescer tanto a ponto de monopolizar o mercado em que atua e assim controlar o preço de determinado produto?

A suposição de concorrência perfeita não é necessária, e pelo contrario, é danosa para esta análise. Em CP, não há concorrência nenhuma, porque se existe informação perfeita, produto perfeitamente homogêneo, etc, não existe nenhuma outra solução senão o hipotético equilíbrio. A única suposição necessária é a existencia de livre-entrada, o que significa inexistência de barreiras institucionais à entrada - leia-se governo intervencionista - de produtores. Se existe livre-entrada, cartéis nao conseguem ser estáveis, seja pelos problemas previstos pela teoria dos jogos (payoff de trair é sempre melhor do que o de cooperar), seja pela entrada de novas empresas que podem oferecer um produto melhor e/ou mais barato. Um monopólio (no sentido de uma única empresa como ofertante) não pode controlar o preço unilateralmente, seja porque existe a limitacão do lado da demanda, seja porque ele precisa manter um preço-limite - um preço que não compense a entrada de novos competidores (dado a existência de livre-entrada, que é o que acontece quando o governo não se mete).

Além disso, existem certos serviços que são monopolísticos por natureza, como o fornecimento de água, por exemplo. Você acha mesmo que é possível deixar serviços como esse sob comando de um empresa privada regida pelas mesmas leis que as outras? Essa empresa poderia simplesmente cortar o fornecimento de água de toda uma cidade toda vez que isso fosse conveniente a ela.

É preciso compreender que o mercado é dinâmico, e que não existe o perfeito monopólio em nenhum caso. Se uma empresa abusa de um chamado "monopólio natural", isso abre a brecha para inovações e uma feroz tentativa de controlar este dado mercado (afinal quem não quer ter uma empresa monopolista?). Além disso, a melhor maneira de lidar com esse tipo de possível abuso é deixar o mercado o mais aberto possivel, de modo que o monopolista não esteja deitado sobre um colchão de molas, mas sim sobre uma cama de pregos. Se você institucionaliza o monopólio via governo, aí é que a possibilidade de abusos cresce ainda mais, visto que não existe nenhuma concorrência latente, nem substituição de bens (o consumidor só pode sentar, chorar, e reclamar do governo, o que não resulta em nada).

Outra coisa com a qual eu não concordo é com o que você disse sobre os intervencionistas defenderem essa posição por serem leigos em economia. Se é assim, me diga então por quê a maioria dos economistas, mesmo entre os mais liberais, defende, em maior ou menor grau, algum tipo de intervenção estatal na economia?

Não disse isso. Disse que boa parte dos autores que escreveram sobre as condições de trabalho na revolução industrial eram assim, como John Hammond e Sidney Webb e suas esposas.

Abraço

Outro.

edit: umas paradas pequenas

Editado por AmericanHero

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