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Como Se Tornar Um Culturista - A Série


vicbelletti

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Creditos - por Miguel Chain

Episódio III – O Primeiro Treino de Verdade

Mais tarde naquele dia, depois de fazer a aposta, fiquei pensando se havia feito um bom negócio. Valia mesmo a pena ajudar tanto assim aquele menino? Por mais que eu tentasse me desligar daquilo, aqueles pensamentos sempre me voltavam a minha cabeça. Esse Leo não parece gostar tanto assim de musculação. Ele também não parecia ter a tenacidade e dedicação necessários para enfrentar os rigores de treinos árduos e dieta mais que espartana. Logo depois eu tentava me iludir e me convencer de que o menino se superaria e o mais importante: Superaria as minhas expectativas. Ele tinha cacife para isso, ele tinha todas as ferramentas necessárias. Seria ele destinado ao sucesso? Seria eu a pessoa capaz de fazer com que o Leo atingisse todo seu potencial? Não sei…

Nosso segundo treino seria na próxima manhã. Eu nem sabia se o leo acordava cedo ou não. As Dez em ponto eu estava na academia. Para minha surpresa ele estava lá a minha espera, sentado lendo uma Boa Forma.

“Vamos treinar!” falei alto para ver o estado de alerta do rapaz. Ele quase pulou do banco onde estava sentado. O susto foi grande.

Já refeito do susto, Leo levanta-se e vem me cumprimentar. Percebi que ele estava andando de uma maneira meio estranha. “O que foi Leo? Você está com dor nas pernas?” Disse sorrindo. “Vai pro Inferno Miguel! Minhas pernas estão me matando, não consigo nem me sentar!” Nesse instante Leo se vira e ruma para a esteira. Suas pernas não se dobravam ao andar, parecia que ele andava tentando mantê-las separadas uma da outra. Parecia que estava assado.

O Agachamento pode ser um exercício ótimo para desenvolver as pernas, mas os resultados no outro dia, ou no próximo são devastadoras para aqueles que ainda não estão muito acostumados a fazê-lo. Invariavelmente vejo pessoas realizando o exercício com uma forma incorreta, o que pode ser mortal mais adiante, quando a pessoa fica mais forte e começa a utilizar cargas mais altas.

Enquanto nosso futuro Herói se aquecia e soltava as pernas na esteira, eu conversava com o Ricardo, dono da academia e testemunha da aposta. “É Chain, você não acha que essa aposta foi um pouco demais? De qualquer forma você perde. O cara quer sua ajuda e você, além de ajudar de graça vai ter que fazer aposta para motiva-lo? Será que isso vale a pena?” Aquela mesma pergunta voltava à tona – Será que vale tanto esforço para ajudar esse menino? – Sempre confiei muito na intuição do Ricardo, até aquele dia ele nunca havia se enganado sobre o possível desempenho de uma pessoa dentro da academia. Mas só até aquele dia, pois o Leo iria mostrar para todos que podia fazer o impossível. Pelo menos era isso que eu esperava.

Fiquei extremamente decepcionado com o fato do Leo ter abandonado o treino no dia anterior. Ele poderia ter feito tudo menos deixar o treino e ir fazer o que bem entendia. Hoje as coisas deveriam ser diferentes e eu precisava mostrar para ele quem realmente mandava. Era dia de costas e eu pretendia mostrar mais um dos exercícios básicos da musculação que pouca gente fazia – A Barra Fixa – com tantas máquinas sofisticadas hoje em dia e tanta facilidade na hora de fazer as puxadas no dia de costas, a barra fixa se tornou uma coisa esquecida em algumas academias. Não digo que se tornaram inúteis, pois muita gente se pendura nelas para se alongar, mas quase ninguém a usa para puxar o próprio corpo para cima e treinar os dorsais.

“Está preparado agora? As pernas melhoraram?” Como se eu não soubesse a resposta… “Não Miguel. As dores passaram um pouco, só está um pouco complicado para andar mas vamos para o treino!”

Desta vez ele não ia me escapar, era preciso estabelecer algumas regras e deixar bem claro que o não cumprimento delas acarretaria sérias conseqüências. “leo, você já fez barra fixa alguma vez na sua vida? Alguma vez você já puxou esses noventa e tantos quilos para cima?” A resposta veio rapidamente e não soou muito confiante. ” Nunca fiz Miguel, mas hoje prometo que farei o que você me pedir ou mandar.” Algo me dizia que eu não poderia confiar muito naquela promessa mas resolvi arriscar. “Hoje você vai fazer barra fixa. Sei que você é meio pesado e que talvez não vá conseguir fazer o número esperado de repetições por série. Então vou te dar uma colher de chá, faça quantas repetições for possível e depois descanse um pouco para fazer a próxima série, ok?” O pupilo prontamente respondeu- “Sim Senhor! Serão três ou quatro séries?” Coitado, nem sabia o que viria pela frente. ” Leo, serão 120 repetições. A idéia era fazer 12 séries de dez, mas como eu sabia que você não iria agüentar isso hoje, resolvi deixar que você faça as 120 repetições da forma que quiser. Podem ser 20 séries de seis ou cento e vinte séries de uma repetição, não importa. Só quero que faça as cento e vinte.” O desconsolo e o desespero se tornaram evidentes no rosto de nosso futuro herói e por um momento a imagem dele fugindo correndo pela academia e pulando a catraca da portaria me veio á cabeça.

No momento seguinte vi um semblante de resignação, de determinação no rosto de Leo. Era a sua segunda personalidade aparecendo, talvez Leo fosse um daqueles caras que se torna outra pessoa em situações de stress extremo. Ele se pendurou na barra, amarrou os straps e fez oito repetições com algum esforço. Assim que ele desceu ele ,e olhou e disse- “Meu, só faltam 112!! É sério que vou ter que fazer tudo isso?” A minha resposta foi como um tapa na cara de Leo – “Sobe na barra e faz mais uma série. Rápido!”

Nessa hora fui até a portaria e pedi ao secretário que me emprestasse o rolo de silver tape . Corri até a barra fixa e o Leo ainda estava se preparando para começar a segunda série. Sem que ele percebesse eu passei a silver tape em torno de seu punho pregando seu punho na barra. Ele me olhou torto e assustado perguntando: ” O que é isso? Você vai me amarrar?” – Tarde demais já estava amarrado. Passei a fita adesiva em volta de seus pulsos e amarrei na barra prendendo suas mãos. Nosso futuro Herói estava preso à barra fixa. Agora com certeza ele faria o treino completo.

“O Senhor só sai daí quando fizer as cento e vinte repetições. Eu espero, fica tranqüilo.” A segunda série foi feita e mais oito repetições adicionadas à contagem geral. Agora tínhamos 16 e faltavam cento e quatro repetições. O dono da academia, Ricardo chega por lá e vê a cena inusitada. A cara de perplexidade dele era indescritível. Ele chegou perto de mim com a mão cobrindo a boca. Pensei que ele iria me pedir para soltar o menino mas ele me deu um tapinha nas costas dizendo: “Nossa, como eu nunca pensei nisso antes?”

O Ricardo gostava de fazer umas torturas de vez em quando, já vi ele algemando uma aluna na esteira. De brincadeira, claro, mas ela teve que fazer o tempo necessário para ser solta. Enquanto olhávamos para o leo pendurado, parecendo uma mortadela na padaria, o Ricardo me cutucou e disse- ” Ah, espera aí que vou te trazer uma coisinha que vai ajudar a motivar o menino.” Ele saiu correndo, entrou no carro e saiu.

“Vamos fazer a próxima série Leo?” O rapaz começou a terceira série, já estava vermelho antes de começar, só o fato dele ficar pendurado dificultava a sua respiração e isso talvez fosse atrapalhar um pouco. Mais sete repetições foram feitas. Ele estava indo muito bem. “Miguel! Pelo Amor de Deus me solta daqui! Eu vou morrer! Eu não agüento mais fazer uma repetição!” Por um momento fiquei comovido, mas logo isso passou. Deixei ele descansar mais uns segundos e ordenei que a quarta série fosse iniciada. Ele não conseguiu fazer nenhuma.

Eu ia começar a soltar a fita adesiva quando o Ricardo chega correndo e gritando. “Não solta o Touro não! Cheguei com a motivação extra!” Seria um shake milagroso? Um Cd com Psy indiano que iria hipnotizar nosso pupilo e faze-lo treinar? Não! Era um teaser, aquelas maquininhas que os policias usam para dar choques nos bandidos e paralisá-los. Provavelmente era uma com menor voltagem. Ele se aproximou de nós e começou a apertar o botão fazendo com que a corrente elétrica percorresse os terminais e fizesse aquele barulho inconfundível.

“Leo, você vai continuar o treino e fazer as 97 repetições restantes ou quer uma energia extra?” Ricardo proferiu a frase enquanto apertava o gatilho e mostrava o aparelinho de choques funcionando. Imediatamente os olhos de Leo se arregalaram e ele fez doze repetições. “Doze? Seu Sem-Vergonha! Ricardo, me empresta isso por favor!” Fiquei cego de raiva pro ele ter feito doze repetições quando havia dito que não consegui nenhuma e tive que ser segurado para não dar um choque nele.

Depois de uma hora e vinte minutos e a bateria inteira da maquininha de choques ter sido descarregada, Leo termina o treino. Ele estava realmente exaurido, acabado. Avisei que estava tudo terminado e que era hora de tomar o shake pós treino e providenciar algo para comer.

Fui guardar minhas coisas na mala de treino e vi o Leo se dirigindo para a recepção. Ele pedira o telefone emprestado. Arrumei minhas coisas e fui em direção da recepção também. Chegando perto do Leo não tive como não escutar a conversa que ele tinha ao telefone- “Alô Mãe? É o Leo. Eu acabei o treino e estou indo almoçar, a Senhora podia fazer aquela sopinha de legumes pra mim?” Sopinha de legumes? Será que eu estava ouvindo direito? Será que todos esses anos de treino pesado começaram a afetar minha audição? “É Mãe, aquela sopinha com batata, cenoura,… Ahhhhhh!!!!” Não, a minha audição não estava me traindo e assim que ele começou aquela frase eu mandei um tapão na cabeça dele. Desliga esse telefone meu amigo. Você vai almoçar comigo hoje. Vamos aproveitar a falar um pouco sobre nutrição.

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Creditos - por Miguel Chain

Episódio IV – O Mundo Encantado

Logo após o treino de costas, pegamos nossas coisas e fomos almoçar. O Leo transpira muito. Talvez isso aconteça devido à enorme quantidade de pelos em seu corpo. Eu ainda vou convencer esse menino a se depilar. Como ele estava todo suado, insisti para que tomasse um banho antes de irmos ao restaurante.

A caminho do restaurante disse ao Leo que estávamos indo a um lugar onde seriamos muito bem tratados – O Restaurante do Teles. O restaurante do Teles ficava perto da rodoviária e servia uma ótima comida. Chegando lá fui direto até a chapa onde eram preparadas as carnes e estendi meus braços a frente sinalizando um número 6 com os dedos das mãos. Seis era o número de filés de frango que o nosso amigo Teles iria preparar. Sempre gostei de lá porque o Teles também treina pesado e sabe da importância de se ingerir boa proteína sem muita gordura. Dessa forma, ele sempre limpava a chapa, removendo todo o óleo para preparar nosso frango. Pedi seis filés pois já sabia que cada um pesava entre 80 e 100 gramas, totalizando mais ou menos 250 gramas de frango para cada um da dupla.

-”Miguel, você pediu quase trezentos gramas de frango, está pegando arroz e salada. Nós acabamos de tomar nosso shake pós-treino!” Leo já estava ficando assustado com a quantidade de comida. ” Mas Leo, olha no relógio. Já faz meia hora que tomamos o shake. Lembra que você tomou o shake, foi tomar banho, se trocou, só depois viemos para cá? Fica frio que a essa altura a whey já está nos seus dorsais trabalhando duro para te deixar mais forte.” Espero tê-lo convencido.

Já sentados, frente a frente com nossos pratos, o Leo ainda me olhava e tentava me convencer de que aquilo era muita comida e que ele não seria capaz de comer tudo pois ainda estava cheio do shake. Insisti para que ele parasse de ser negativo. “Se você olhar para esse prato e ficar dizendo que não é capaz de comer, você nunca vai comer mesmo. Não podemos ser tão negativos e inseguros Leo.” A insegurança e as barreiras psicológicas podem atrapalhar muito nossos planos na academia. É muito comum as pessoas olharem para alguém que treina sério na academia e dizerem que nunca seriam capazes de fazer o que o tal cara está fazendo. “É melhor você comer tudo logo e ir se preparando, pois você é quem vai pagar a conta.” Depois de ajudar tanto esse menino, claro que era justo que ele me pagasse um almoço pelo menos.

Enquanto comíamos, comecei a fazer algumas perguntas acerca dos hábitos alimentares de nosso pupilo. Só confirmei o que eu desconfiava. Os hábitos do cara eram péssimos. Na verdade não era culpa dele. A sociedade de hoje prioriza muito pouco a boa alimentação. Como os salários estão cada vez menores, o tempo trabalhado aumenta cada vez mais. Com isso o tempo para se cozinhar boa comida e até mesmo de comer calmamente não existe mais. Muitos pais e mães são forçados a comerem de forma errada e educarem seus filhos dessa maneira. Comer fora, fazer apenas um “lanche” no jantar, ingerir comidas gordurosas se tornaram parte de vida de milhares e milhares de pessoas pelo mundo afora. E o Leo estava no meio de tudo isso.

“Leo, me conta como é sua dieta. Você come muito?” Vamos ver como esse camarada se alimenta. “Olha Miguel, eu como “pra caramba”. No café eu tomo um copo de leite com aveia. No meio da manhã confesso que negligencio um pouco. No almoço eu faço um pratão, como bem. A tarde tomo meu shake de whey depois do treino e a noite eu janto.” Eu já suspeitava que seria assim.

“Leo, não dá para negligenciarmos nenhuma refeição. Não podemos deixar nossa dieta assim. Devemos nos alimentar e manipular nossa dieta de forma precisa.” Nessa conversa expliquei ao nosso herói a importância dos nutrientes. “Vamos começar pelo começo. Proteína. Proteína é o nutriente mais importante para quem quer aumentar o volume muscular e perder gordura. Cada tipo de proteína é formada por uma combinação especifica de aminoácidos. Somente as proteínas animais como carne, frango, peixe e ovos contém todos os aminoácidos essências para a manutenção da massa muscular. Existem os aminoácidos que não podem ser produzidos pelo nosso organismo, são os aminoácidos essenciais. Para consegui-los, devemos ingerir proteínas de fontes animais. As proteínas são classificadas de acordo com algumas características como absorção pelo organismo, digestibilidade, quantidade e variedade de aminoácidos presentes. A essa classificação dá-se o nome de valor biológico. Uma pessoa que treina com pesos e quer ter aumento na massa muscular ou quer perder gordura sem perder músculos deveria ingerir pelo menos 2 gramas de proteína por quilo de peso corporal.”

“Nossa! Tudo isso? Por isso que a gente comeu tanto frango assim hoje no almoço?” Nosso amigo está abrindo os olhos!

“A gordura também é importante. Com alguns ácidos graxos formamos as membranas das células, produzimos hormônios entre outras coisas. Precisamos monitorar com cuidado a ingestão de gorduras, principalmente as hidrogenadas e as saturadas. Existem alguns ácidos graxos que nosso corpo não consegue sintetizar, eles são os ácidos graxos essenciais – ômega-3, ômega-6 , ômega-9. É importante ingerir alimentos ricos nessas substancias como azeite de oliva, óleo de linhaça, castanhas, salmão etc.”

Quanto mais eu falava, mais o Leo comia. Ele estava ficando realmente animado com a história e parecia bem interessado em saber mais. “Miguel, e os carboidratos?”

“Temos que tomar cuidado com os carboidratos, eles podem ser os mocinhos ou os vilões. Se comermos demais, engordamos, se não comermos o suficiente, vamos perder massa muscular. Existem os carboidratos simples, que digeridos e absorvidos rapidamente, liberando muitíssima insulina no sangue e provavelmente trazendo problemas. A única hora boa de se ingerir os carboidratos simples é pela manhã, ao acordar e depois do treino. Essas são duas horas do dia onde nosso corpo está sem reservas de energia e precisa se recuperar. Existem também os carboidratos complexos, que demoram mais tempo para serem digeridos e absorvidos. Preferimos estes pois são contribuem mais para nossos objetivos. Bons exemplos são arroz integral, aveia e batata-doce.”

O Leo ficou de boca aberta em saber que existiam tantos detalhes para se prestar a atenção na dieta. Sugeri a ele que comesse bastante carboidratos complexos e muita proteína durante o dia.

“Miguel, não agüento mais comer. Já estou cheio e o prato ainda não está vazio.” Enquanto isso, Teles olhava com um ar de desapontamento para a situação. “Leo, se você quiser crescer, ficar com menos gordura, com as veias nos braços, terá que comer muito. Terá que comer além do limite da fome. Come até ficar cheio, depois disso come um pouco mais. Se você não forçar a barra um pouquinho, dificilmente atingirá seus objetivos. Faz uma forcinha aí e come até o final.” Mal sabia o Leo que nessa fase de ganho de músculos, ele teria que forçar a comida para dentro mesmo sem fome. E que na fase de perda de gordura, ele iria passar por maus bocados, comendo bem menos comida e passando mais fome.

Terminamos de comer, o Leo pagou a conta para o Teles e fomos embora. Dei uma carona para meu pupilo até sua casa. A mãe dele já o esperava no portão, meio preocupada. Eu podia ver nos olhos dela que ele não gostava de mim. Ela achava que eu estava transformando o filho dela em um monstro, uma aberração. Quero só ver quando o Leo chegar em casa todo depilado. A mulher vai cair dura com certeza.

Três horas depois do almoço, Leo prepara mais uma refeição, assim como eu tinha ordenado. Eles fez frango e batata-doce. Leo comeu, comeu , comeu. Seguiu à risca tudo o que eu tinha falado. Mas ele começou a passar mal, ter dores no estomago. Logo Leo dormiu…

Leo acordou em um lugar estranho, muito estranho. Tinha música alta, muito alta. Era Iron Maiden. O ambiente era meio escuro, as paredes vermelhas. Havia arame farpado do chão até o teto. Leo percebeu que estava em uma academia, mas era uma academia bem diferente. Logo percebeu que não havia ninguém com menos de 53 cm de braço por lá. Não haviam anilhas de 1 , 2 ou 4 quilos. Os instrutores seguravam um chicote com laminas de barbear na ponta. “Eu acho que estou sonhando. Esse lugar não existe.” Mas Leo não tinha certeza de mais nada.

Em poucos minutos Leo percebe que muitos olhavam para ele e começavam a gargalhar, outros penas o observavam com um semblante de pena. Ele começou a se sentir mal, muito mal e foi se olhar no espelho. “Meu Deus! Isso Não É Possível! Isso não está acontecendo!” Leo finalmente descobrira no que havia se transformado.

Claro que ele estava em um universo paralelo, uma outra dimensão da maromba. Onde todos os seus piores medos se concretizavam. Leo viu que havia se transformado em um Milk-Shake gigante. Seu corpo era agora um enorme copo de milk-shake, só lhe restava a cabeça. Os braços e pernas estavam fininhos. Nem parecia que iriam agüentar todos os seus 120 litros. Leo ainda se refazia do susto quando ouvi um choro. Ele olha para o lado e vê o Waldemar Guimarães chorando como uma menininha depois de uma série de leg-press.

Uma voz surge logo atrás de nosso herói. “Não se aflija meu amigo. Tudo ficará bem. Siga o que dizemos e tudo voltará ao normal.” Leo olhava para trás e não acreditava no que seus olhos viam. Era uma seringa com pernas e um pote de suplementos ambulante.

“Quem são vocês?” Perguntava nosso pupilo com a voz trêmula. A seringa respondeu. ” Meu nome é Sr. Wiston. E esse é meu sócio Conde A. Pak. Somos os donos dessa academia.” Leo ainda incrédulo teve que fazer mais uma pergunta. “Aquele ali no canto chorando de medo é o Waldemar Guimarães?” O Sr. Wiston respondeu todo orgulhoso. “Sim! Nossa academia é tão hardcore que até o Waldemar chora aqui.”

O Waldemar era um ídolo para o Leo e também para muitos em nosso país. Nosso herói estava chocado e decepcionado em vê-lo chorando de medo. “Eu, Sr Wiston e o meu sócio Conde A. Pak vamos transformar você em mais um dos nossos. Você só terá que levar uma picadinhas e tomar um saquinho com 11 comprimidos todo dia.” Seria esse o fim de Leo? Nosso herói iria se entregar às garras do mal e começar a servir a horda de Sr Wiston e Conde A. Pak? Terminaria aqui a saga do meu pupilo?

De repente uma gritaria ecoava pela sala da academia. “Eu vou enfiar esse chicote no seu Rabo! Come here AssHole!” Dois instrutores passaram correndo em direção a porta. Atrás deles estava Waldemar Guimarães com o chicote em punho. Ele havia se rebelado e estava quebrando toda a academia. Leo ficou todo orgulhoso. Enfim seu ídolo não havia se entregado e estava lutando, estabelecendo mais uma vez um foco de resistência. Nosso pupilo nem pensou duas vezes. Seguiu o homem e …

“Leo! Leo! Leo! Acorda! Você está bem?” Após comer tanto frango e batata-doce, Leo passou mal e desmaiou. A Mãe dele, que já me odiava e agora me odeia ainda mais, me ligou desesperada. Cheguei na casa dele e conseguimos fazer com que ele recobrasse os sentidos. “Você está louco? Precisava comer meio quilo de batata e 800 gramas de frango? Claro que ia passar mal! Agora anda, lava o rosto e vem comigo. Vamos comprar os ingressos para ver a palestra do Mr Olympia que vem ao Brasil na semana que vem. Leo levantou-se, foi no espelho dar uma olhada. Agora sim. Ele viu que ainda tinha seu velho e bom corpo. Milk-Shake nunca mais…

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"Chegando perto do Leo não tive como não escutar a conversa que ele tinha ao telefone- “Alô Mãe? É o Leo. Eu acabei o treino e estou indo almoçar, a Senhora podia fazer aquela sopinha de legumes pra mim?” Sopinha de legumes? Será que eu estava ouvindo direito? Será que todos esses anos de treino pesado começaram a afetar minha audição? “É Mãe, aquela sopinha com batata, cenoura,… Ahhhhhh!!!!” Não, a minha audição não estava me traindo e assim que ele começou aquela frase eu mandei um tapão na cabeça dele"

DHAUSHDUASHDUASHDUHA Sopinha de legumes foi foda hduahduahudah, posta a continuação ae Victor =)

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eu n resisti,entrei no site q o cara ali posto,e to lendo todos os capitulos OAIEHO

é só mudar os numeros romanos do link, q vai pro proximo capitulo,por exemplo : http://www.diariodoculturismo.com.br/home/artigos/como-se-tornar-um-culturista-episodio-viii/

esse é o capitulo 8. VIII = 8 em numeros romanos

qndo eu quiser ver o nove,é só eu troca por 9 em numeros romanos ali, que seria : IX

:D

muito bom mesmo cara,to me vendo em algumas partes aqui. :P

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Acabaram com o sentido do topico, de esperar ansioso o proximo capitulo

hehe falou tudo, era esse o intuito....

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Creditos - por Miguel Chain

Episódio V – A Viagem

“Miguel, você REALMENTE acha que vale a pena pagar para ver a palestra do Mr Olympia?” O Leo sempre usava a palavra “realmente” com uma entonação mais forte quando queria mostrar que discordava ou não estava totalmente certo sobre uma opinião minha. Ele estava com dó de gastar todo aquele dinheiro na viagem e nos convites.

“Como vamos fazer? São duas horas de viagem para ir e mais duas para voltar? Como vou manter a dieta assim? Não tem como!” Esse jeito meio desesperado do Leo ainda me causava certa irritação. Mas eu tinha prometido que iria ajudá-lo e ensina-lo a como ser um culturista. “Não se preocupe com isso menino. Precisamos agora ir ao banco fazer o depósito para pegar os convites.” Era começo de mês, ainda por cima uma Segunda-Feira, o depósito deveria ser feito no Banco do Brasil ou no Bradesco. Não havia lugar pior para se pegar uma enorme fila do que estes dois bancos. Claro que o Aprendiz ficou na fila enquanto eu esperava no carro, sob a sombra das árvores. Fizemos o depósito e fomos embora. Na volta passamos no restaurante do Teles para almoçar. O Leo já começava a ficar entusiasmado com a idéia de seu primeiro grande evento no meio do culturismo. Ele só tinha ido a um pequeno campeonato do interior. Nunca participou de uma coisa tão grande quanto á que estávamos prestes a ir.

“Teles, sabe para onde iremos no próximo final de semana? Vamos assistir a palestra do Mr Olympia.” Teles, o filho do dono do restaurante, era um menino novo, assim como o Leo. O engraçado era que Teles treinava há menos tempo e tinha uma dieta pior que a de Leo. Mas de alguma forma o seu físico era superior ao do meu pupilo tanto em volume quanto em qualidade. Eu percebia que esse fato incomodava muito o nosso herói e que por isso ele não ia muito com a cara do Teles.

O Teles ficou surpreso com a noticia e perguntou se havia lugar para ele ir também. “Claro Teles, você só precisa fazer o depósito do valor do convite e ligar para este número para confirmar seu lugar.” Na mesma hora o Leo me fuzilou com o olhar. Pude ler em seus olhos –“Por que você tinha que deixar esse cara vir junto?”

Já haviam se passado algumas semanas, o progresso de Leo era aparente. Todos percebiam e o elogiavam na academia e fora dela. A auto-estima dele estava nas alturas mas parecia que seu ego também estava se exacerbando. Eu estava feliz por estar conseguindo realizar tamanha mudança em seu físico, mas estava preocupado pois não sabia como sua cabeça estava reagindo a tudo isso. Não são raros os casos nos quais a criatura se volta contra o criador. Como sempre, esse cara me intrigava e me deixava sem saber o que pensar.

Na Quarta-Feira antes do evento, que seria no Sábado, recebi a ligação de um velho amigo e parceiro de treinos, o Thiago Lus. Acho muito interessante o estudo da etimologia das palavras. Gosto de saber de onde vieram as palavras. Quando se trata de nomes, o interesse é ainda maior. Sei que o sobrenome do dono da academia, Leha, é de origem francesa, mas provavelmente se originou na Bélgica. O meu próprio nome é bem interessante, Chain vem de Khain ou Cain, em hebreu quer dizer Lança, em árabe quer dizer ferreiro. Disse tudo isso, pois queria chegar ao ponto de dizer que o nome do Thiago – “Lus” era totalmente desconhecido para mim. Para nossa chateação, nem ele próprio sabia nos dizer.

Continuando a história de meu amigo Thiago, nós treinamos juntos por muito tempo em São Carlos. Thiago era um obcecado por se tornar o mais gigante possível. Todos os treinos com ele eram uma luta, pois ele era determinado e exigia muito de mim. Thiago queria tanto ficar grande que foi passar uma temporada em Fullerton na academia do antigo competidor e agora guru Milos Sarcev. Ele havia chegado a poucas semanas dos EUA e estava em Campinas na casa de seus pais. Ele me ligou dizendo se eu podia passar por lá e dar uma carona para ele ir na palestra do Mr Olympia. “Claro que sim! Aí aproveitamos para ver as fotos de sua viagem.” Por incrível que pareça o Thiagão só havia me mandado uma foto de seus treinos com Milos, nela ele estava fazendo Leg-press. Agora sim eu poderia ver todas elas.

Na Quarta-Feira ainda eu estava esperando o Leo para nosso treino. Quando ele chegou perguntei que dia ele iria se depilar. “Me depilar Miguel? Você está louco? Se minha mãe me vê sem pelos ela me mata!”

“Leo, ter o corpo depilado faz parte da tribo dos culturistas. Da mesma forma que quando você entra em um ônibus e vê um cara todo de preto e já imagina que ele é um metaleiro, se você encontrar um cara grandão com os braços e pernas depilados, vai saber que ele é um culturista. No meio do culturismo, é uma questão de identificação com o grupo ter o corpo sem pelos.” Diante desse fato devastador, Leo pensa como fará para tirar o pelo de seu corpo sem chamar a atenção de sua família. “Miguel, tem certeza que eu REALMENTE preciso me depilar para ir lá?” Nem respondi.

Esse problema é muito comum entre os culturistas. Depois de anos e anos na academia, tiramos os pelos do corpo para deixar mais aparente a musculatura que ganhamos com tanto custo. Quando vamos a um campeonato de musculação ou palestra ou qualquer outro evento ligado a esse mundo, percebemos que a grande maioria se depila. Assim todos podem se identificar com seu grupo. Mas infelizmente nossa cultura é extremamente machista e dita que o homem precisa ter pelos para ser macho. Ter os braços e pernas depilados é coisa de viado. Gostaria de saber por que um punhado de pelos é tão determinante para se comprovar a virilidade de um homem. Quando um jovem como o Leo decide tirar os pelos do corpo, os familiares são os primeiros a se interpor, a criar dificuldades. Depois vêm os amigos e em alguns casos as namoradas ou esposas. Leo se deparava com o primeiro e talvez mais aterrador obstáculo para um jovem que pretende entrar no mundo do culturismo – A falta de apoio da família. Ele nem tinha falado nada para os seus pais sobre a depilação, mas a sua insegurança sobre o assunto já me fazia imaginar que este seria o motivo.

A situação ficava ainda pior, pois Leo tinha muito pelo no corpo. Era claro que quando ele depilasse, a diferença seria clara e todos, mesmo os que o conhecem menos, iriam perceber. Sugeri a ele que tirasse apenas os pelos dos braços e peito/barriga naquele dia e que observasse a reação da família. Se fosse tudo bem, ele tirava os pelos das pernas no dia seguinte.

No dia seguinte Leo chega na academia para nosso treino. O inverno já havia acabado, e São Carlos passava por dias de imenso calor. Mesmo assim nosso herói chegara na academia de calça de abrigo e um moletom. “O que houve Leo? Está doente? Está louco?” Perguntei, mas já imaginava a causa das roupas. “Leo você está com vergonha da gente? Se depilou está tímido?” Lá do fundo da academia surge um grito: “Viaaado!” Era o Ricardo, dono da academia, dando sua opinião sobre as roupas do Leo. Ele achava que já que o Leo tinha se depilado, ele tinha que mostrar. Bem, os pais dele acharam super estranho, mas ainda sim discutiram pouco.

Ele nos contou que na hora do banho ele tomou coragem, pegou o barbeador, um punhado de laminas novas e foi tirar todos os pelos. Na hora que ele havia terminado, Leo olhou para baixo e viu enormes tufos de pelos entupindo o ralo do banheiro e alguns cortes e sangue pelo corpo. Agora tinha um problema a menos para me preocupar.

Leo já havia passado pelo batismo da primeira depilação, mas ainda estava preocupado com a comida. “Como vamos fazer com a comida Miguel?” Pensei um pouco. “Você tem uma bolsa térmica grande? Ótimo, prepara ela, faz sua comida, coloca tudo em potinhos plásticos e guarda lá. Ah e deixa um espacinho para eu colocar os meus potinhos também.” Eu me aproveitava do Leo sempre que podia, mas também era justo, pois eu o ajudava sempre que ele precisava. Isso não impedia que ele me olhasse feio de vez em quando.

Chegara o grande dia. Há muito tempo eu não via um IFBB pro de alto nível. Todos estávamos ansiosos. Além de poder ver o Mr Olympia, passaríamos um dia entre amigos, sem maiores preocupações, fato raro nos últimos meses. Chequei o carro, peguei os comprovantes de depósito para conseguir entrar no auditório, o mapa com o endereço. Rumei para a casa do Leo. Como sempre ele estava atrasado. Aguardei um pouco do lado de fora. Guardamos a comida no porta-malas e fomos buscar o Teles e o Ricardo. Pegamos a estrada e próxima parada era Campinas. Precisávamos pegar nosso amigo Thiago.

Depois de quase três horas de viagem chegávamos à cidade de São Paulo. Álvares de Azevedo disse em um de seus livros que São Paulo era a cidade com nome de Santo, mas quem mandava lá era o Diabo. Era mais ou menos assim, um cheiro horrível, transito infernal. Pessoalmente não gosto muito de São Paulo, mas existem milhares e milhares de pessoas que adoram. Não posso discutir com eles. Passamos pela Marginal Pinheiros e entramos em uma avenida. Nesse momento Leo nos chamou a atenção e disse: “Miguel, tem um Bob´s ali na frente. Você podia parar para eu pegar um Milk-Shake?”

Era óbvio que o vicio do Leo em Milk-Shakes do Bobs ainda não havia se dissipado. “Mas Miguel, por favor. Um só! Não tem Bobs lá em São Carlos e não é todo dia que venho a São Paulo ou Rio Preto. Tenho que aproveitar.” Preciso comentar uma coisa dessas? “Leo você tem um objetivo em mente, e se você não souber dizer não para o próximo Milk-shake ou prato de macarrão, será muito complicado chegar ao lugar que você almeja.”

Logo chegamos ao teatro. Havia muita gente lá. Todos os competidores Top do Brasil estavam presentes. Consegui lugares na primeira fileira, bem na frente do palco. Tivemos a melhor visão em todo teatro. A única coisa meio complicada era que os fotógrafos do Brasil não estavam autorizados a subir no Palco. Então eles ficavam bem na nossa frente atrapalhando nossa visão. Teve uma hora que o Ricardo não agüentou e pediu para que um deles saísse da frente. O cara disse que não, pois estava trabalhando. Ricardo, então disse ao fotografo que se não saísse, ele iria colocar um dedo na bunda dele. O fotografo olhou para nós meio assustado, mas decidiu sair da nossa frente.

Durante o intervalo fomos até uma salinha onde havia uma mesa montada vendendo souvenires do Mr Olympia. O Leo ficou impressionado com um lutador de vale-tudo que estava lá. O cara lutava o UFC, tinha 1,90 e pesava uns 100 quilos. Era fácil de notá-lo pois ele era o único vestido com uma regata camuflada e uma calça vermelha.Toda a nossa turma estava falando besteiras, fazendo piadas e Leo também queria fazer parte disso. “Pessoal, olha só! Olhem aquela menina na loja. Olha o tamanho da bunda dela! Vou lá pedir para tirar uma foto. Olhem só!” E ele se dirigiu até a menina, sem saber o que vinha pela frente. “Oi, tudo bem? Você é muito linda. Tem um belo corpo. Você treina?” A moça respondeu meio desconfortável. “Treino sim” Foi aí que o Dom Juan atacou. “Será que eu podia tirar uma foto da sua bunda?” A moça toda irritada respondeu na lata: “Pede pro meu marido. Ele é esse cara vestindo uma camiseta camuflada e calça vermelha aí do seu lado.” Oh não.

Já na hora de ir embora, dentro do carro nós comentávamos como a segunda parte da palestra havia sido muito interessante. O Leo estava emburrado lá atrás. “É, eu não consegui ver nada da segunda parte da palestra.” Claro que não. Ele foi obrigado a ficar o tempo todo no banheiro, se escondendo do lutador de vale-tudo…

Na estrada, o celular do Leo toca. Ele atende correndo. Fala baixinho com a pessoa do outro lado da linha, como se ele não quisesse que a gente ouvisse nada. “Quem era Leo?” Ele já meio vermelho respondeu com uma voz envergonhada. “Era a Mônica. Uma amiga minha.” Amiga? Sei…

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