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Como Se Tornar Um Culturista - A Série


vicbelletti

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Queria deixar muito claro aqui que os fatos e as situações descritas nos próximos meses são fictícios e minha intenção é ilustrar a vida de um culturista aspirante à competição de forma bem caricata e engraçada. Com certeza muitos dos leitores poderão aprender alguma coisa com os textos, mas tenham em mente que a maioria dos fatos descritos são caricatos e não devem ser seguidos á risca. Se você quer se tornar um culturista sério, eu aconselho que leia o blog e os artigos do site Diário do Culturismo ou que procure sites com bom material como o Treino Pesado ou WaldemarGuimaraes.

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Creditos - por Miguel Chain

Episódio X – O DIA “D”

Os quatro competidores já estavam no palco esperando as chamadas dos juizes. Tínhamos o anãozinho, o Leo e mais dois outros caras que estavam bem. O que eu via ali não me agradava em nada. Demos um azar bem grande, pois os dois meninos ao lado do Leo iriam trucidá-lo.

Primeiramente os juizes pediram para que todos os competidores viessem à frente e logo em seguida as poses compulsórias foram pedidas. Primeiro as relaxadas, de frente, de lados e de costas. Já nas poses relaxados pude perceber a tamanha diferença de desenvolvimento apresentada pelos dois caras que iriam ficar em segundo e terceiro. O menininho anão o qual eu achava que iria ser último fácil se mostrou um excelente posador e estava muito bem sob as luzes do palco. O Leo definitivamente estava brigando para não ficar em último lugar.

As poses de frente seriam chamadas a seguir. “Duplo bíceps de frente” Chamava o narrador. Expansão de dorsais de frente, abdominais e coxas. De lado, peitoral de lado, tríceps de lado. Na hora em que os árbitros chamaram as poses de costas eu quase caí da cadeira. O baixinho que eu achava que seria o último era dono das melhores costas da categoria. O Ricardo, dono da academia estava ao meu lado assistindo e não conseguiu segurar uma expressão de espanto: “Put%#$#. Acho que o Leo se ferrou.” Se ferrou não foi a expressão utilizada por ele, mas preferi trocar por esta para deixar as coisas mais limpas.

Enquanto todos os competidores se apresentavam com confiança e firmeza, segurando as poses para o publico, nosso Pupilo parecia derrotado no palco. Sua atitude era de um perdedor, não erguia a cabeça, não sorria, não fazia as poses com firmeza. Ele mesmo estava se declarando indigno aos juizes. Fiquei (censurado) da vida com isso e comecei a berrar para ele dando indicações de como ajustar as poses. O Ricardo me ajudou muito nisso, gritando para ele erguer a cabeça e virar homem.

A numeração dos atletas era feita de acordo com a classe. O anãozinho de 50 kgs era o numero 11, o Leo era numero 12, o outro gigante, com pernas enormes, totalmente rasgadas era o numero 13. O último dos competidores era o mais completo em minha opinião, tinha a parte superior do corpo muito bem desenvolvida, as pernas não eram tão grandes mas ainda sim estavam na harmonia. Ele era o numero 14.

Durante as poses de frente os caras 13 e 14 estavam muito bem parelhos. O Leo perdia claramente para eles mas pelo menos era maior que o numero 11, o anãozinho.

Logo após todas as poses serem feitas, os juizes trocaram o Leo de lugar com o numero 11. Ele ficou longe dos outros dois, em minha opinião favoritos. Isso poderia demonstrar que os juizes não estavam tão certos assim de que o numero iria ficar em último.

Durante a segunda bateria de poses, podíamos perceber o cansaço estampado no rosto dos competidores. O Leo era o que demonstrava isso em menor grau. Graças aos treinos em séries gigantes, ele conseguira uma boa endurance, o que lhe permitia fazer as poses com mais facilidade. A medida que íamos o encorajando, a sua autoconfiança ia aumentando, assim como sua presença de palco. Ele estava mais agressivo, posava com mais vigor, mais confiança. Talvez nem tudo estivesse perdido.

Só quem já competiu em um campeonato de culturismo sabe das dificuldades. Meses de dieta; a última semana então, ah meu amigo, é um horror. Durante o campeonato o cara está desidratado, sem água nenhuma praticamente, tem que fazer uma força do cão durante as poses e ainda sorrir. Uma outra situação que muitos não param para ponderar é o fato de quando se vai competir, você estará vestindo apenas uma sunga bem pequena na frente de dezenas, centenas de pessoas as vezes. Se junta a desidratação ao calor tropical e ao calor gerado pela iluminação do palco, a vida do competidor vira um inferno.

As previas acabaram e os atletas da classe do meu Pupilo saem do palco. Imediatamente me dirijo a área reservada aos atletas para ver como o Leo estava.

Ao chegar lá eu esperava encontrar um cara emocionado, contente pela sua estréia nos palcos, aliviado por ter a tensão da estréia tirada de suas costas. Agora seria só esperar mais algumas horas e ver como tudo iria acabar.

Para meu espanto chego no backstage e vejo o Leo sentado num canto, cabeça baixa e só de sunga ainda. Fui me aproximar e dar umas palavras de encorajamento. “Fala Leozão, foi bem para a estréia Cara…”

Na mesma hora ele olhou para cima, pois estava sentado no chão ainda e me disse com uma voz rouca e tremula. “Miguel, você me ferrou. Seus treinos acabaram com meu físico. Você viu os dois caras?”

“Vi sim, eles devem ficar em primeiro e segundo.” A essa hora eu já estava com medo de responder para ele.

“Se a dieta que você me passou fosse boa, eu tinha que estar do tamanho dos caras, mas não! Você foi me passar aqueles treinos idiotas e agora eu estou aqui, bem menor que os outros.”

“Leo, não seja infantil. Não seja criança. Você sabe que a situação não é bem essa. Você sabia desde o inicio que a dieta teria que ser dura para você chegar na condição desejada a tempo. Lembre-se bem de que eu sugeri que não competisse nesse campeonato.” Esse menino me irrita as vezes. Muito infantil em algumas situações e ainda vem querer jogar a culpa me mim.

“É Miguel, mas deste tamanho eu não tenho certeza se vou conseguir ganhar.” O cara estava iludido mesmo. Na hora em que ele disse as cenas dele na academia se admirando e dizendo para si mesmo que era o melhor vinham a minha cabeça. É muito comum em culturistas, esse ego avantajado. Eles pensam que são os melhores, que são a melhor coisa que Deus colocou no mundo. Não é bem assim.

“Bem Leo, vou indo lá para fora. Vista-se e nos encontre lá. Vamos assistir ao resto das previas e depois comer alguma coisa.” Procurei nem ficar lá por muito tempo, pois sabia que ele estava chateado e ainda iludido achando que iria conseguir uma boa colocação. Mal sabia ele que iria brigar para não ficar em último.

Quando um cara vai competir, quando ele sobe em um palco, tudo o que ele fez durante a sua preparação vai contar. Todo o aeróbio não feito, todo o lixo que ele comeu sem poder, todo o treino que ele deixou faltando vão se voltar contra ele. Depois de tudo, fica fácil colocar a culpa em alguém. Muitos culpam os juizes, os chamam de corruptos; outros culpam a comida estragada que comeram um dia antes. Outros, bem poucos, culpam seus treinadores. É fácil tirar a responsabilidade dos ombros e jogar em cima de alguém. Infelizmente, no palco é apenas você contra todo mundo. Se você não fez o dever de casa corretamente, dificilmente irá passar pelo olhar critico e treinado dos juizes.

Gostaria que o meu Pupilo, o Leo tivesse lido esse parágrafo três meses atrás. As coisas talvez fossem bem diferentes hoje.

Logo após as prévias, que ocorrem a tarde, os atletas descansam e tentam relaxar para o show da noite. O show da noite vale poucos pontos e influencia pouco na escolha das colocações pelos árbitros. Mas ainda sim é preciso segurar a condição física por mais algum tempo até que o show termine.

“Miguel, eu vou comer um lanche ali naquele shopping.” Era claro que o Leo estava desanimado, cansado e com fome. Mas naquele momento era preciso segurar as rédeas para que ele não pusesse tudo a perder.

“Leo, come aí seu arrozinho e fica sossegado. Logo após a premiação da sua classe já vai ter uma pizza te esperando atrás do palco. Aí você vai poder comer a vontade.” Havia uma pizzaria no shopping perto do local onde o campeonato estava sendo realizado. Iria pedir para alguém ir lá comprar uma pizza para o Leo, pois depois de tanto esforço ele merecia.

A hora da verdade, o Show da Noite chega e lá vamos eu o nosso herói (a essa hora já não sei se é tão herói assim) para a sala de aquecimento outra vez. Demos uma retocada na coloração e aplicamos uma camada fina de óleo. Muita gente não tem consciência da importância que a coloração da pele tem na hora do julgamento. Se um atleta entra branco demais, perde muitos pontos, se entre muito escuro, os juizes não conseguem ver muitos detalhes. Existem produtos especiais para se colorir, mas é importante ter um bronzeado natural como base antes de aplicar a tintura. Mesmo os atletas negros deveriam se bronzear para competir, pois isso evita aquele visual desbotado no coloração em cima dos palcos.

A medida que a hora de entrar chegava, Leo ficava mais agitado. “Será que eu vou ganhar? Ou vou ficar em segundo?” Nem respondi, fiz que não ouvi nada.

Os meninos sobem ao palco e, um por um, fazem sua coreografia. A do Leo foi uma das melhores, já que fiz ele treina-la exaustivamente. Ele ainda precisa aprender a ter mais controle na hora das poses, mas foi muito bem. Talvez isso o ajude na hora da decisão.

Para meu desespero o atleta numero 11, o anãozinho com quem meu pupilo iria brigar pela terceira colocação se apresenta de forma surpreendente. Se houvesse uma premiação para a melhor coreografia, esse cara ganharia fácil. Agora sim as coisas estavam difíceis para nós.

Após todos os quatro se apresentarem individualmente, foi a hora do posedown, onde os atletas se degladiam fazendo poses livres para a platéia. Nessa altura Leo estava morrendo de cansaço e mal conseguia fazer as poses. Só nos restava esperar a decisão dos juizes.

O locutor do evento entra no palco e começa a falar: “Agora vamos a premiação da classe Junior do Campeonato. O quarto lugar ficou com o atleta de numero 11!”

O baixinho ficou meio chateado mas foi lá e buscou sua medalha de honra. Leo deu um sorrisinho confiante. O locutor anuncia o terceiro colocado: “Ocupando a terceira colocação, ficando com a medalha de bronze, anuncio o atleta numero 12!”

O numero 12 era o Leo, na hora em que ouviu seu numero ele fez uma expressão de susto e indignação. Fixou o olhar para o chão e ficou lá.

“O atleta premiado pode vir a frente buscar a medalha e o troféu.” E o Leo continuava com o olhar fixo no chão, sem se mexer.

“Atleta numero 12, por favor venha a frente buscar seu premio.” Nesse momento o Leo vira as costas e sai do palco sem pegar seu premio nem falar nada. Eu não acredito que ele fez isso! Saí correndo até o backstage para falar com ele.

“Você está louco moleque? Quer me matar de vergonha? Volta lá agora, pede desculpas e pega seu troféu de terceiro lugar.”

“Você sabe que eu não merecia ficar em terceiro, eu era pelo menos o segundo melhor> Esses caras me roubaram!”

“O que?” Cai na real Leo, o terceiro já foi um presente. Nesse momento ele saiu, se vestiu e foi embora! Pegou seu carro e simplesmente foi embora, deixando os dois que vieram de carona com ele para trás. Só faltava ele se matar agora.

A atitude extremamente infantil e anti-desportiva do meu pupilo me deixou perplexo.

Na Segunda-Feira seguinte, ainda sem ter falado com ele após o ocorrido, vou até a academia para treinar. Encontro o Leo todo vestido, com calça comprida e uma blusa de moletom. “Você está doido? Estamos pleno verão, 35º C de temperatura e você vestido assim?”

“Estou assim porque meu físico me deixa envergonhado! Você me fez sentir vergonha de mim mesmo. Nunca deveria ter ouvido seus conselhos, nunca deveria ter aceitado ser treinado por você para um campeonato. Você me arruinou e fica frio pois nunca mais vou nem sequer falar sobre musculação com você.”

“Leo, para de falar besteira. Foi você quem veio até pedindo ajuda. Te ajudei a alcançar uma forma física que nunca imaginou que pudesse. Foi você quem escolheu participar deste maldito campeonato, não eu. Então por favor fica quieto porque já estou de saco cheio de sua infantilidade.”

“Infantil e idiota é você Mig….” Pow!!!

Eu estava tão nervoso com ele e com a situação que na mesma hora que ele me chamou de idiota eu nem esperei ele terminar a frase. Dei-lhe um soco no meio da boca. Ele caiu para trás, quase bate a cabeça em um banco.

Ele se sentou no chão e ficou com a mão boca, toda cortada, sem saber o que tinha acontecido. Nessa mesma hora o Ricardo, dono da academia veio até mim. Já pensei na hora que ele iria chamar a minha atenção e me expulsar de sua academia, pois ele é um cara totalmente calmo, centrado e apesar de ele já ter sido um ótimo competidor de Jiu-Jitsu e treinador de vale-tudo, nunca ouvi dizer que ele havia brigado com alguém.

Ele chegou perto e me disse: ” Miguel! Você já pensou em lutar boxe ou vale-tudo? Belo soco! Ele merecia apanhar mais, mas acho que já deve ter aprendido a lição.”

Fiquei espantado, mas contente. Minha mão doía muito. Eu tinha um pequeno corte no dedo. Achei melhor nem treinar. Na saída, o novo recepcionista Andrey me chamou. “Miguel, tem dois caras querendo falar com você ali.”

Olhei para a sala de espera. Era o Teles, filho do dono do restaurante e um amigo dele; um cara enorme, ombros largos, braços que deveriam ter pelo menos uns 47 cm a te as pernas pareciam ser bem desenvolvidas. Me aproximei deles e o Teles me apresentou: “Miguel, este aqui é o Gustavo Badel. Chamo ele assim pois ele é fã numero 1 do Badel.”

“Muito prazer Gustavo.” Apertei a mão do cara sorrindo.

“Eu odeio o Badel e meu nome verdadeiro não é Gustavo. Mas como todo mundo já me chama assim, pode me chamar também.”

O Teles estava todo feliz, sorridente. Perguntei o porquê da alegria. Ele respondeu que era pelo soco na cara do Leo.

“Teles, não me orgulho do que fiz, mas já está feito. Pelo menos agora eu não tenho mais ninguém para eu treinar e nem para me encher o saco.”

O Teles responde de imediato: ” Você está enganado. Agora você tem dois caras para treinar. Eu e o Gustavão.”

Editado por vicbelletti
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vamo mandar email pro miguel ai tdo mundo pra ele postar o resto hauuha

teoricamente vai ateh o ep20, mais soh tem ateh o 12 =/ vcs vao ficar na vontade, e eu tb ahuhua

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Creditos - por Miguel Chain

Episódio XI – Um Novo Começo

A experiência com o Leo havia me deixado meio desanimado e desmotivado para treinar outras pessoas. Eu gostava muito do Teles, mas nem conhecia o seu amigo Gustavo. Na hora em que ele me pediu que os treinasse não tive coragem de dizer não. Alguns amigos meus dizem que um dos meus grandes defeitos é não saber dizer não.

Marquei uma reunião entre nós três no outro dia na academia. Cheguei um pouco mais cedo e cumprimentei o Andrey, o novo recepcionista. Esse Andrey era um cara gente boa, que adorava conversar, fazia amigos facilmente. É um perfil muito bom para quem trabalha no cargo dele. Mas alguma coisa nesse cara me intrigava. Ele tinha uma paixão por motos enorme. Maior que sua paixão por motos era a sua moto, uma Kawasaki Ninja ZX 12R. Quem conhece um pouco sobre motos sabe que não é um brinquedo barato.

O cara trabalhava na academia, mas tinha uma moto de mais de R$40.000,00, eu não conseguia saber como isso era possível. Andrey sempre chegava bem cedo na academia. Ele era responsável por abrir as portas às sete da manhã. Às vezes eu o via com olheiras enormes. Engraçado que apesar de parecer que ele não dormia muito, nunca o víamos de mau humor. Bem, uma outra hora converso com ele ou pergunto para o Ricardo Lehat, dono da academia, sobre ele.

O Andrey é um cara muito solicito e assim que o cumprimentei ele já me avisou- “Miguel, bom dia! Olha tem um cara ali te esperando, ele estava com o Teles ontem.” – Era o Gustavo. O cara era pontual mesmo. Eu cheguei cedo, ele chegou antes de mim. Bom, muito bom.

“Bom dia Gustavo. Como vai? Onde está o Teles?”

“Oi Miguel, beleza? Você não conhece muito bem o Teles, não é mesmo? Ele nunca acorda cedo.”

“Ah é? Mas então ele deveria ter me avisado disso ontem, poderíamos ter marcado a reunião para mais tarde.” Puxa vida! O cara não acorda cedo. Que coisa. De jeito nenhum eu vou treinar um cara que marca os compromissos e não comparece. O Teles já começou mal.

“Gustavo, me fala uma coisa. Você treina há muito tempo?” Estava curioso para saber, pois esse menino tinha uma estrutura óssea grande e já havia colocado muito músculo nela. É claro que poderíamos melhorar muito ainda seu físico, mas ele tinha um potencial incrível.

“Treino há uns três anos, mas estou sério mesmo há quase um ano.” Explicou nosso mais novo amigo ogro.

Eu realmente fiquei impressionado com esse menino e ficaria feliz se um dia o visse no palco competindo. Mas me parecia que a idéia de competir não o agradava. “Eu não ficaria a vontade na frente de todo mundo vestindo só uma sunga.” O ogro explica.

Pouco tempo após começarmos nossa conversa, começo a ouvir uns gritos vindos lá da portaria. “Miguel! Miguel! O Teles chegou!” Era o Andrey, nosso mais novo recepcionista me avisando que meu novo pupilo havia chegado.

“Bom dia Miguel.” Apesar de tudo, o Teles havia chegado bem na hora que combinamos.

“Acordou cedo mesmo hein? Eu achava que você não vinha.” Comentou o Gustavo, sorrindo.

“Ô Mano, o trampo no restaurante foi duro ontem.”

Nem esperei ele terminar a frase. Teles e Gustavo, é o seguinte. Vocês sabem da historia do Leo, vocês sabem como eu mudei o físico dele. Ele acreditou em mim até quase o final. Foi uma decepção que tive depois de tudo. Contei a eles ainda que eu não pretendia treinar mais ninguém e que apenas iria ajudá-los de vez em quando dando uma ou outra dica de treino.

“Não Miguel! Espera um minuto! Por favor! Fiquei o ano passado todo observando você treinar o Leo. Eu via como era difícil para seguir o que você falava. Eu serei diferente.” O Teles estava mesmo tentando me persuadir.

Eu disse ao Teles que mesmo sem minha ajuda ele já havia conseguido um físico melhor do que o do Leo. Que talvez ele não precisasse de mim; Enfim, estava tentando me livrar dele.

O Teles, percebendo que eu estava irredutível, começou a jogar pesado. “Miguel, olha o cara que eu te trouxe, o Gustavo é um bom material. Se ele quiser competir, sei que você consegue torna-lo campeão brasileiro.”

Pensei comigo que talvez isso fosse até verdade, mas sabia que o Gustavo nunca iria competir. Sabendo disso, eu joguei sujo. Desta vez eu ia me livrar deles e poderia seguir minha vida tranqüilo, sem dor de cabeça. “Teles, meu caro, vamos combinar assim. Treino vocês. Mas com uma condição: Os dois têm que estar prontos para competir no campeonato do interior que teremos em exatas 13 semanas. Vocês me garantem que vão competir, eu garanto que os ajudo.” Já podia perceber o sorrisinho cínico em meu rosto, desta vez eu ganharia e ficaria livre. O Gustavo nunca iria topar competir, ainda mais estando a competição tão perto.

Podia ver no Teles a sua expressão de desespero, assim como eu, ele sabia que seu grande amigo Gustavo nunca iria competir.

Do outro lado da mesa estava Gustavo, o Ogro, só observando. Esse menino era o melhor amigo de Teles. As duas personalidades contrastavam e se diferenciavam diametralmente. De um lado tínhamos o Teles, cara extrovertido, que fala alto, brinca com todos, é super autoconfiante e não liga em se expor ao ridículo as vezes. Apesar de ter um bom físico para a sua idade, dezenove anos, não era dotado de ótima genética e teria que trabalhar muito em seu físico.

Do outro lado estava o Gustavo, cara quietão, introvertido, totalmente na dele. Muito educado e simpático, mas quietão. Não posso dizer que não tinha autoconfiança, mas nesse quesito, ele nem chegava aos pés do Teles. Pelo pouco que o conheci, ele nunca iria se expor em qualquer situação se não tivesse controle absoluto de tudo. Ele sim tem uma genética espetacular e se trabalhar duro e agüentar o tranco, poderia vir a ser um grande nome no esporte em pouco tempo.

O silencio tomou conta do recinto. Ninguém falava nada. Olhei para o Teles e ele estava com o olhar fixo no Gustavo. O Ogro, por sua vez, estava debruçado sobre a mesa. Mãos juntas e os dedos entrelaçados, seu olhar voltado para baixo. Um grande decisão estava por ser tomada.

“Tudo bem. Eu concordo. Vou competir dentro de 13 semanas. Você vai nos treinar?” Desta vez o Gustavo me surpreendeu. Ele topou competir! Como?

Perguntei ao Ogro se ele estava certo do que estava falando pois eu não iria tolerar ser enrolado depois.

Imediatamente o cara se levantou, jogando a cadeira para trás e deu um tapa na mesa: “Você acha que eu sou o que? Se estou falando que vou competir, eu vou competir!”

“Calma, calma! Só quis me certificar disso.” Achei que ele fosse calmo. Mas tudo bem. Ele topou, vamos se eles agüentam passar pelo teste.

Já havia se passado quase uma hora desde que a conversa tinha começado. Os dois foram preparar um shake,pois já estava na hora. Fiquei ali sentado, os esperando.

Então, Ricardo, o dono da academia, chega por ali e me pergunta o porquê da exaltação do Gustavo.

“Eu ouvi um barulho, quando me virei para olhar, vi que ele deu um tapa na mesa. Me desculpe mas não pude deixar de perceber o barulho. Está tudo bem?”

“Sim. Mas que estranho, achei que ele fosse um cara calmo, contido. Nem precisei provocar muito e ele explodiu. Fiquei preocupado agora.” Sempre gosto de conversar com o Ricardo, pois ele sempre tem uma visão diferente e muitas vezes mais apurada das coisas.

“Pense bem Miguel. Isso pode ser uma coisa boa. Imagine se você conseguir canalizar essas explosões durante os treinos. Esse cara vira um monstro em seis meses.”

“Pois é. Acho melhor ele canalizar nos treinos mesmo, pois eles vão competir em 13 semanas. Vão precisar de muita coisa nesse período.” Nesse momento o Ricardo olhou para mim com os olhos arregalados.

“Você vai fazer os caras competirem em 13 semanas? E você acha que eles têm condições?”

Expliquei ao Ricardo que o campeonato era de nível mediano e que talvez eles se dessem bem apesar do pouco tempo disponível para preparação. Mas que ainda eles teriam que passar por um treino de teste para ver se iriam conseguir agüentar o tranco.

Como que em um passe de mágica, a felicidade surgiu no rosto do Ricardo. Um enorme sorriso se abriu.

“Então vamos fazer aquele treino de costas, pendurando os caras na barra fixa e amarrando eles com silver tape? Já vou colocar a bateria da maquina de choques para carregar agora!” Logo após terminar a frase ele soltou uma risada diabólica.

Respondi que achava melhor fazer um treino surpresa, com alto volume desta vez. Mas que ele podia trazer a maquininha de choques.

Como os meninos ainda não haviam voltado, perguntei ao Ricardo sobre o Andrey e sua motocicleta.

Ele respondeu prontamente: “Você não sabe? Não conhece a historia do Andrey? Vou te contar então…”

Os meninos voltaram e entram na sala. Percebendo que precisava tratar algumas coisas sérias com eles, Ricardo se despede. “Falou gente, até mais, boa sorte! Ah, Miguel, depois te conto a história do Andrey.”

Como tinha um compromisso e precisava ir andando, chamei os dois para me acompanharem até a porta da academia. Chegando lá fora, demos de cara com Leo. Ele estava chegando para treinar. Nem olhou para a nossa cara. Passou direto. Pude perceber que seu rosto estava redondo, estava com cara de lua. Somente poucos dias haviam se passado desde o campeonato e ele já estava daquele jeito. Que coisa. Para me despedir dos meninos, fechei o acordo.

“Teles, temos um acordo então. Só que antes de começarmos de verdade, você será submetido a um teste.”

“Por que só eu? E o Gustavo?” Perguntava o espantado e indignado Pupilo.

“Porque eu sei que para o Gustavo esse não será um teste, será apenas mais um treino. Sei que ele vai agüentar tranqüilo. Você será testado e se sair vivo do treino amanhã, eu treino vocês.”

O preocupado Teles já começa com as perguntas. “Mas vai ser de manhã?”

“VAI!!!”

” Miguel, por acaso não é aquele treino de costas na barra fixa, ou é?” Indagava o cada vez mais tenso Teles.

Respondi-”Não vai ser aquele, vai ser um pior!”

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Creditos - por Miguel Chain

Como se tornar um Culturista episodio XII

No outro dia, pela manhã, me levantei da cama já pensando no treino que faria com o Gustavo e o Teles. Eu gosto de ir visualizando o treino, imaginando e calculando todos os movimentos, as cargas, as possíveis reações deles. Me perguntava se aqueles dois realmente iriam cumprir os treinso, as regras. Sabia que Gustavo iria treinar bem e comer direito, mas temia que na hora H, na hora do campeonato, ele fosse sair pela tangente.

Minha maior preocupação mesmo era o Teles. Não tinha certeza se ele estava realmente pronto para fazer tudo o que deveria ser feito. Percebi que se ficasse pensando muito naquilo, eu não chegaria a lugar algum, muito menos teria tempo de tomar meu café da manhã. Fui para a cozinha preparar a minha primeira refeição.

Como as manhãs são geralmente cheias de compromissos e a gente sempre acaba ficando aqueles cinco minutos a mais na cama, a minha primeira refeição do dia costuma ser um shake. Mas não se iludam pensando que este é um shake normal. É uma refeição bem reforçada.

O café da manhã é a primeira refeição do dia e uma das mais importantes. Todos sabemos da importancia de realizarmos pelo menso seis refeições, distribuidas de maneira uniforme ao longo do dia. Para reforçar este hábito, costumamos exclamar que todas as refeições têm igual importancia e nenhuma deve ser menosprezada. Sabemos que determinadas refeições, que pela sua posição na agenda diária, assumem papel fundamental na construção e recuperação muscular. Essas são o café da manhã e a refeição logo após o treino.

Nesses dois momentos do dia, consumir uma boa quantidade de proteína ( qualquer que seja. Se for de absorção rápida, melhor ainda. ) é vital para suprir a demanda de nosso organismo altamente estressado nesses momentos. Citamos esses horários pois logo ao acordar, percebemso que ficamos pelo menos 6 ou 7 horas sem ingerir nenhum tipo de alimento. Precisamos reestabelecer o fluxo de aminoácidos no sangue rapidamente. Logo após ao treino, todos já devem estar cansados de saber, é preciso consumir proteína para amplificar e acelerar a recuperação muscular e sintese proteíca.

Bem, deixando a nutrição de lado e voltando à minha manhã, fui até a cozinha e preparei meu tradicional shake matinal.

250 ml água

50 grs whey chocolate

60 grs aveia

2 colheres de sopa de crème de amendoim sem áçucar

2 colheres de chá bem cheias de pó de café.

Junto tudo isso no liquidificador e bato tudo até que fique uma mistura homogênea. Para aqueles que estão se perguntando do café, é isso mesmo. Coloco pó de café no shake. O mesmo pó que usa com água fervente.

Com tudo pronto, fui para a academia me encontrar com os dois. No som do carro tocava ACDC – Thunderstruck com o volume bem alto. Bom som para acordar e criar um “mindset” apropriado para um treino.

Este seria um treino memorável. A situação toda cria uma motivação enorme nos dois. E é bom treinar pessoas extremamente motivadas. Com certeza, por toda a situação que foi criada, eles devem estar se preparando para uma guerra nesta manhã. Isto é bom, pois eles realmente teriam uma verdadeira guerra pela frente.

Já estávamos nos aproximando do meio do ano. Em nossa cidade, fundada no meio de algumas serras, com altitude elevada, o clima é bem frio nesta época. Muitas vezes, o vento gelado da manhã corta a pele como uma navalha. Não adianta blusa, jaqueta, gorro nada. O vento passa através de tudo.

Desci do carro, em frente à academia e senti o vento gelado. As portas de vidro da entrada, que sempre ficam escancaradas para que todos entrem com facilidade, naquela manhã estavam fechadas. Pelo vidro trasparente das portas, podia ver os dois novos pupilos sentados na sala de espera, tentando se aquecer nos ainda fracos e escassos raios de sol do amanhecer.

Entrei na academia e saudei os dois com um bom dia. O Gustavo deu um sorriso e estendeu a mão para me cumprimentar. O Teles, que olhava fixamente para o lado de fora, só desviou levemente o olhar para a minha direção e acenou com a cabeça. O primeiro treino, primeiro teste iria começar. Pedi para que os dois fizessem um aquecimento leve na esteira, para fazer o sangue circular e aquecer um pouco seus corpos. Enquanto isso fui até a sala do Ricardo para ver se ele estava pronto para me ajudar caso fosse necessário.

“A máquina de choques está pronta e carregada. Se quiser, a arma de paintball automática também está a postos. Você não achou que eu ia te diexar na mão, não é mesmo?” Disse alegremente com sua voz naturalmente alta o dono da academia.

Era bem cedo ainda. O som que estava tocando na sala de musculação era uma seleção de hits dos anos setenta. Sabia que essa não era a trilha sonora adequada para uma sessão de treinos daquelas. Também sabia que se mudasse o som, os alunos regulares da academia não iriam achar muito bom. Mas, algo era precisava ser feito. Peguei um CD na bolsa e pedi que o Teles o colocasse no som. Dessa forma, se alguém fosse reclamar, reclamaria com ele. O título do CD era “Som Treino III” , dentro dele, haviam 10 músicas que durariam exatos 45 minutos. Tempo suficiente para um ótimo treino de ombros. As músicas foram escolhidas a dedo para que induzissem os pupilos a um estado de atenção e agressividade aos pesos maior. Eram cinco músicas do ACDC e cinco do Iron.

Thunderstruck

Back in Black

HighWay to Hell

Hard as a Rock

Hells Bells

Run to the Hills

Fear of the Dark

The Phanton of the Opera

Number of the Beast

Hallowed by The Time

Com tudo pronto, começamos o aquecimento. Teles estava todo animado e fazia algumas brincadeiras e piadas. O Gustavão era “All Business” só estava interessado no treino.

“Então Miguel, qual vai ser o primeiro? Hoje estou muito disposto, tomei um ótimo café da manhã!” Dizia Teles como peito estufado.

O treino iria começar com elevações laterais. Seriam três séries de dez ou doze repetições. Teles começou. Eu o deixei escolher o peso. Ele foi e pegou um par de halteres de 14 kgs.

“Você está louco? Vai começar com 14 kgs? Vai conseguir fazer isso certo?

“Miguel, sempre usei este peso, é leve, você vai ver!” Sorriu Teles.

Antes de ele começar a série eu já imaginava como seria. Ele iria fazer tudo com uma forma de execução horrivel, levantando as mãos e deixando os cotovelos baixos e jogando o corpo para a frente e para trás.

Começa a série de Teles. A essa altura eu já me sentia um vidente, visto que ele realmente estava fazendo tudo o que eu havia imaginado. Após quatro repetições gritei:

“Para!!” Se ele pensava que ia começar o treino com aquela forma horrível de execução, ele estava redondamente enganado. Expliquei para os dois que treinar epsado não era simplesmente levantar os pesos. É preciso criar uma conexão entre a mente e o músculo. É vital sentir o músculo contraindo a cada repetição. Caso contrário todo esforço é em vão.

Peguei um par de halteres de 10 kgs e os dei ao Teles. “Vamos recomeçar a série.”

Fiquei posicionado atrás dele, e enquanto ele fazia o movimento, eu ia guiando as mãos dele para cima e para os lados do tronco. É muito comum, ao fazermos elevação lateral, levarmos as mãos à frente do tronco. Na verdade, para manter tensão total nos deltóides mediais, as mão devem estar sempre no mesmo plano do tronco.

A primeira série, mesmo com os problemas em acertar a posição correta, foi fácil tanto para o Teles quanto para o Gustavo.

Os dois também fizeram a segunda séria com relativa facilidade. A terceira e útlima seria a pior. Peguei o par de halteres de 14 kgs para o Teles.

“Mas Miguel, você disse que eu não deveria usar este peso, lembra?”

“Agora você aprendeu como se faz. Espero que faça pelo menos seis repetições sozinho.” Já fui me posicionando atrás do Teles. Ele fez três repetições muito bem feitas. As duas próximas já foram mais ou menos. Ajudei a fazer mais duas. Fim da série. Teles senta no chão tentando encontrar o ar. O Gustavão já pega halteres de 18 kgs. Peço para que ele pegue os de 20 kgs. Vamos fazer uma série curta. Sete repetições perfeitas.

O próximo exercício seria desenvolvimento com halteres. Apenas uma série com rest-pause e pronto. Pedi para o Teles ir arrumando o banco enquanto eu ia pegar os halteres. Peguei um par de 22 kgs para o Teles e um par de 30 kgs para o Gustavo.

Pedi para que ele se sentasse no banco e pegasse os halteres. “Pronto? Vamso começar a série. Concentre-se!”

Até a sexta repetição estava tudo bem. Na sétima ele começou a dar sinais de fadiga. Comecei a berrar:

“Vai Teles, firme. Mais três!” Disse enfaticamente.

Teles completa mais três com muita dificuldade. “Mais uma, deixa de ser mole!” Com mais um berro direcionado bem na sua orelha, Teles reage e completa a última repetição. Onze por enquanto.

“Descanse dez segundos e vamos continuar a série” Marquei o tempo no relógio e dei o comando para que começasse. Enquanto observava Teles fazer apenas mais duas repetições, acenei com a cabeça e pedi para que o Gustavo me trouxesse um par de halteres de 16 kgs.

Teles solta os halteres. Peço que ele aguarde mais dez segundos e passo os halteres de 16 kgs nas mãos dele.

“Você quer me matar Miguel! Eu não consigo.”

“Eu diminui o peso nesta. Quero mais duas boas repetições.” Teles começa a parte negativa da primeira das duas repetições. A essa altura seus braços tremem e a experessão em seu rosto é de dor.

“Menos peso agora! Mostre algum esforço para mim!” Teles termina a segunda repetição e joga os pesos ao chão. Ao bater no tapete emborrachado, um dos halteres “pula” e quase bate no espelho.

A série do Gustavão foi tão árdua quanto à do Teles, com uma diferença. Ele é muito forte. Ele fez 16 repetições com 30 kgs,descansou 10 segundos, fez mais 4 repetiçoes, descansou mais dez segundos ( na verdade foram apenas 7 segundos, pois ele estava fazendo muitas repetições e eu queria dificultar as coisas para ele) e fez mais três repetições com uma execução impecável.

Fomos para o próximo exercício. Lembrem-se de que esta treino era um teste de fogo para os dois. Eu queria submetê-los a um stress altíssimo para saber como eles respondiam nessa situação.

Agora, pedi ao Teles que pegasse um par de halteres de 3 kgs. Ele olhou para mim e deu risada. Disse que finalmente iria fazer algo tranquilo naquele treino.

“Se você pensa que vai ser fácil, deve estar enganado. Se eu conheço um pouco do Miguel, quanto menos peso ele pede para você pegar, mais difícil será o exercício.” Disse o sorridente Gustavão, já se divertindo com a idéia de que o Teles iria se ferrar.

“Teles, pode se sentar no banco. Faça elevação lateral. “ Eu nem havia acabado de completar meu pensamento e o Teles já respondeu.

“Só três quilos? Dá para fazer umas vinte com esse peso.”

Sorri alegremente e olhei para o Gustavo, parecia que ele já previa o que eu ia dizer.

“Isso mesmo Teles, só que agora, a série é de 40 repetições. Sem jogar o peso, sem fazer rápido. Quero tudo controlado.”

Teles fechou a cara e olhou para a frente, como quem encara o desafio. Ele começou a fazer a série, após a vigésima ele já se contorcia de dor e desepero.

“Vinte e cinco! Deixa eu parar por favor!” Implorava meu novo pupilo.

Só faltavam mais quinze. Então resolvi dar um apoio moral a ele. “Deixa de ser Mocinha e ergue esse peso! Só mais quinze! E contrai esse ombro.”

A medida que Teles prosseguia na série, o suor escorria pelo seu rosto já desfigurado de dor. As três últimas repetições foram jogadas, mas tudo bem. A série valeu.

Logo após a o Gustavo completar a sua série já ordenei que Teles se posicionasse.

“Mais uma série de quarenta repetições?”

“Não! Agora são cinquenta!”

Nesse momento o Ricardo chega ao nosso lado, com a máquina de choques carregada e começa a apertar o gatilho. O barulho das faíscas liberadas pela máquina já abala o psicológico de muita gente.

“Comece a série!” Disse com a voz bem alta. O Gustavo começou a se animar e gritou: “Vamos Teles!”

O pessoal da academia percebeu a movimentação perto do Teles e uma roda se formou em volta dele para ver o que ia acontecer.

Após a vigésima quinta repetição, ele já estava quase chorando. Um berro de dor e de alívio sinalizava cada repetição. Na trigésima ele parou. Balançou a cabeça negativamente e disse que não ia dar. Imediatamente acertei um tapa na nuca e gritei: “Termine a série!”

Começamos a contar junto com ele. Um coro de vozes o incentivando.

“Trinta e três, trinta e quatro, trinta e cinco…”

Ajudei levemente nas três últimas repetições. Ao ouvir as vozes dizendo cinquenta ele soltou os pesos no chão e deitou para trás no banco. Ele estava pálido. Se levantoum tentou levar as mãos ao rosto. O esforço era inútil. Ele não tinha mais forças.

De repente ele saiu andando rapidamente para o banheiro. Pedi para que o Gustavão fizesse a série dele e fui atrás do Teles.

Quando cheguei ao banheiro ele estava vomitando na privada, deitado no chão. Quando ele terminou, o ajudei a se levantar e a lavar o rosto. Ele se sentou no chão e disse que não ia voltar.

Olhei pela porta, vi o Gustavão fazendo a sua série, o cara é uma máquina, parece que nada poderia pará-lo. Voltei minha atenção ao Teles.

“Então você não vai continuar o treino. Beleza. Já vi como serão as coisas.”

“Miguel, você sabe que quase ninguém conseguiria fazer este treino até o final. Tem que me dar uma chance.”

“Eu sei que quase ninguém conseguiria terminar. Só algumas poucas pessoas com a alama de guerreiro e a vontade necessária. Estou vendo que o Gustavo vai continuar. E esperava que você também continuasse.”

Depois disso, me levantei, virei as costas me dirigindo para a porta de saída do banheiro e disse:

“Essa atitude eu só esperava do Leo, não de você. Se quiser continuar treinando sob meus cuidados e ter minha ajuda, se levante agora e saia daí. Caso contrário, esquece.”

Saí do banheiro, perguntei ao Gustava se estava tudo bem e olhei para trás. Olhei para a porta do banheiro. Enquanto me virava, torcia para que Teles estivesse ali fora, de pé.”

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infelizmente ainda nao tem os outros episodios^^ esse é o ultimo que ele postou

quando (se) ele postar mais eu coloco aqui pra voces, mandem email pra ele escrever o resto hehe

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