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[Versão 5.0] Qual o volume ótimo para a hipertrofia?


Lucas, o Schrödinger

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  • 3 semanas depois...
Postado

 

NEM TODOS OS SETS SÃO IGUAIS NO TREINAMENTO DE FORÇA

Porque 1 set ≠ 1 unidade de fadiga
E porque treinadores e educadores não podem te dar uma recomendação de volume sem contexto

 

Por Cooper Logan (tradução adaptada)


FADIGA PÓS-TREINO

Os mecanismos de fadiga que ocorrem e se acumulam após o treino limitam as adaptações em sessões subsequentes. Com isso, reduzem nossa capacidade de gerar adaptações importantes para progressão de força, incluindo a hipertrofia.

 

Todos os mecanismos de fadiga duradouros que surgem no período pós-treino são resultado do acúmulo de íons de cálcio (Ca²⁺).

 

Por isso, no papel, 1 set para um determinado músculo não equivale ao mesmo tempo de recuperação. A diferença está na fadiga gerada após aquele set.

 

Fatores que influenciam a liberação de Ca²⁺ são controláveis, dependendo de como realizamos o treinamento de resistência. E são esses fatores que determinam o tempo de recuperação necessário para a fadiga diminuir.

 

PMID: 16533926


POR QUE OS ÍONS DE CÁLCIO SÃO RESPONSÁVEIS POR ISSO?

Íons de cálcio são essenciais para a contração muscular: eles removem o complexo troponina-tropomiosina, expondo os sítios de ligação de actina para o ciclo de pontes cruzadas acontecer.

 

Quando os níveis intracelulares de cálcio atingem um certo limite (seja por contração sustentada ou estiramento da membrana celular), determinadas calpaínas são ativadas e causam degradação proteica.

 

Isso inclui falha no acoplamento excitação-contração e dano muscular. Mas então, por que não temos dano muscular no pescoço por mantermos a cabeça erguida o dia inteiro?

 

Porque a capacidade das fibras musculares de lidar com cálcio varia bastante entre as fibras do tipo 1 (unidades motoras de baixo limiar) e tipo 2 (alto limiar).

 

PMID: 16533926


FAIXA DE REPETIÇÕES

A faixa de repetições influencia a concentração intracelular de cálcio, já que o cálcio é necessário para sustentar a contração.

 

Simplificando: quanto mais tempo você sustenta a contração (concêntrica ou excêntrica), mais cálcio é liberado no espaço celular.

 

No entanto, para fins de hipertrofia, o estímulo mecânico ainda requer tempo sob tensão. É por isso que 4 contrações com alta tensão mecânica e ativação máxima voluntária das fibras geram mais hipertrofia do que uma única contração nas mesmas condições.

 

A literatura mostra que treinos com cargas leves podem gerar hipertrofia comparável ao treino com cargas altas. Contudo, o impacto na performance causado por dano muscular tende a ser maior com cargas leves e contrações mais longas.

 

PMID: 32401690
PMID: 28447186


TEMPO EM CONTRAÇÃO EXCÊNTRICA

Marcadores de dano muscular são mais evidentes após sessões com contrações exclusivamente excêntricas.

 

Se o dano muscular pós-treino é retardado, então a hipótese de que o dano seja causado apenas pelo estresse mecânico (ex: microlesões) não se sustenta — se fosse o caso, haveria marcadores imediatos.

 

Isso sugere que o maior dano observado em contrações excêntricas é resultado de um processo bioquímico mediado por íons de cálcio.

 

Durante contrações excêntricas, canais ativados por estiramento (SACs) se abrem mecanicamente, permitindo um influxo de cálcio e aumentando a sobrecarga intracelular.

 

PMID: 7558524
PMID: 2594927
PMID: 35336717
PMID: 6629599
PMID: 31531133
PMID: 14991331


AMPLITUDE DE MOVIMENTO E PERFIL DE RESISTÊNCIA

A magnitude da abertura dos SACs é influenciada pela amplitude de movimento e pelo perfil de resistência do exercício.

 

Alongar os músculos sob resistência decrescente (isto é, com carga durante o alongamento) provavelmente leva a maior acúmulo de íons de cálcio.

Comprimentos musculares longos parecem causar mais dano muscular, especialmente em músculos cujos sarcômeros operam na parte descendente da curva força-comprimento.

 

É por isso que quadríceps — mesmo sendo músculos que se recuperam rápido — costumam apresentar bastante dor muscular tardia (DOMS).

 

Importante: a ativação da fibra não é necessária para que os SACs se abram. Isso explica por que contrações excêntricas com grande alongamento causam mais dano.

 

Isso também ajuda a entender a sarcomerogênese como uma adaptação para resistir à fadiga.

 

PMID: 29258751
PMID: 27398917
PMID: 4020687
PMID: 33249658


PROXIMIDADE DA FALHA

Como mencionado, os íons de cálcio precisam ultrapassar um certo limite para ativar calpaínas que degradam proteínas.

 

Durante um set prolongado, as mitocôndrias atuam como amortecedoras para evitar excesso de cálcio.

 

Parece que as últimas repetições antes da falha são as que mais aumentam a concentração de cálcio dentro da célula — provavelmente devido à sobrecarga mitocondrial nesse ponto.

 

Isso reforça a importância da faixa de repetições como variável crítica.

Se você chega a 1-2 reps da falha (RIR) já com mitocôndrias sobrecarregadas — especialmente em rep ranges altos ou com outros fatores combinados — o Ca²⁺ vai aumentar de forma exponencial.


TEMPOS DE DESCANSO

(Dado limitado, mais especulativo)

 

Embora não sejam causados diretamente pelas contrações, os intervalos entre elas influenciam bastante a capacidade das bombas SERCA e das mitocôndrias em remover o excesso de cálcio do citoplasma.

 

A contração muscular exige uma quantidade mínima de Ca²⁺. Quando o músculo relaxa, os níveis caem abaixo desse limite. No entanto, o excesso de cálcio pode demorar vários minutos para voltar ao nível basal.

 

Isso cria um efeito acumulativo que influencia o acúmulo total de Ca²⁺.

Na prática, o impacto de descansos curtos é maior quando combinado com outras variáveis que já promovem acúmulo de cálcio.


ENTÃO DEVO EVITAR TODOS ESSES FATORES?

Claro que não — a menos que você esteja programando treino para um robô.

 

Compreender esses fatores não significa que você deve evitar tudo. Programação inteligente usa esse conhecimento para ajustar variáveis como:

  • Volume

  • Frequência

  • Intensidade

Se seu programa tem pouca margem para lidar com fadiga (ex: full body dia sim, dia não), faz sentido considerar o quanto de fadiga cada set está causando.

 

Se há mais flexibilidade, não tem problema levar alguns sets até comprimentos musculares longos (para adaptação sarcomérica), ou até a falha.

No fim do dia...

 

Você está progredindo?


Esse é o único indicador real da eficácia do seu programa.


RESUMO – VARIÁVEIS QUE AUMENTAM A FADIGA E REDUZEM O VOLUME POSSÍVEL

 

Estas variáveis intensificam a fadiga via acúmulo de cálcio intracelular, o que aumenta o tempo de recuperação e limita o volume total tolerado por semana:

  • Faixa de repetições mais altas

  • Tempo prolongado em contração excêntrica

  • Amplitude de movimento longa com carga (perfil descendente)

  • Séries próximas ou até a falha (baixo RIR)

  • Descanso curto entre séries

  • Alta frequência com tempo insuficiente de recuperação

Consequência prática:


Quanto mais dessas variáveis estiverem presentes, menor o volume possível, o que pode reduzir o potencial de hipertrofia e força, portanto, essas variáveis devem ser inseridas no treino de forma inteligente.


Referências

  1. PMID: 16533926

  2. PMID: 32401690

  3. PMID: 28447186

  4. PMID: 7558524

  5. PMID: 2594927

  6. PMID: 35336717

  7. PMID: 6629599

  8. PMID: 31531133

  9. PMID: 14991331

  10. PMID: 29258751

  11. PMID: 27398917

  12. PMID: 4020687

  13. PMID: 33249658

Postado

QUANTAS SÉRIES POR SESSÃO VOCÊ REALMENTE DEVE FAZER?

Por Stronger by Science
Referência: DOI: https://doi.org/10.51224/SRXIV.537


Uma meta-regressão publicada em 2025 por Remmert et al. investigou a relação dose-resposta entre o volume de treinamento por sessão e os ganhos de força e hipertrofia.


Essa foi uma meta-regressão multinível que analisou 67 estudos com mais de 2.000 participantes.

 

Em vez de comparar apenas médias entre grupos, os autores utilizaram um modelo bayesiano de meta-regressão para avaliar os ganhos como uma resposta contínua ao volume, ajustando os resultados conforme o nível de treinamento e a duração das intervenções.


Eles também calcularam o chamado Ponto de Superioridade de Resultado Indetectável (Point of Undetectable Outcome Superiority, ou PUOS).


O PUOS representa o volume de séries por sessão a partir do qual não podemos ter muita confiança de que séries adicionais trarão ganhos significativos em força ou hipertrofia.


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A hipertrofia muscular aumentou conforme o volume de séries por sessão crescia, com um PUOS de aproximadamente 11 séries fracionais por sessão.


Acima de 11 séries por sessão, não houve evidência clara de prejuízo, mas os benefícios adicionais tornaram-se incertos.


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Para os ganhos de força, o "ponto ideal" de volume por sessão foi muito menor: cerca de 2 séries diretas por sessão.
Mais séries ainda produziram ganhos, mas a um ritmo mais lento e com mais incerteza.

 

Como sempre, algumas limitações devem ser consideradas:

  • A maioria das intervenções teve curta duração (cerca de 10 semanas), então os efeitos de longo prazo de volumes altos por sessão ainda são desconhecidos.

  • Poucos estudos utilizaram volumes muito altos de séries, então os dados nos extremos são limitados.

  • Os testes de força variaram em tipo e especificidade (ex: 1RM vs. isométrico), o que pode influenciar como o "volume direto" é definido.

Mais nem sempre é melhor.


Para hipertrofia, um volume moderado a alto por sessão (até cerca de 11 séries) é eficaz.


Para força, um volume baixo por sessão (cerca de 2 séries por exercício) já pode ser suficiente.


Dito isso, ir além desses números não vai atrapalhar seus ganhos, mas levanta a dúvida se o retorno em progresso vai compensar o tempo investido.

Postado

Essa meta regressão difere um pouco dos parâmetros colocados aqui, já que coloquei o teto ótimo de volume por sessão pra um RPE 9-10 em 5-6 sets. Pelo gráfico da meta regressão, 5-6 sets proporcionariam cerca de 75% da hipertrofia de 11 sets.

 

No entanto, esses 11 sets por sessão associados ao PUOS foram, em sua maioria, realizados com esforço moderado a alto, mas nem sempre até a falha.

 

Portanto, se você costuma treinar até a falha com regularidade, pode alcançar resultados semelhantes com menos volume, provavelmente bem próximo das recomendações do tópico, de 5-6 sets diários pra RPE 9-10 ou 7-9 sets pra RPE 7-8 (um pouco mais ou um pouco menos vai sempre depender das individualidades da pessoa).

  • 2 semanas depois...

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