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Olavo é o maior filósofo de todos os tempos?


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Postado
13 minutos atrás, FrangoEctomorfo disse:

 

Imitar as virtudes, rejeitar os erros.

 

Você só pode imitar um homem completamente se ele for perfeito. E só um homem foi perfeito.

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Vai deixar, Chokito?

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Postado (editado)
4 horas atrás, RoxySux disse:

Shapudo, você tem um canal sobre libertarianismo no youtube? 

Sim. Tenho mas decidi deixar quieto por hora. A razão é que eu não me sentia bom o bastante para oferecer um conteúdo de qualidade. Também parei de estudar um pouco o libertarianismo.

 

 

 

4 horas atrás, FrangoEctomorfo disse:

 

Imitar as virtudes, rejeitar os erros.

 

Você só pode imitar um homem completamente se ele for perfeito. E só um homem foi perfeito.

Não é verdade. Como eu falei, você vai subindo de graus em graus. Você pode começar imitando homens menos perfeitos, até chegar nos quase perfeitos.

Editado por Visitante
Postado

@Shapudo, se puder, coloque esse post abaixo no seu primeiro post.

 

Quanto à caminhada intelectual de nosso querido mestre, ela foi, resumidamente, a seguinte:

 

1 - O problema da relação entre ciência e filosofia.

 

2 - O problema da relação entre poesia e filosofia (linguagem literária e linguagem filosófica).

 

3 - A teoria dos quatro discursos, que absorve os problemas anteriores e os colocam numa mesma ordem.

 

4 - A teoria dos gêneros literários.

 

5 - A astrocaracterologia. Do ponto de vista dos astrólogos, da prática astrológica, o Olavo não resolveu nada: não criou nenhuma técnica que eles possam comprar e sair aplicando por aí. Mas se ele não resolvi o problema deles, resolveu o dele. O professor soube exatamente como articular e diferenciar na mente os dois problemas: o problema do suposto fato astrológico e o problema da linguagem astrológica, portanto, alquímica também.

 

5 - A teoria da verdade como domínio no qual você está e existe, mas do qual subjetivamente poder sair. Você não sai do domínio da verdade necessariamente para o domínio da idéia, como pensava o Bruno. Você pode sair de lá para o domínio da experiência subjetiva do arrebatamento, do rapto, que é tão subjetiva quanto a idéia. Esta teoria está em parte explicada na apostila ―O problema da verdade e a verdade do problema‖ [disponível em: http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/problema_verdade.html], mas está apenas enunciada. Mas há outros escritos, como por exemplo, ―Kant e o problema da objetualidade [A metafísica e os fundamentos da objetualidade, disponível em: http://www.olavodecarvalho.org/apostilas/kant3.htm], e vários outros escritos no qual esta coisa está desenvolvida.

 

6 - Teoria do sujeito da história. Um domínio completamente diferente, onde ele tinha de se explicar a possibilidade histórica desses acontecimentos e desses dramas... Nós ve-mos que muitos filósofos colocavam a história como sendo o domínio máximo, a moldura máxima, da existência humana e de todos os conhecimentos. Mas isso aí é uma falsa solução, porque a histó-ria é a história de quem? Muitas vezes você via que quando decidiam contar a história de alguma coisa eles estavam contando a história de uma abstração. Se você disser, por exemplo, ― história do Brasil, você está supondo uma unidade jurídico-territorial chamada Brasil. Ela tem uma história? Não, ela não tem nenhuma história, ela é apenas o cenário onde acontece uma história. O Brasil é um personagem da história? Não, o Brasil como entidade jurídica nunca fez nada. Mas fizeram dentro do Brasil, fizeram fora do Brasil, fizeram contra o Brasil, fizeram a favor do Brasil... A história é a história de quem? É claro que ele precisava resolver isso para saber em que medida o conhecimento da história poderia explicar esse fenômeno da divisão que ele estava tentando abordar. E ele cheguei à seguinte conclusão: a história só pode ser a história de personagens reais, de personagens que agem. Se não existe ação, nada acontece e não tem história. A ação nem sempre necessariamente é a ação de um indivíduo. Existem vários indivíduos que agem de maneira articulada e que prolongam determinadas linhas de ação ao longo de muitos anos, décadas e séculos. Por exemplo: a história da catequização dos povos indígenas pela Igreja foi um esforço que prosseguiu durante séculos. Entrava ano, saía ano, entrava século, saía século e eles estavam lá tentando fazer a mesma coisa. O Partido Comunista: há quanto tempo o Partido Comunista está tentando implantar o comunismo no mundo? Desde pelo menos 1848. Claro que já existia antes, mas vamos considerar a fundação oficial. Todos os primeiros comunistas já morreram e a coisa continua. Então existem certas ações que são contínuas e que transcendem a duração da vida humana. Mas é claro que só pode haver história daquilo que transcende a duração de uma geração. Se acontecer e na geração seguinte está apagada, então não deixou rastro histórico. Então aquilo não é propriamente uma ação histórica, é uma dimensão de tempo sub-histórica.

 

Então quem são os verdadeiros personagens da história? São essas entidades cuja ação permanece no tempo. É a ação delas que dá a forma geral da história. Essas são as personagens. Nesse sentido pode-se dizer que um estado é um personagem da história? Jamais. Nenhum estado tem a ação contínua ao longo no tempo. Quem tem ação contínua são os grupos que dominam o estado cuja ação, às vezes, antecede a formação do estado e se prolonga após a extinção dele. Por exemplo, o Partido Comunista. Nesse instante que o professor disse isso, pensou: espere aí, durante décadas houve aqui nos Estados Unidos uma corrente de estudiosos do comunismo que viam o comunismo apenas como um instrumento do estado soviético. Mas isto é uma inversão total. O movimento comunista existia antes de aparecer a União Soviética e continuará existindo quando acabar a União Soviética. Isto ele sabia anos antes de acabar a União Soviética. Mas é a coisa óbvia. Eles estão confundindo o sujeito da história com o cenário da história. A União Soviética é um lugar onde acontece a história, ela não é um agente histórico. Nem mesmo um governo é um agente histórico. Nenhum governo age por si. É preciso que um grupo político domine o governo e tome as decisões. O governo, por assim dizer, é uma entidade vazia que é ocupada pelos grupos que têm o poder político de ocupá-la. Então são estes os sujeitos da história. Isto quer dizer que toda a história nacional é sempre uma falsificação, é a história apenas do que aconteceu em um lugar. Nenhuma história nacional pode ter unidade, porque dentro de uma mesma nação estão em ação forças, algumas das quais são autárquicas, e outras que vieram de fora e sem as quais as primeiras não podem ser explicadas. Alguns sujeitos da história são: a Igreja Católica; a maçonaria; o partido comunista; as famílias dinásticas que se prolongam e treinam as novas gerações para uma ação coerente etc. Essa é toda uma visão nova, uma nova teoria da história, e creio ser certa e irrefutável. Um problema com essa teoria é que ele jamais consegui aplicá-la em um livro que fosse cem por cento sobre história. Ele gostaria de ter contado a história de alguma coisa. Para não dizer que nunca fez nada nesse sentido, fez a história dos esforços no ocidente para restaurar o império romano, e isto é o Jardim das Aflições. Mas não pode dizer-se que seja um livro de história. Não é uma história narrativa, é um ensaio histórico. Mas ele gostaria de ter escrito um livro de história narrativa. Infelizmente nunca pôde, não deu tempo. Ele gostaria de escrever um livro para ilustrar como é isso: a história de um sujeito que tem história.

 

6 - Teoria do império. O império é o conceito fundamental da história do ocidente. Idéia que logo depois o italiano Antonio Negri ― 5 anos depois ― publicou. Não que ele copiasse o professor, ele jamais soube da existência dele, provavelmente não lê português. Mas ele teve a mesma idéia com 5 anos de atraso e ele tem o direito de pensar que a idéia é dele. Ele não sabe que existiu um outro antes.

 

7 - Teoria do poder. Automaticamente, junto com a teoria [dos sujeitos] da história, veio a teoria do poder, porque o poder é o instrumento fundamental pelo qual se faz história. O que é o poder? O poder significa a capacidade que certas pessoas ou grupos têm de determinar a ação dos outros. O poder é fazer alguém fazer alguma coisa. Note que muitas vezes você não tem poder suficiente nem sobre você mesmo. Você imagine, por exemplo, Stálin determinando que o exército ocupasse uma província e matasse não sei quantas pessoas. Quanto tempo levava para ele dar esta ordem? Um minuto! Ele falava o negócio, assinava, e pronto.

 

Dentro dessa teoria do poder é uma coisa absolutamente imoral que todos os estudiosos de história e ciência política jamais tenham entendido que a diferença de poder entre os seres humanos não tem paralelo no mundo animal e que ela é o fato diferencial do ser humano. Dentro desta escala você tem a diferença que vai desde a quase onipotência até a total impotência. Você imagina um sujeito que esteja preso em um campo de concentração sem comida: ele não pode nada, mas o sujeito que colocou ele lá pode quase tudo. A diferença de poder, às vezes, entre o cidadão comum e o governante é quase de um mortal para um deus. Não há fenômeno similar no mundo natural. Mas como é que ninguém percebeu isso? E todo mundo estranha a diferença de poder como se ela fosse uma anormalidade. Mas ela não pode ser uma anormalidade pois ela é a base da história humana. Não existe ação histórica sem uma diferença imensa de poder. Se todos tivessem o mesmo poder não haveria história. História é a organização do poder e o exercício do poder. E os caras parecem que nunca pensaram nisso. É um absurdo! E o desconhecimento deste fato tem consequências na ordem política que são uma coisa terrível. Por exemplo, se nós não sabemos que a desigualdade de poder é inerente à constituição da sociedade humana, nós também não sabemos que quanto mais se aperfeiçoar esta ―sociedade, isto é, quanto mais se ―racionalizar, no sentido de Max Weber, maior será a diferença de poder. Maior e não menor.

 

Pensem em um homem de Neanderthal, um chefe de tribo. Quanto poder ele tinha? A diferença entre ele e os seus comandados era muito pequena porque o número dos seus comandados é pequeno e os meios de ação que ele tem sobre eles... bom, em última análise ele vai ter que ir lá e matá-los pessoalmente. Agora, veja os meios de ação a disposição de qualquer governante moderno ― não estamos falando de ditadores, mas de qualquer governante, mesmo de países democráticos, a diferença é imensurável. Hoje, por exemplo, o governante pode saber tudo a seu respeito: ele sabe a sua vida econômica, a sua vida social, profissional, o seu imposto de renda, a sua vida sexual, as amizades que você tem, tudo. Agora se você tentar investigar algo lá dentro, há um bloqueio.

 

Então a diferença de poder também é a diferença de informação. Não que a diferença de informação em si gere poder. Não, isto é bobagem. Há algumas pessoas que dizem para você: a base do poder hoje é a informação. Você está louco? Olavo tem informação que não acaba mais e não manda em nada. Compare ele e o Barack Obama. Ele ssabe mil vezes mais que o Barack Obama, e, no entanto, este manda milhões de vezes mais do que aquele. Então não é informação em si, é informação articulada a um negócio que se chama meios de ação. E se você não tem meios de ação você não age, então você não faz nada. Por exemplo, se você quiser saber o que um determinado político ou governante vai fazer em uma certa época, a primeira coisa que você tem de investigar é quais são os meios de ação dele. Ou seja, o que ele pode fazer. Porque o que ele não pode fazer, ele não fará. Isto é muito simples. Está aí uma coisa que praticamente todos os analistas políticos do mundo ignoram: eles não sabem o que são meios de ação. Por exemplo, [eles pensam que] por um sujeito estar no governo ele tem o governo como meio de ação. Não, antes dele usar o governo como meio de ação ele precisa ter meios de ação para ele mexer no governo. Ele precisa ter fora do governo uma outra estrutura de poder mediante a qual ele aciona o governo. Portanto governos e estados nunca são os personagens principais [da história], eles são uma espécie de cortina de fumaça por trás da qual existem os verdadeiros esquemas de poder. Por exemplo, o CFR (Council on Foreign Relations) é um esquema de poder. O CFR pode mais que o governo americano porque é ele que move o governo americano. O que ele não quiser o governo americano não vai fazer. Agora, ele vai fazer o que o governo americano quiser? Não. 

 

Então, Aristóteles já dizia que em uma luta há o sujeito que move e outro que é movido. Aquele que move o outro, não é movido por ele e foi esse quem ganhou a briga. Se você dá uma porrada no sujeito, quem cai é ele, você fica onde está. Então você alterou a situação dele, ele não alterou a sua. Ou você alterou a dele mais do que ele alterou a sua. Isso é uma coisa óbvia e na política é exatamente a mesma coisa: tem aquele que move e aquele que é movido, e o que move não é movido por sua vez. Então aí temos todo um critério de uma ciência política totalmente nova baseada na teoria do poder, na teoria da desigualdade do poder, etc. Tudo isso foi desenvolvido e apresentado no curso de ciência política no Paraná.

 

8 - Teoria do direito. O direito como um dos elementos fundamentais do poder. Depois o Luís Virgilho da Rosa expôs mais extensivamente na tese dele ― O Direito como Garantia, que é apenas a exposição desta tese e não outra coisa.

 

9 - Teoria da origem da autoridade. 

 

10 - Teoria da moral baseada no princípio da autoria. Se as ações não têm sujeito, não há julgamento moral possível. Não existe nenhuma sociedade humana onde o responsável pela ação seja um outro, senão o seu autor. Só existe responsabilidade moral associada ao autor. Não existe nenhuma lei que diga que sempre que você fizer alguma coisa errada a culpa é do outro. Não existe isso. Notem bem, reconhecer autoria é reconhecer a condição do ser humano como causa de acontecimentos. Isto significa que a sua ação não pode jamais ser explicada por nenhuma corrente de causas anteriores. Se o sujeito fez alguma coisa porque foi obrigado por uma causa exterior, ele não é o autor da ação, ele é um elo de uma cadeia causal. Então a ação não é dele. Por exemplo, um sujeito estava caminhando em São Paulo e veio um trombadão tentar roubar o celular dele, mas a bolsa do celular era tão ruim que ele nunca conseguia tirar o celular de dentro dela. Então o celular ficou lá travado e nessa coisa ele empurrou a vítima e ela caiu em cima do japonês. E o japonês olhou para ele achando que ele era o trombadão, e que ele é que estava querendo roubar o celular dele. Então, a vítima não foi a autora dessa ação, ela foi um elo de uma cadeia causal. Até explicar para o japonês... Um deu um empurrão, o outro queria dar uma porrada, o dia está ruim e, como se diz, não quero saber o que vem em seguida! Felizmente a vítima consegui parar o japonês antes d'ele fazer alguma desgraça. Mas é muito diferente isso aí de o sujeito vir roubar o celular. Isto é uma ação. Para você poder dizer que o sujeito fez alguma coisa é necessário que a totalidade das causas anteriores a ele não determinem esta ação. Então, o ser humano é causa. E evidentemente toda a questão da culpa e da inocência universalmente está associada a esta capacidade que ele tem de ser causa. Se não tivesse poder de ser causa não existiria culpa em parte alguma, nem responsabilidade nem coisa nenhuma. E a universalidade da existência disso prova o seguinte: a humanidade sabe que ela se compõe de entes que são capazes de ser causa e são origem de algo. Origem no sentido absoluto. Ou seja, se tomarmos todas as causas anteriores que os pressionaram ou induziram, suas ações não se explicam. Existe um ponto chave onde o indivíduo acionou a máquina do destino: ele acionou.

 

11 - Conceito da psique. quando dizemos que um indivíduo agiu de determinada maneira, nós dizemos que essa ação teve uma causa que chamamos de psíquica. Quer dizer, é uma ação que não veio do corpo e não veio das condições externas, é algo que se passou ―dentro dele‖, na psique ou alma, etc. Então o que é a psique? Então daí tiramos o conceito de psique, que está exposto em uma apostila que existe, mas não está no site. Todo esse material será depositado no seminário aos poucos.

 

No curso da investigação sobre a natureza da psique o professor acabou voltando à doutrina medieval das chamadas faculdades da psique, faculdades da alma. O que são faculdades? São capacidades que a alma tem uma certa facilidade ― faculdade não quer dizer nada mais que facilidade ― de exercer. Quer dizer, ela exerce aquilo, por assim dizer, naturalmente. Então ela tem essas capacidades a partir do momento em que nasce, como a razão, a vontade, a imaginação, etc. Todo mundo tem e de uma maneira ou de outra todo mundo está exercendo aquilo. Então não é particularmente difícil. E daí ele notou que uma das faculdades, que é justamente aquela que Aristóteles dizia que define o homem, que é a faculdade da razão, do pensamento ordenado e da linguagem, é uma faculdade extremamente problemática. Porque a razão é o impulso do ser humano à unificação da sua experiência. Se você aceita a experiência como uma coisa totalmente fragmentária, irredutível, você está no irracional, evidentemente. Racional, em última análise, significa busca da raiz. Você está buscando a raiz comum entre os vários fenômenos. Quando, por exemplo, um médico está fazendo o diagnóstico ele vê vários sintomas e sinais diferentes. O que ele busca? A raiz comum de tudo aquilo. ―Ah, isto aqui é um vírus tal que provoca isto e mais isto e mais isto. Provoca coisas totalmente diferentes. Por exemplo, você pode ter sono e dor de cabeça, ou pode ter dor de cabeça sem sono e pode ter sono sem dor de cabeça. Agora algo juntou essas duas coisas. Então a racionalidade busca essa raiz comum. Este impulso de unificação [é a razão].

 

Mas acontece que a razão tem as suas estruturas próprias. A estrutura inteira da lógica é uma coisa que não depende da sua vontade de maneira alguma. Agora, não vamos confundir o que é a estrutura da lógica em si mesma com as versões que esta estrutura recebeu historicamente por iniciativa humana. Aristóteles explica esta estrutura de uma maneira, a lógica hindu explica de outra maneira análoga, tem a lógica budista, a lógica chinesa e assim por diante. Existe um livro muito interessante de um sujeito chamado [Arthur Normam] Prior, ―História da Lógica‖ (que se encontra na The Encyclopedia of Philosophy, editada por Paul Edwards, Collier-Macmillan, London, 1967), que vai lhe mostrar as várias lógicas que se desenvolveram. Elas são muito diferentes, mas não incoerentes entre si, senão não seriam lógicas.

 

Então isto quer dizer que o mundo da lógica, a articulação dos possíveis ― a lógica é isso, é o estudo do conjunto das possibilidades ― tem uma ordem e esta ordem não depende da sua vontade. Ela não depende de ninguém e não depende que determinadas sociedades as conheçam ou não. Você vê isto muito claramente na expressão mais simples da lógica que é a aritmética elementar. E até hoje em dia quando você especula certas lógicas paradoxais... elas não existem. Elas são uma linguagem que você cria estabelecendo como premissa determinadas coisas arbitrárias ou auto-contraditórias, e tira conclusões logicas a partir de coisas ilógicas criando uma lógica paradoxal. Então, por exemplo, se eu crio uma lógica segundo a qual A é diferente de A ao invés de valer o princípio de identidade, eu já tenho aí imediatamente duas possibilidades de desenvolvimento paralelas: ou eu digo que A é diferente de A e eu continuo raciocinando logicamente a partir disso, isto é, tomo esta premissa como material, mas tiro as conclusões dela baseado na lógica de identidade; ou ao contrário, eu tenho de reduplicar a ilogicidade, a contradição, a cada nova conclusão que eu tiro. São duas possibilidades completamente diferentes.

 

Como isto é demasiado complicado, então é claro que ninguém desenvolveu a lógica de contradição além da terceira ou quarta conclusão, não dá pra ir muito longe. Como a lógica tem a sua ordem interna, ou seja, o conjunto das possibilidades tem uma estrutura, a partir do momento que o ser humano faz o primeiro raciocínio lógico, toda essa estrutura da possibilidade já pesa sobre ele. Você tirou uma conclusão, mas esta conclusão tem outras conseqüências que se prolongam indefinidamente para além do que você pode saber, e aquilo se articula, por sua vez, com milhares de outras linhas de conclusões que você não está prestando atenção (e que você não sabe, mas que estão lá presentes). Então isto é a mesma coisa que dizer que, sobre o ser humano (a partir da hora que ele começa a raciocinar logicamente), pesa o conjunto das determinações do mundo do possível sem que ele tenha disso a menor consciência e sem que ele tenha sequer os instrumentos para mani-pular todas as sutilezas da lógica.

 

Dito de outro modo: o homem é o animal racional não só no sentido de que ele possui a racionali-dade, mas [no sentido de] que ele está, de certo modo, forçado a agir segundo a racionalidade mesmo quando ele não tem os instrumentos pra isto. Então isto quer dizer que desde que você é muito pequenininho, você se confronta com questões lógicas que transcendem infinitamente a capacidade que você tem naquele momento, mas que já pesam sobre a sua vida real. Há sempre um deslocamento, um desnível entre o homem e o seu exercício da razão, o que faz com que a busca da unidade, a busca da coerência, não possa ser satisfeita materialmente. Ela é uma necessidade. É o ideal, mas você não realiza. Então o que você faz? Você busca uma unidade simbólica substitutiva e esta unidade simbólica substitutiva se chama autoridade. Você não sabe o fundamento das coisas, mas você quer uma autoridade à qual você possa se apegar - e essa autoridade geralmente é o pai. O pai funciona como o símbolo da razão. À medida que o seu domínio dos processos racionais aumenta, você se isenta da necessidade de obedecer à autoridade do pai. Mas um certo conflito entre autoridade e razão permanece. Porque você sobrepôs a autoridade à razão para que ela funcionasse como substitutivo da razão. Então esse conflito é permanente, e foi isso o que chamei: 'o trauma da emergência da razão' (emergência no sentido de surgimento).

 

12 - O método da contemplação amorosa. A partir destas coisas, foi possível expor claramente, pela primeira vez, o método que ele estava usando.

 

13 - A questão da paralaxe cognitiva e da mentalidade revolucionária. O desfecho e para onde se encaminhou todas essas investigações.

 

-

 

Agora, o professor sobre o conjunto de suas investigações:

 

"Cada uma dessas coisas eu investiguei pessoalmente. Isto tudo aqui é criação minha, ninguém me ensinou. Eu não tirei isto de Eric Voegelin, não tirei de Dostoiévski, não tirei de Aristóteles, de ninguém. Estou trabalhando tudo isto sozinho. E tudo isto, à medida que o tempo vai avançando eu vou buscando uma unificação desta coisa – claro que existem limites à capacidade sistematizadora de qualquer um e há uma eterna necessidade da sistematização (você pode deixar muita coisa sem ex-plicar, pode deixar muitas ligações nebulosas, porque de algum modo o ouvinte, o estudante, o leitor, se é inteligente, capta a unidade que está por trás daquilo).

 

Porém eu digo pra vocês: nenhum desses tópicos, nem sequer isoladamente, foi jamais examinado e criticado. Ninguém fez isso e digo mais: ninguém tem capacidade de fazer no Brasil. Ninguém, ne-nhum, nenhum. Mesmo Universidades inteiras não podem fazer isto porque elas se limitam ao estu-do escolar. E o conjunto? Como conjunto isto é inabarcável. Se você pega a intelectualidade brasi-leira, este conjunto transcende a totalidade das preocupações da intelectualidade brasileira! É normal um país ter três, ou quatro, ou cinco, ou dez, ou vinte filósofos fazendo exatamente isto que eu estou fazendo (cada um do seu jeito), e você poder confrontar o que eles estão falando. No Brasil não tem ninguém, minha gente! O que um filósofo faz? Filósofo faz essas coisas aqui. Ele encontra certos problemas, ele encontra a confusão, a divisão, a desordem e tenta e luta pra tentar botar uma ordem naquilo. A ordem principal que eu estava tentando colocar no caso é a conexão entre conhecimento e consciência – conhecimento no sentido piagetiano (tomando os dois termos no sentido piagetiano), quer dizer: de um ― conhecimento você tem a orientação no mundo dos valores por outro. Como se articulam essas duas coisas? Quando se fala do progresso do conhecimento... Eu não posso acreditar em progresso do conhecimento, porque progresso do conhecimento existiria se aparecessem pessoas capazes de articular, dentro de uma orientação geral, volumes cada vez maio-res de conhecimento e de integrá-lo de uma maneira cada vez mais ordenada e nítida. E isso não surge, o que aumenta é o número de registros de conhecimento. Registros de conhecimento não são conhecimentos, são apenas possibilidades de conhecimento. Se você tem uma biblioteca inteira que ninguém leu, você vai dizer que aquilo é conhecimento? O que é um conhecimento que ninguém conhece? Se não tem um único sujeito que saiba tudo aquilo, então aquilo não é conhecimento! Daí que foi surgir a minha concepção da pedagogia da filosofia, que é o que estou praticando aqui. As faculdades de filosofia que existem, principalmente no Brasil, visam a produzir mais registros de filosofia – que ninguém vai ler. Mas o ensino de filosofia não pode ser voltado para isto – criar novos trabalhos acadêmicos –, mas para criar novos filósofos, ainda que estes filósofos não escrevam uma linha! Você tem que capacitar mais pessoas ao conhecimento integrado e ordenado vivido como experiência real e, ao mesmo tempo, expressável em formas culturalmente válidas. É isso o que nós temos que fazer e é isso o que eu estou tentando fazer. O objeto do ensino da filosofia não é criar filosofias, é criar filósofos. E o que é o filósofo? Filósofo é uma pessoa devotada a isto e capacitada para tal. Esse é o objetivo do nosso curso.

 

Eu não sei se ficou faltando alguma coisa, mas eu só quis fazer esta relação pra mostrar pra vocês o seguinte: o conjunto do que eu fiz está fora da cultura brasileira. Não tem nada a ver com a cultura brasileira. E o que quer que vocês leiam a meu respeito, seja a favor ou seja contra, é absolutamente irrelevante, gente. Para compreender o que eu estou fazendo, é preciso ter estudado essas coisas. E quando eu vejo a confusão, como fez o Martim [ao dizer que] o Bruno tem uma filosofia e essa filosofia transcende a do Olavo. Bem, se transcendesse eu seria o primeiro a perceber! Eu vejo, por exemplo, que o Mário Ferreira tem uma amplitude de temáticas filosóficas que eu não alcanço! Ele abordou muito mais coisas do que eu, e coisa que ainda vou estudar nos próximos anos. Não há aí desonra nenhuma. Ao contrário: um filósofo de verdade, quando encontra um grande filósofo, tem um orgasmo! Agora, o intelectual brasileiro tem um acesso de inveja e quer destruir aquilo de qualquer maneira, não se conforma que aquilo exista. Eu não consigo me imaginar tendo inveja do Mário Ferreira, pelo contrário! Eu tenho uma gratidão imensa por sua existência, ainda bem que ele existiu, porque resolveu um montão de problemas que, se ele não resolvesse, eu mesmo teria que resolver, e aquilo iria tomar a minha vida inteira e talvez eu não conseguisse! A filosofia se constrói por patamares, não é? Você não tem que superar todos os problemas desde o início, há um monte deles que já foram resolvidos. E a gente vive precisamente disso!

 

Mas no Brasil não, no Brasil isso tudo é assim: é uma competição pra ver quem é mais bonito. Porque cada um tem que ser o mais bonito da paróquia, então se alguém vê outro que é melhorzinho, fica louco da vida, não agüenta aquilo! Essas pessoas não podem ter um dos grandes prazeres da vida que é descobrir que há uma grande inteligência que o ilumina! Porque quanto mais a receberem da sua inteligência, mais elas vão ficar com raiva de você! Por isso vão ficar loucos de dizer que foi você que descobriu aquilo, e não elas! É uma coisa de uma mesquinharia imensurável! Eu considero a mesquinharia brasileira uma das sete maravilhas do mundo, porque não há paralelo existente!

 

Outro dia eu estava revendo aí o que as pessoas católicas escreveram a meu respeito... E note bem, não estou falando comunistas, não estou falando gente do MST. Estou falando de católicos! Tudo o que eles escreveram foi no sentido de alertar as pessoas para que fujam de mim. Orlando Fedelli é o mais claro de todos: ― Não leiam o Olavo de Carvalho, não o leiam, não escutem o que ele está dizendo! Interessante. Agora, ele pode ler. Porque se ele leu, ninguém mais precisa ler! Ele é a Sa-grada Congregação para a doutrina da fé, é a Santa Inquisição, ele leu, então proíbe, me põe no Index Librorum Prohibitorum e ninguém mais pode ler! Quando eu era moleque eu tinha o Index Librorum Emprestadorum: eu anotava o que eu tinha emprestado porque os livros nunca voltavam! Então tudo era no sentido de: ―Não, não vai lá no homem, vem aqui que a gente ensina um negócio ortodoxo, bonitinho pra você... Tudo é sempre nesse sentido. Agora, pegar esse conjunto aqui e fazer uma análise crítica... Imagina se eles são capazes de fazer? Não são! Você pega a Igreja Católica inteira no Brasil, não tem ninguém. Caso some todos, ainda assim não são capazes de fazerem isso.

 

E o Mário Ferreira? Muito menos! Eu sei que a filosofia do Mário Ferreira esteve aí depositada co-mo um caos, até que eu cheguei lá, li aquela coisa toda e falei: ―a chave está aqui, a ordem está ali. Aí ficou fácil! Mas no Brasil, se você descobriu uma coisa e as pessoas querem escrever algo a respeito, elas têm que esconder o que veio antes. Eu, quando estou trabalhando dentro de uma área aberta por um outro, a primeira coisa que digo é a seguinte: ― estou aqui trabalhando dentro dos cânones que foram estabelecidos e fundados por Fulano de tal. Nós temos que dar esta informação porque senão você está confundindo o meio-de-campo. As pessoas têm que saber qual é o status quaestionis, e o status quaestionis é o relato da ordem do que foi descoberto. Agora, se eu quero apagar o que veio antes, então já nem leio o status quaestionis! Agora, melar o status quaestionis é a base da vida intelectual brasileira. Por exemplo, este menino, Mauro Sá Martino, que está escrevendo o prefácio de Mário Ferreira dos Santos, ele nunca disse: ― tem uma estrutura nisto aqui e quem descobriu essa estrutura foi o Olavo. Essa estrutura é quase invisível dentro da obra, você precisa pegar a coisa como um conjunto. Então estou trabalhando dentro do território aberto pelo Olavo de Carvalho, quer dizer, se o Olavo de Carvalho errou, estou errando na cola dele, e se ele acertou, estou acertando na cola dele. Não, o sujeito não diz isso, jamais! No Brasil é assim, esconder fonte é a norma. Eu pratico [o contrário do que o Mauro faz] até no jornalismo: tudo o que escrevi do Foro de São Paulo, a toda hora eu digo: ― minha gente, quem descobriu isso não fui eu, quem descobriu isso foi José Carlos Graça Wagner. Ele descobriu e me deu os documentos, eu só sei da coisa porque ele me deu os documentos, eu não descobri nada! O meu único mérito foi ler o que ele me deu pra ler! Em todos esses casos aqui, eu sei o que eu recebi da tradição filosófica e o que eu descobri por mim mesmo. Esse negócio do anão sentado no ombro de gigante... Às vezes é, às vezes não é. Não interessa se é gigante, se é anão, o problema não é esse. O problema é que veio um depois do outro! Eu não posso ter descoberto o que os meus antecessores descobriram! Eu não tenho que dizer que eles são maiores do que eu porque eles vieram antes – nem menores! É simplesmente a ordem normal. Veritas filiae tempus – a verdade é filha do tempo, dizia Sto. Tomás de Aquino. Então isso aí forma o status quaestionis. O reconhecimento da dívida com o antecessor não é uma questão de educação. Porque no Brasil se pensa assim. No máximo se pensa que se você deixar de citar a fonte é uma falta de educação. Mas não é falta de educação! É uma distorção do próprio assunto, da própria matéria de que se está lidando! Se você não sabe a história das investigações que levaram o conhecimento da coisa até este ponto, você não sabe onde está! E se para você enunciar a teoria você tiver que apagar a pista, você está querendo que as pessoas que estão lendo não conheçam o status quaestionis! Mas isto no Brasil é a norma, não é uma exceção. Não é Fulano que fez...

 

Então, outro dia eu estava fazendo uma lista do que os católicos – católicos! – disseram a meu respeito... Mas é uma baixaria que comunista não é capaz! Eu fui do Partido Comunista gente, eu conheço isto por dentro! Os intelectuais na ordem do Partido Comunista são respeitados [de forma] que você não imagina! Você não vai encontrar um comunista tentando esculhambar com um intelectual importante do partido. Jamais fará isso! Porque ele sabe que ele depende desses intelectuais para as análises de conjuntura, etc, e que tudo o que o partido faz está dentro de um território cognitivo aberto por eles. Agora, e no nosso meio católico? Olha, eu digo que sou católico no mundo inteiro, mas no Brasil não sou não. No Brasil eu sou macumbeiro, Seycho-no-ie, qualquer coisa - eu não tenho nada a ver com esse treco que aí vocês chamam de Igreja Católica e que pra mim não é Igreja Católica nada, é outra coisa que eles inventaram e não tem nem nome!

 

[...]

 

Argumentos contra o Olavo são do tipo: ― fuja do Olavo porque o Olavo é gnóstico. Se você não capta o conjunto da minha filosofia, você não pode saber se sou gnóstico ou não. Isso é impossível! 

 

Então você faz favor, pega tudo isto aqui que eu lhe expliquei, articula tudo, expõe e daí diz: ― as conclusões dele são gnósticas. Agora, concluir que eu sou gnóstico porque citei um autor gnóstico, ou porque falei uma frase que parece gnóstica, só na cabeça de um retardado mental como Orlando Fedelli. Outro argumento é: ― Fujam do Olavo porque ele cavou dinheiro da Opus Dei‖. Isso é mentira! Outro dia apareceu um idiota dizendo: ― ele foi cavar dinheiro na TFP. Como cavar dinheiro na TFP se ela foi falida? Tiraram tudo o que a TFP tinha e eu ainda vou ter a cara-de-pau de pedir dinheiro pra eles? Que é isso, minha gente? Eu só estive na TFP duas vezes: uma vez em São Paulo com o Dom Bertrand e outra vez aqui nos EUA com o Mário Navarro da Costa e das duas vezes fui convidado! E na Opus Dei? Eu não sei onde é a sede da Opus Dei. Nunca conversei com um dirigente da Opus Dei. Nenhum. Se o cara é dirigente não me contou. Eu tenho dois ou três amigos em São Paulo que são membros da Opus Dei. Não tenho a menor idéia do que eles fazem lá dentro! Se o sujeito é sargento, coronel ou recruta, não sei! Mas é assim, a natureza, o sentimento mais profundo do catolicismo brasileiro é a maledicência, a fofoca! Isso que pra eles é ser católico! A lista das fofocas é tão grande... Mas é só fofoca, é só baixaria! E de vez em quando aparece um cara fingindo uma seriedade doutrinal. Por exemplo, outro dia havia um camarada discutindo: ― É lícito ao filósofo usar palavras de baixo calão? Daí ele montava a coisa como se fosse um capítulo da Suma Teológica: ― alguns dizem que sim por isso, outros dizem que não, a solução do problema é tal... O que ele está supondo? Que nos escritos filosóficos estou usando palavrões. Mas, que eu saiba, eu uso palavrão num programa de rádio que eu inventei para responder aos meus e-mails! Agora, o cara está ali falando como se a minha argumentação filosófica se constituísse de, como diz aquele idiota do Anselmo Heidrich, rosários de impropérios. Quer dizer que eu fui lá e provei a teoria dos quatro discursos com rosários de impropérios? É isso o que ele está querendo dizer? É este o nível da discussão que os católicos do Brasil me oferecem.

 

Você quer saber? O pessoal comunista é muito mais limpo, muito mais correto e muito mais honesto do que esses católicos. E eles não são exceção [no meio católico], são quase a regra. Porque o número dessas pessoas nas organizações católicas é excessivo e os seus superiores, que dizem desaprová-los, jamais fazem nada para calar-lhes a boca. Jamais os repreendem. Porque têm medo de perder membros depois. Não querem ser impopulares. Então deixam o sujeito mentir, deixam o sujeito difamá-lo, deixam o sujeito caluniá-lo e daí em particular, dizem: ― ah, mas eu não aprovo. E isso inclui padres. Vou contar uma coisa: houve aquele episódio no Rio de Janeiro do João Ricardo Moderno. Nós lançamos o livro Imbecil Coletivo numa parceria entre a Faculdade da Cidade e a Academia Brasileira de Filosofia. Como o livro pegou mal no meio acadêmico, imediatamente o sujeito colocou um aviso no Jornal do Brasil dizendo: ― A Academia Brasileira de Filosofia não tem nada com isto. Isto foi uma fraude, usaram o nome.... Daí eu não tive remédio senão publicar a foto dele mesmo no lançamento, a nota fiscal da gráfica emitida para a Academia Brasileira de Filosofia e outras coisas e falar: ― está aqui! Este sujeito evidentemente está mentindo, é um vigaristinha. E eu repito que é um vigarisitinha. Daí eu recebo um telefonema do Dom Odilon Moura, São Bento, dizendo: ― onde já se viu você falar isto? O João Ricardo Moderno confessa e comunga, é um membro da Igreja! - e eu digo: ― Então o senhor diga isso para ele, porque eu também sou um membro da Igreja, e não se mente contra um membro da Igreja. Agora, estou me limitando a me defender. Será que eu sou obrigado a aceitar uma mentira contra mim só porque o sujeito é um membro da Igreja? Então o que o senhor está dizendo é que ser um membro da Igreja dá a ele o direito de praticar a difamação sacrossanta – e o difamado tem que ficar quieto?. Daí ele não tinha mais o que dizer, acabou a conversa, e ele foi falar para o Bruno Tolentino: ― O Olavo não é uma boa pessoa. Uma boa pessoa é o João Ricardo Moderno. Veja: isto aí é o Dom Odilon Moura, não é um qualquer. Este é o nível de consciência moral dos católicos no Brasil, gente!

 

[...]

 

A hostilidade é muito mais profunda do que vocês imaginam. É uma sociedade antropofágica! Quando pegam um sujeito de talento, que estudou, a sociedade brasileira permite a formação desse sujeito para comê-lo vivo, destruí-lo! Como destruíram, por exemplo, Gustavo Corção; como destruíram Otto Maria Carpeaux! Pegaram o Otto Maria Carpeaux, que era o maior erudito que tinha no Brasil e o transformaram num office-boy do Partido Comunista que durante os últimos vinte anos de vida só escreveu artiguinho com mentira comunista, as quais o partido soprava na orelha dele e ele repetia. E daí morreu desesperado dizendo: ― joguei a minha vida fora! Claro que jogou! A hora que ele disse: ― eu não sou mais austríaco, agora eu sou brasileiro, ele se danou, aceitou a contaminação. O que prestava era a raiz austríaca! O lado brasileiro é tão cafajeste quanto o dos outros. Então, como austríaco, ele poderia dar uma contribuição brasileira. Mas só poderia nos aju-dar à medida que conservasse o legado austríaco e se orgulhasse dele.

 

O Bruno foi um sujeito que foi destruído pelo meio, disso eu não tenho a menor dúvida. Destruíram o Bruno na base da lisonja, da puxação-de-saco. Desviaram o Bruno da missão que era dele. Eu dizia que o Bruno tinha uma missão educativa no Brasil. Ele tinha de restaurar o sentido do gosto literário, tinha de restaurar a crítica literária de alto nível que havia nos anos 50. Ele era o único que poderia fazer isso e não fez! Ficou aí em festinha e aventura, e se dispersou e acabou também jogando a vida dele fora – sua tragédia mesmo! Mas o Bruno era um sujeito dividido! Era um homem de uma riqueza interior enorme, mas era dividido, ele não tinha unidade, portanto não tinha fibra pra conduzir a vida dele. Eu digo isso — ele era um grande amigo meu, tenho um amor sem fim pelo Bruno —, mas ele era um fraco. A gente tem que dizer as coisas como são. Não o estou criticando por isso, eu compreendo o tamanho da tragédia dele. Eu, se estivesse no lugar dele, também não faria melhor não!

 

O Mário Ferreira nunca foi destruído, mas foi jogado na lata do lixo depois de morto. Os livros dele, enquanto estava vivo, vendiam aos milhares. Na hora que morreu, sumiram! Veja o caso do José Guilherme Merquior: acabaram com o sujeito! Quando o José Guilherme Merquior apareceu no Brasil e os caras foram entrevistar ele na televisão, perguntaram: ― como é a sua vida sexual?. O homem ficou totalmente sem jeito! Se fosse eu que estivesse lá eu falaria: ― ah, você quer saber? Eu vou contar, mas depois você não vá reclamar, hein? Faz assim: você pega o peru, tal, e faz assim, assim e assim. A minha é assim, a sua não é?Então eu iria descrever tudo nos mais mínimos detalhes anátomo-fisiológicos e dizer: você quis saber, agora eu expliquei!‖. Eu não vou permitir que um sujeito desse me deixe sem jeito. Não, sem jeito vai ficar ele que está brincando aqui comigo!

 

Sem jeito, meu filho, eu fico diante de Deus. Eu coro, eu fico com vergonha na cara quando vou falar: ― Ó, Deus, venho aqui, eu de novo com aquelas mesmas merdas de sempre. Fiz de novo, olha aqui, não tem jeito, não sei como você me agüenta!‖ Aí eu fico com vergonha! Perante Deus. Ficar com vergonha perante esses vagabundos, mas o que é isto, meu filho? Mas nunca! Do mesmo modo, não permita que gente faça isso com você, não permita que professor de faculdade faça isso com você, não permita que padre da Igreja faça isso com você! Você tem que se humilhar totalmente perante Deus, você tem que abrir o coração e mostrar você pra Deus como você é, com toda a sua miséria, porque Ele agüenta tudo! E se você mostrou isso, você fala: ― Eu sei das minhas misérias que você não sabe, meu filho! Eu contei tudo pra Deus, você nunca vai saber! Você não vai nem entender. Então você quer me deixar sem jeito? Você está brincando? Querendo me fazer pagar mico? Já paguei mico diante de Deus! Paguei todos os micos. Mas não sou eu que pago, é ele que pagou os meus micos, quem foi crucificado foi ele, não fui eu!‖ Na hora que você tem isso, você é sincero pra Deus, e você não fica mais com vergonha quando as pessoas querem envergonhá-lo, porra! Agora o Brasil, a sociedade brasileira, é um sistema de mico mútuo! Eles se dominam uns aos outros fazendo os outros pagarem mico. Eu não conheço povo que tenha mais medo do ridículo do que brasileiro. E por que eu vou ter medo do ridículo? Eu sou rídiculo mesmo, qual é o problema? Todos nós somos, nós somos uns merdas! Por que você vai ter medo disso aí?

 

Mas o nível das discussões no Brasil, e o que se fala dos meus escritos, da minha obra, é tudo coisa assim. É lógico que eu não estou escrevendo pra essa gente. Estou escrevendo pra vocês! Porque vocês estão dispostos a estudar e entender. Aos outros, esqueçam! Principalmente quando chegar alguém com ares professorais, sobretudo querendo dizer: ― O Olavo está filiado a tal escola assim e assim. Você conhece alguma escola que tratou de todos esses assuntos aqui? Qual? Alguém que descobriu essas coisas antes de mim? Não, não tem! Então não é que eu pertença a alguma escola. Eu inventei uma escola! Isso é uma simples realidade, não estou falando, como diz o Lula, "pra me gambá", mas é porque simplesmente é verdade.

 

Então eu adotei como norma a divisa do Don Quixote: Yo sé quien soy. Eu sei quais são as minhas virtudes, quais são os meus defeitos, qual é o meu tamanho, não precisa vir você querer que eu calce o seu sapato. O meu sapato é do meu tamanho. Então eu espero que cada um de vocês evolua, cresça, desenvolva e se fortaleça neste sentido, de você ter o seu próprio mundo de preocupações, o seu próprio mundo de vida interior. E quando você disser a palavra EU, você dizer aquilo com conhecimento de causa: eu fiz tal coisa, eu não fiz tal outra. Porque uma coisa importante é saber quais são os seus pecados, para quando o acusarem de um pecado que você não fez, você dizer: ― olha meu filho, eu fiz tudo, mas isso aí não. Fiz até coisa pior do que essa, mas essa aí eu não fiz, então não adianta você querer... Você não queira saber o prazer que é conhecer os seus peca-dos melhor do que o seu vizinho conhece! É melhor que o prazer sexual. É uma libertação. Só que para isso é necessário que a sua vida moral, a vida do seu coração, seja vivida numa ligação dialética estreita com a sua vida de aprendizado. Que as duas coisas sejam uma só, porque senão você vai cair no dualismo trágico. Então por hoje é isso aí. Lamento, hoje não tem pergunta, ninguém vai agüentar. Até a semana que vem e muito obrigado."

Postado
Agora, Norton disse:

 

Mais um CSI hipertrofia. kkkkk

Agora, muito provavelmente, estäo tentando juntar informacöes sobre minha vida. 

Vou até ajudar. Uma foto minha de 2009:

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