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Postado (editado)
1 hora atrás, Super Fitness disse:

Galera alguém sabe de algum estudo relacionado aos rins utilizando este tipo de dieta, o uso de magnésio e potássio  é recomendado mais em relação ao consumo de proteína que geralmente excede as 2g/kg chegando em 3~4g/kg , não teria algum impacto a longo prazo ?

 

Alto consumo de proteína não está ligado diretamente a doenças nos rins, e uma dieta low carb não é alta em proteínas é em gorduras as proteínas pode deixar no mesmo de antes, 2g por kg ou menos no caso de uma cetogênica.

 

A dieta é perigosa para os rins?

 

Spoiler

A dieta é perigosa para os rins?

 
Uma objeção frequente às dietas de baixo carboidrato (low-carb) é a de que seriam perigosas para os rins. Normalmente, o que se escuta é uma variação da seguinte frase: "esta dieta da proteína vai acabar com os seus rins". Bem, vamos analisar este problemas sob seus vários ângulos.

1) Qual a relação entre consumo de proteínas e doença renal?
Pacientes com insuficiência renal crônica têm dificuldade em excretar diversas substâncias, entre elas aquelas derivadas do metabolismo das proteínas. Assim, é fato que pacientes previamente portadores de insuficiência renal crônica não devem submeter-se a dietas hiperprotéicas. Mas isso não diz NADA a respeito do consumo protéico de pessoas normais. Trata-se de uma falácia lógica. Se você está com uma perna quebrada, você não deve fazer uma caminhada longa. Isto não significa que se você fizer uma caminhada longa, você quebrará a perna. O que diz a ciência sobre o assunto? Vejamos:

- Martin WF, Armstrong LE, Rodriguez NR. Dietary protein intake and renal function. Nutr Metab (Lond). 2005 Sep 20;2:25.
 Este interessante artigo vai ao âmago da questão. Eis alguns pontos importantes: a) o aumento do consumo protéico é uma das estratégias de perda de peso, e obesidade é um fator de risco para doença renal. B) o aumento do consumo protéico está associado com diminuição da pressão arterial, e pressão alta é um fator de risco para doença renal.
A filtração glomerular (uma medida do funcionamento renal) aumenta com o aumento do consumo de proteínas. Em pacientes com doença renal pré-existente, o consumo de proteínas parece estar associado a uma queda progressiva da função renal. Já em pacientes com função renal normal, não foi encontrada nenhuma associação. Em estudos experimentais em animais, o consumo de grandes quantidades de proteínas está associado à hipertrofia (crescimento e aumento de função) dos rins. Esta hipertrofia é um processo normal e aparentemente benéfico, análogo ao que acontece quando o rim residual sofre hipertrofia após a retirada cirúrgica de um dos rins. Os autores afirmam: "alegações de que uma dieta de alta proteína promove desidratação ou "força" adversamente o rim permanecem especulativas". Os autores revisam e literatura e constatam que em inúmeros estudos de dietas hiperprotéicas para perda de peso "não há relatos de diminuição da função renal induzida por proteínas mesmo em pacientes que, devido a hipertensão, obesidade e dislipidemia, teriam um risco maior de insuficiência renal". Citam ainda outros estudos prospectivos em pacientes saudáveis que não demonstram alterações adversas da função renal ou da excreção urinária de albumina (um marcador de dano renal). Estudos em atletas e fisiculturistas que consomem doses de proteína 200% ou mais acima dos níveis tradicionalmente recomendados não apresentam incidência aumentada de doença renal. Finalmente, estudos em modelos animais de ratos e cães alimentados com doses elevadíssimas de proteínas (de 50% a 60% das calorias) por longo prazo (anos) não identificaram doença renal, a despeito do aumento (já referido) da filtração glomerular (hipertrofia renal).
Outro estudo indica que pacientes obesos não sofrem piora da função renal com dieta hiperprotéica. Outro estudo salienta que o consumo aumentado de proteínas por atletas não é deletério. Outro estudo avaliou de forma prospectiva pacientes em dieta low-carb por 1 ano, e não encontrou nenhuma evidência de dano renal. O nome deste próximo estudo já diz tudo: "Substituição de refeições com uma dieta enriquecida em proteínas não afeta de forma adversa a função renal, hepática ou a densidade óssea." E, por falar em densidade óssea, não custa comentar que estudos como este e este indicam que uma dieta aumentada em proteínas não apenas não afeta negativamente, mas afeta positivamente a saúde dos ossos. Enfim, o medo da proteína resulta exclusivamente de uma falácia lógica, tão primária a ponto de ser infantil.

2) Quem disse que uma dieta de baixo carboidrato é necessariamente uma dieta hiperprotéica?
Embora seja comum referir-se às dietas low-carb (como a dieta Atkins, por exemplo) como "dieta da proteína", isto não é correto. Na verdade, as proteínas tendem a ser o macronutriente mais constante nas dietas, sendo que os carboidratos e as gorduras é que variam mais. No trabalho fundamental sobre dietas, QUE TODOS DEVERIAM LER, fica evidente na tabela 2 que a proporção de proteínas não varia quase nada entre as dietas mais low-carb e mais low-fat. O que varia é apenas o resultado: a dieta Atkins é superior a todas as outras em perda de peso e em TODOS os fatores de risco cardiovascular. Mas isto não é novidade. O  grande Dr. Yudkin, a quem já me referi em outro post, já em 1970 publicava interessante artigo no qual deixava claro que a quantidade de proteína na dieta low-carb era praticamente igual à da dieta tradicional. Aliás, é um artigo que vale a pena ser lido. Já no segundo parágrafo, consta que a dieta de baixo carboidrato era a opção preferida para perda de peso entre os médicos britânicos. Como o mundo dá voltas, não?

3) Por que motivo a dieta com a qual evoluímos seria deletéria? Eu sei que é um argumento circunstancial, mas, não obstante, trata-se de forte argumento. Você postularia que o capim é tóxico para os rins da vaca? Coalas evoluíram comendo folhas de eucalipto. Você proporia como provável a hipótese de que o eucalipto  é nefrotóxico para os coalas? Então por que os alimentos consumidos por nossa espécie há milhões e anos seriam tóxicos? A plausibilidade deve ser levada em conta. Sugiro a quem tiver interesse em aprofundar-se no assunto que leia este artigo sobre plausibilidade.

Em resumo: a dieta de baixo carboidrato e a dieta paleolítica não são dietas de alta proteína. Mas, mesmo que fossem, não há NADA na literatura científica que indique que isto pudesse prejudicar os rins de pessoas normais.
 
27/09/12 - atualização
Uma leitora do blog me enviou a seguinte matéria, que reproduzo, abaixo(http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/926200-dietas-de-proteinas-nao-atacam-os-rins-dizem-estudos.shtml)
 
06/06/2011 - 19h28

Dietas de proteínas não atacam os rins, dizem estudos

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ANAHAD O'CONNOR
DO "NEW YORK TIMES"

The New York Times Qualquer um que já realizou uma dieta com alto teor de proteínas provavelmente ouviu este aviso: você pode perder peso, mas se arriscará a ter problemas nos rins.
A ideia é que processar grandes quantidades de proteínas sobrecarrega os rins, que filtram o sangue e removem resíduos. Porém, há poucas pesquisas sustentando essa afirmativa.
Num estudo publicado em "The International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism", pesquisadores recrutaram fisiculturistas e outros atletas e examinaram sua função renal durante sete dias --enquanto eles seguiam dietas de alto e médio teor de proteínas. Pelos resultados, todos os indicadores da função renal permaneceram dentro do intervalo normal entre os atletas que consumiram grandes quantidades de proteína.
Num estudo muito maior, publicado em "The Annals of Internal Medicine", pesquisadores examinaram o consumo de proteínas em 1.624 mulheres num período de 11 anos. Eles descobriram que as dietas de proteínas não causavam problemas em mulheres com funções renais normais. Porém, em mulheres com uma "leve insuficiência renal", o consumo exagerado de proteínas acelerava o enfraquecimento dos rins.
Pesquisadores da Universidade de Connecticut chegaram a uma conclusão similar quando revisaram anos de pesquisas sobre o assunto, num relatório de 2005 publicado na revista "Nutrition & Metabolism".
Para quem está pensando em iniciar uma dieta assim, exames físicos e de função renal podem revelar quaisquer problemas ocultos.
Conclusão: estudos mostram que, em adultos saudáveis, o consumo elevado de proteínas não coloca um excesso de pressão sobre os rins.

 

http://www.lowcarb-paleo.com.br/2012/05/dieta-e-perigosa-para-os-rins.html

 

Diabetes e insuficiência renal: qual a melhor dieta?

 

Spoiler

Diabetes e insuficiência renal: qual a melhor dieta?

 
Já escrevi previamente sobre o assunto dieta low carb e função renal. Sugiro fortemente a leituradaquela postagem, antes de continuar.

É muito comum a afirmação, por parte não apenas de leigos mas, embaraçosamente, também por profissionais de saúde, de que uma dieta low carb provocaria "sobrecarga" dos rins. É embaraçoso porque profissionais de saúde deveriam basear suas opiniões em evidências. Repetir lendas urbanas, empregando expressões pseudocientíficas como "sobrecarga renal", que não têm suporte na preponderância da literatura peer reviewed, seria estranho em qualquer outra área das ciências da saúde, exceto na nutrição, onde tal prática é costumeiramente tolerada.

O Dr. José de Rezende Barros Neto, nefrologista, presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia, nos brindou com o texto abaixo, que reproduzo a seguir.


 
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Dr. José Neto em sua clínica de hemodiálise
 
DIABETES E INSUFICIÊNCIA RENAL: QUAL A MELHOR DIETA?
 
Se a ciência da nutrição é confusa quando trata de pacientes em geral, vocês não imaginam o que acontece quando passa-se a focar em um grupo especial, como aqueles com algum problema renal. Recebi do amigo Dr. Souto, há cerca de 2 meses, um ensaio clínico randomizado publicado em 2003, que eu não conhecia, e que alicerçou, ainda mais minhas convicções sobre o tema.
 
Contextualizando, sou um médico mineiro, nefrologista e que teve a vida transformada nos campos pessoal e profissional após conhecer os pilares da dieta low carb paleo, utilizando-se amplamente das informações divulgadas, com extremo rigor científico, no blog do Dr. José Carlos Souto.

Eis o estudo:
 
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A doença renal crônica é uma pandemia mundial. Trata-se da perda progressiva da função dos rins. Hoje temos mais de 100.000 pessoas fazendo diálise no Brasil. Diabetes e hipertensão arterial sistêmica, pilares da síndrome metabólica, respondem por ampla maioria dos casos, alternando-se como causa campeã de acordo com a série de casos.
 
Apesar da fraca evidência que cerca a restrição de proteínas no tratamento da progressão da doença nos nefropatas (pacientes com problemas renais), isto é, sem dúvida, aquilo que os pacientes escutam da maior parte dos profissionais de saúde quando apresentam qualquer tipo de problema com esse órgão.
 
Vale salientar que existe gravidade variável com relação à disfunção renal. Essa classificação que varia de 1 (mais leve) até 5 (mais grave) é baseada em um exame chamado clearance de creatinina, que pode ser inferido através de fórmulas, ou medido diretamente através da coleta de urina de 24 horas.  
 
A individualização é fundamental no tratamento dos nefropatas de acordo com a causa da lesão e sua gravidade.
 
Esse estudo californiano foi desenhado para testar a hipótese se uma dieta restrita em carboidratos, ferro e enriquecida com polifenóis (CR-LIPE) poderia retardar ou melhorar a progressão da nefropatia diabética (doença renal causada pelo diabetes) quando comparada à dieta tradicional onde o grande pilar é a restrição de proteínas (Control).
 
O racional para uso de uma dieta com baixo teor de carboidratos em diabéticos é óbvia, visto que a doença tem nesse macronutriente seu principal vilão. Existem evidências de modelos experimentais sugerindo que polifenóis (presentes em chás, vinho, azeite) poderiam ser protetores para os rins, e que o ferro poderia ser um fator ofensor, sendo essa a razão da associação desses pontos à dieta low carb.
 
A dieta CR-LIPE reduzia em 50% o consumo prévio de carboidratos dos pacientes, substituía carnes ricas em ferro (boi e porco) por pobres (frango e peixe), eliminação de bebidas (leite liberado no desjejum) que não fossem água, chá e vinho tinto (máximo 300 ml/dia), uso exclusivo de azeite extra virgem (ricos em polifenóis) para saladas e frituras. O consumo de alimentos, com exceção dos carboidratos, não tinha qualquer tipo de restrição (nem de proteínas). A dieta do grupo controle foi o padrão recomendado habitualmente para insuficiência renal, com restrição proteica (0,8 g/Kg) e isocalórica para o peso corporal do paciente. A composição das dietas pelo seus macronutrientes ficou conforme a tabela abaixo.
 
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Foram randomizados 191 pacientes diabéticos com creatinina média na faixa de 1,8 mg/dl (lesão renal leve a moderada de acordo com peso, sexo e idade). Os desfechos estudados foram duplicação no valor da creatinina (exame laboratorial utilizado para medir a função renal) e uma taxa composta de pacientes com doença renal crônica terminal e mortalidade geral. O tempo médio de acompanhamento foi de 3,9 anos.
 
Os resultados foram extremamente favoráveis à intervenção low carb. Redução de risco ABSOLUTO de 18% na dobra da creatinina (A) e de 19% no desfecho composto(B) - (evolução para doença renal crônica terminal ou morte).
 
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Apesar de acreditar que uma boa taça de vinho e que a retirada de carnes ricas em ferro possam ter contribuído nos ótimos resultados obtidos com a dieta implementada, a plausibilidade biológica da retirada dos carboidratos em diabéticos, mesmo que para níveis ainda considerados altos em uma dieta low carb (35% no referido estudo), faz todo o sentido na redução de desfechos clínicos nos pacientes com nefropatia diabética.
 
Pacientes com lesões renais independente da etiologia, principalmente quando mais graves, podem se beneficiar de uma restrição de proteínas, afinal de contas os rins estão envolvidos diretamente no metabolismo desse macronutriente. Apesar disso, não existe evidência suficiente para determinar que isso seja uma regra para todos.
 
Já no caso específico dos diabéticos; esses sim,  sabidamente se beneficiam da retirada de carboidratos de sua dieta, e é lógico imaginar que as consequências danosas causadas por essa doença, como a lesão renal, são mitigadas com essa intervenção.
 
Aqui retorno eu, Souto, ao tema. Quem já leu a postagem de 2012, viu que há vários ensaios clínicos randomizados mostrando não haver evidência de dano renal, em humanos, com dieta low carb. O diferencial do estudo acima é que, além de ser prospectivo e randomizado, com 191 pacientes e com o incrível seguimento médio de quase QUATRO anos, eram pacientes que já sofriam de insuficiência renal crônica. E - MUITO importante - os desfechos medidos não eram desfechos substitutos (como filtração glomerular, etc), e sim a duplicação da creatinina (ou seja, piora significativa da doença renal) e MORTE.

Gostaria de chamar atenção para alguns detalhes. No estudo acima, a dieta que estava associada com maior mortalidade e maior evolução para insuficiência renal crônica grave tinha 10% de proteínas. A dieta que mostrou uma grande redução absoluta na duplicação da creatinina foi uma dieta low carb com 25 a 30% de proteína em sua composição. Entenda: não se trata de propor uma dieta hiperproteica para pessoas com insuficiência renal. Mas, quando um ensaio clínico randomizado indica que a dieta com menos carboidrato e mais proteína PROTEGE o rim de pessoas com insuficiência renal crônica já estabelecida, eu gostaria de saber qual a base para escrever no jornal que pessoas NORMAIS estarão "sobrecarregando" seus rins ao seguir uma dieta de baixo carboidrato. E este é o momento em que ouço o som de grilos...

Será este o único estudo que indica isso? Evidentemente não. Além dos estudos já referidos na minhapostagem de 2012, há outros dois estudos observacionais de coorte gigantes que apontam para a mesma direção.
 
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Trata-se de estudo observacional com mais de SEIS MIL pacientes diabéticos com alto risco de desenvolver insuficiência renal, acompanhados de 2002 a 2008. Na tabela a seguir, podemos observar quais alimentos estavam associados a um risco aumentado ou reduzido de desenvolver insuficiência renal.
 
JAMA%2Bnefro%2B2.png

Os pontos à esquerda da linha vertical indicam REDUÇÃO do risco de desenvolver insuficiência renal. Os pontos à direita indicam AUMENTO do risco. Olhe novamente. Só há duas coisas que estão associadas com piora da função renal. Alimentos RICOS EM CARBOIDRATOS, e fast food/lanches/frituras de imersão.
Proteínas totais, proteínas vegetais, e proteínas animais (em amarelo) estão associadas a REDUÇÃO do risco de insuficiência renal.
Se você acha que eu posso ter trocado as coisas no parágrafo acima, ou se não está acreditando em seus próprios olhos, penso que o próximo gráfico, oriundo da mesma publicação, pode ajudar:
 
JAMA%2Bnefro%2B3.png

Este gráfico mostra, em sua porção superior, o risco relativo de desenvolver insuficiência renal.Valores abaixo de 1 indicam uma redução do risco. Por exemplo: um valor de 0,80 significa uma redução de 20% no risco relativo de prejudicar seus rins, se você for um diabético. E sua porção inferior, está a distribuição do consumo de proteínas nestes mais de 6 mil diabéticos. Observe que a maioria consumia apenas 0,4 gramas de proteína animal por dia. No entanto, podemos ver que um número menor deles consumia quantidades muito maiores, até 1,4g por Kg de peso. Neste estudo, a relação entre consumo de proteína animal e o desenvolvimento de insuficiência renal crônica em diabéticos foi INVERSA. Veja o gráfico você mesmo. Mais proteína no gráfico de baixo, menor risco no gráfico de cima.

Isto significa que eu defendo uma dieta hiperproteica para pessoas em risco de insuficiência renal?Não, NÃO. Até porque uma dieta low carb não é hiperproteica. Isto apenas reforça o fato de que a hipótese de que low carb "sobrecarrega" o rim é baseada em crendice e lenda urbana.

Será este o único estudo observacional de grande porte que indica a ausência de relação entre o consumo de proteínas e progressão de doença renal crônica? Não. Há um maior:
 
JASN.png

Neste estudo, OITO MIL e seiscentas pessoas foram acompanhada por um período médio de SEIS ano e meio. O gráfico da esquerda indica não haver relação entre o consumo de proteínas e função renal. E o gráfico da direita indica que o consumo de proteínas está inversamente associado à mortalidade por todas as causas. Ou seja, o grupo com menor consumo de proteína tinha menor chance de estar vivo ao final do estudo. A isto chama-se desfecho duro - morte não costuma ser um diagnóstico sujeito a erros.

Estes dois grandes estudos são observacionais. Como todo o leitor deste blog já sabe, estudos observacionais não podem estabelecer causa e efeito. Assim, é preciso que fique claro que não se pode afirmar que comer mais proteína irá reduzir o risco de desenvolver insuficiência renal. Não. Mas há uma coisa que se pode afirmar: que a ideia de que uma dieta low carb possa CAUSAR insuficiência renal está completamente refutada.

Para entender esta afirmação, vamos relembrar uma outra postagem:
 
"Já explicamos, à exaustão, que a existência de uma associação entre duas coisas não implica que uma é causa da outra, ou seja, que associação não implica causa e efeito
Mas aqui a coisa fica interessante: quando uma coisa efetivamente CAUSA a outra, obrigatoriamente haverá também uma associação entre elas. Ou seja, a associação não implica necessariamente que haja relação de causa e efeito, mas a relação de causa e efeito, quando de fato existe, evidentemente engendra a existência de uma associação. 
Corolário lógico? A ausência de associação entre variáveis, mesmo em estudo observacional, sugere fortemente a inexistência de uma relação de causa e efeito entre elas."
Vamos exemplificar?
 
  • Se o estudo tivesse encontrado uma associação estatística entre o consumo aumentado de proteínas na dieta e o desenvolvimento de insuficiência renal crônica, isso não significaria que consumir proteínas causa doença cardiovascular, e não autorizaria ninguém a dizer que as pessoas deveriam comer menos proteínas para evitar o desenvolvimento de insuficiência renal crônica (uma inferência de causalidade indevida). Tal achado, se houvesse, apenas permitiria levantar uma HIPÓTESE a ser testada em ensaios clínicos randomizados.
  • CONTUDO: grandes estudos epidemiológicos que NÃO encontram associação entre o consumo de proteína e o desenvolvimento de insuficiência renal crônica praticamente eliminam a possibilidade de que proteína possa CAUSAR doença renal.
  • Entenda: correlação não implica necessariamente causalidade, mas causalidade implica necessariamente correlação. Assim, a AUSÊNCIA de correlação efetivamente REFUTA a existência de causalidade.
Em bom português: não há como o consumo de proteína ser uma CAUSA de insuficiência renal crônica e, ao mesmo tempo, não estar associado (ou, pior ainda, estar INVERSAMENTE associado) com insuficiência renal crônica em grandes estudos epidemiológicos. 
 
O que nos traz novamente ao ensaio clínico randomizado relatado pelo nefrologista José Neto, acima. Se por um lado os estudos epidemiológicos acima refutam a ideia de que low carb, mesmo com pequeno aumento de proteínas, cause "sobrecarga renal", o ensaio clínico indica que low carb SEM restrição proteica (mas NÃO hiperproteica) é MELHOR para preservar a função renal de quem já é portador de insuficiência renal crônica, quando comparado com a dieta tradicional de restrição proteica, sem restrição de carboidratos.
 
À luz de tais evidências, podemos avaliar um relato de caso publicado:
Relato.png
 
Este é um relato de caso cujo título é "Uma dieta low carb pode PREVENIR insuficiência renal terminal em diabetes tipo 2". No gráfico acima, pode-se observar o aumento concomitante de peso de de creatinina no decorrer dos anos, até a adoção de uma dieta low carb, quando o peso cai acentuadamente e a creatinina para de subir, e cai um pouco.
 
Relato2.png
 
Neste gráfico, podemos ver aumento progressivo da hemoglobina glicada e doses crescentes de insulina injetada (até um máximo de 45 unidades por dia). Então, com o advento da dieta low carb, a insulina injetável é completamente eliminada (lembrando que trata-se de diabetes tipo 2), enquanto a hemoglobina glicada cai de 8 para 6,5%.
 
Relato3.png
 
O gráfico acima mostra a evolução da albuminúria, isto é, da perda de proteína na urina, que é característica da doença renal crônica. A primeira queda ocorreu pelo emprego de medicamentos (inibidores da ECA); mas a proteinúria caiu aos menores níveis apenas após a adoção de uma dieta low carb (aquela de profissionais de saúde embaraçam-se publicamente dizendo que "sobrecarrega" os rins).
 
Relato4.png
 
Por fim, na tabela acima, os parâmetros laboratoriais comparando o antes e o depois. Alguém mais enxerga um cisne negro?
 
Recapitulando:
  • Ensaio clínico randomizado mostra melhores desfechos duros de pacientes portadores de insuficiência renal crônica (IRC) em uma dieta com menos carboidratos e mais proteínas (mas não hiperproteica);
  • Estudos epidemiológicos com vários milhares de pessoas em situação de risco para IRC indicam aumento de risco com o consumo de carboidratos e fast food, e ausência de associação ou mesmo associação inversa entre o consumo de proteínas e o desenvolvimento de IRC;
  • Relatos de caso indicam melhora de IRC em pacientes diabéticos com dieta low carb
O que falta, então, em termos de evidência? Uma metanálise talvez?
 
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Trata-se de metanálise de mais de 1000 pacientes participantes de NOVE ensaios clínicos randomizados de dietas low carb. Será que seus rins foram "sobrecarregados"?
 
Meta%2Bnefro%2B2.PNG
Meta%2Bnefro%2B3.PNG
 
Tradução resumida: a obesidade está associada com o surgimento e piora da insuficiência renal crônica. Dietas low carb, com aumento correspondente de proteínas, são reconhecidamente eficazes na perda de peso. Além disso, dietas low carb melhoram os fatores de risco cardiovascular. Alega-se que low carb representaria risco para doença renal pelo aumento de proteínas. Mas estudo recente indica que low carb não afeta negativamente a função renal quando comparada com low fat. Nesta metanálise, nós nos certificamos de que low carb não afeta negativamente a função renal em indivíduos obesos ou com sobrepeso sem insuficiência renal crônica.
Os possíveis motivos pelos quais low carb é EFETIVA para função renal incluem o fato de que a obesidade está associada à insuficiência renal crônica. Por conseguinte, a perda de peso que ocorre em função da dieta low carb poderia levar à MELHORA da função renal.
 
***
 
Além de todas as evidências acima (que vão do relato de caso à metanálise de ensaios clínicos randomizados, passando por coortes prospectivas compreendendo cerca de 15 mil pacientes) queindicam que o consumo de proteína não está associado com o desenvolvimento de insuficiência renal, há um pequeno detalhe oriundo do desconhecimento: o de que dietas low carb não são hiperproteicas!
 
Tudo o que escrevi até aqui serve basicamente para refutar uma hipótese fantasiosa. Pois a premissa dos críticos é de que uma dieta low carb é uma "dieta da proteína", seja lá o que for isso. E, como vimos, mesmo SE uma dieta low carb FOSSE hiperproteica, AINDA ASSIM isto não produziria uma "sobrecarga renal", na forma como tais dietas foram testadas em humanos no mundo real.
 
O fato de que no Brasil a expressão "low carb diet" (dieta de baixo carboidrato) tenha sidovulgarmente traduzida para "dieta da proteína" talvez ajude, em parte, a explicar o argumento oriundo da ignorância (embora não o justifique, pois profissionais de saúde com curso superior obrigatoriamente têm de ler inglês). O que caracteriza uma dieta low carb NÃO é o consumo de proteína, e sim a restrição de carboidratos. Portanto, o emprego da expressão "dieta da proteína" por profissionais de saúde é, repito, oriundo da ignorância. Este fato (que low carb não é hiperproteico) é sabido em bem caracterizado há décadas. À guiza de exemplo, segue um estudo clássico de John Yudkin, publicado há 45 anos:
 
Yudkin.png
 
Observe que o consumo de proteínas é O MESMO no grupo de dieta "normal" versus o grupo de dieta low carb. O que varia, obviamente, é o consumo de carboidratos e gorduras. Isso não foi ordenado aos participantes do estudo. As pessoas simplesmente tendem a consumir uma certa quantidade de proteína, naturalmente, para satisfazer seu apetite.
 
Recentemente revisei aqui no blog um grande ensaio clínico randomizado comparando dieta low fat, dieta mediterrânea e dieta low carb. Como esperado, low fat foi pior. Mas vejamos como foi a distribuição do consumo de proteínas entre os diferentes grupos. Segundo a lenda urbana vigente, o grupo low carb deveria consumir muito mais proteínas do que os demais, não é mesmo?
 
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Eis a tabela comparativa:
 
NEJM%2Btabela%2B1.PNG
NEJM%2Btabela%2B2.PNG
 
Como pode ser observado, todos os grupos consumiram a mesma quantidade de proteínas(uma média de 20% das calorias, com variações dentro das margens de erro). A diferença entre o grupo low fat e o grupo low carb foi de 2%.
 
Faça um exercício. Procure por outros ensaios clínicos randomizados de dieta low carb, e verifique você mesmo. Exceto quando o estudo determina, em seu desenho experimental, que a dieta seja hiperproteica, estudos de dieta low carb são normoproteicos.
 
"Dieta da proteína" é simplesmente uma criação do folclore brasileiro, consequência talvez do fato de que "dieta de baixo carboidrato" seja uma expressão de difícil pronúncia em nosso idioma, ao contrário de "low carb diet". Que leigos usem a expressão equivocada é compreensível. Profissionais de saúde têm a obrigação de empregar linguagem precisa.
 
***
 
Karl Popper, o filósofo da ciência, fez uma famosa analogia entre as teorias, sua refutação empírica, e cisnes. Suponhamos que, após ver muitos cisnes, todos brancos, eu desenvolva a hipótese de que TODOS os cisnes são brancos. Popper nos ensina que basta UM cisne negro para refutar hipótese de que TODOS os cisnes são brancos.
 
O que temos aqui é uma situação que deixaria Sir Karl Popper perplexo. Os estudos acima referidos identificam quase que exclusivamente cisnes negros. Contudo, profissionais de saúde afirmam, e a mídia divulga, que TODOS os cisnes são brancos. Para estes profissionais, um cisne negro não lhes refuta a teoria. Para estes profissionais, nem mesmo 15 mil cisnes negros são o bastante.
 
É triste admitir, mas talvez o chefe da Medicina Cardiovascular da Cleveland Clinic tenha sido preciso quando afirma que as diretrizes nutricionais são uma "zona livre de evidências". Não existe quantidade suficiente de cisnes negros capazes dissuadir pessoas cuja FÉ afirma que todos os cisnes são brancos.
 
Sagan.jpg
 

 

Editado por Norton
Postado
2 horas atrás, Super Fitness disse:

@Norton cara excelentes videos vi todos e garanto que aprendi muito com eles assim como outros artigos neste post, sabia de algumas vantagens de low carb principalmente para o ganho/definição mais algo que sempre me equivoquei  e foi provado que estava errado foi o uso de carbo para alta performance oque eu sempre indicava para os alunos que eu fazia a preparação física na musculação (jiu/judo/maratona/ciclismo) por uma parte fico chateado em saber que uma tese para alta performance oque aprendi a vida toda é um equivoco, mais valeu por compartilhar este conhecimento e tb irei mais afundo para aprender mais sobre o assunto.  

 

Nós somos adaptados a cetose boa parte do paleolítico foi tão gelado que era bem difícil de buscar uma fonte vegetal, algo que só ocorria na escassez de caça. E até o início do século XX, os esquimós eram o exemplo desta cultura baseada somente na caça. É como dizem: O que é um vegetariano? um vegetariano é um mau caçador.

Postado
5 minutos atrás, Norton disse:

 

Alto consumo de proteína não está ligado diretamente a doenças nos rins, e uma dieta low carb não é alta em proteínas é em gorduras as proteínas pode deixar no mesmo de antes, 2g por kg ou menos no caso de uma cetogênica.

Realmente não tem alguma ligação direta mais ja vi relatos e exames que comprovo alguns problemas a grande quantidade de proteína em longo uso inclusive de alunos nada que confirma a proteína como culpada mais era uma das possibilidades.

Vo tentar montar alguma dieta mantendo a quantidade de proteína mais a ultima vez que fiz low carbo aumento bastante sendo que as principais fontes era do ovo e carne.

Tem conhecimento de alguma boa fonte de gordura encontrada no brasil com valor não muito salgado?

castanha e nozes é um absurdo a unica opçaõ que encontro é o amendoim (moído e torrado ou a pasta)

7 minutos atrás, Norton disse:

 

Nós somos adaptados a cetose boa parte do paleolítico foi tão gelado que era bem difícil de buscar uma fonte vegetal, algo que só ocorria na escassez de caça. E até o início do século XX, os esquimós eram o exemplo desta cultura baseada somente na caça. É como dizem: O que é um vegetariano? um vegetariano é um mau caçador.

Sim mais me assustei um pouco claro pesquisa nunca pode parar mais quebrar totalmente a associação de carboidrato para alta performasse é um impacto grande d+, algo que por mais de 30 anos era considerado o certo

Postado (editado)
10 minutos atrás, Super Fitness disse:

Realmente não tem alguma ligação direta mais ja vi relatos e exames que comprovo alguns problemas a grande quantidade de proteína em longo uso inclusive de alunos nada que confirma a proteína como culpada mais era uma das possibilidades.

Vo tentar montar alguma dieta mantendo a quantidade de proteína mais a ultima vez que fiz low carbo aumento bastante sendo que as principais fontes era do ovo e carne.

Tem conhecimento de alguma boa fonte de gordura encontrada no brasil com valor não muito salgado?

castanha e nozes é um absurdo a unica opçaõ que encontro é o amendoim (moído e torrado ou a pasta)

 

Dá uma olhada no meu último post atualizei com estudos sobre doenças nos rins.

 

Use sempre fontes animais, são as melhores e mais completas em vitaminas, resistem bem ao calor sem se tornarem inflamatórias como a maioria dos óleos vegetais.

Manteiga, banha vendida em qualquer supermercado pode utilizar para fritar ovos, para cozinhar como o caso de todas as gorduras animais, a gordura da própria carne, carne de porco os cortes mais gordurosos como barriga de porco, o próprio ovo que cerca de 50% é de gordura, peixes gordos como a sardinha. As vegetais que podem ir ao calor: óleo de coco, de dendê. A frio azeitonas e abacate.

 

Esse quadro resume bem sobre a indicação das gorduras:

 

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Editado por Norton
Postado

@Norton Eu lê oque vc posto e pretendo ler os estudos citados com calma , mais basicamente o alto consumo de proteína iria prejudicar apenas quem ja tem uma doença renal na qual não tinha conhecimento antes de iniciar a dieta,

O dendê não tinha conhecimento e achei legal, o abacate resolvi ver a tabela nutricional dele e me surpreendi em ver na quantidade de fibras presente nele.

Daqui uns 10 dias reiniciar a dieta low carbo  apos 1 ano sem fazer-la e utilizando menos proteína do que da ultima vez e vó tentar mantela como habito para ver como o meu corpo reage a longo prazo quando inciar vo criar um tópico para relatar.

Vlw por tudo este tópico me agrego muito 

Postado (editado)
13 minutos atrás, Super Fitness disse:

@Norton Eu lê oque vc posto e pretendo ler os estudos citados com calma , mais basicamente o alto consumo de proteína iria prejudicar apenas quem ja tem uma doença renal na qual não tinha conhecimento antes de iniciar a dieta,

O dendê não tinha conhecimento e achei legal, o abacate resolvi ver a tabela nutricional dele e me surpreendi em ver na quantidade de fibras presente nele.

Daqui uns 10 dias reiniciar a dieta low carbo  apos 1 ano sem fazer-la e utilizando menos proteína do que da ultima vez e vó tentar mantela como habito para ver como o meu corpo reage a longo prazo quando inciar vo criar um tópico para relatar.

Vlw por tudo este tópico me agrego muito 

 

Existe uma fraca evidência de que uma dieta hiperproteica prejudicaria quem já sofre de problemas renais, e há fortes evidências indicando a melhora quando o consumo de carboidratos é diminuído em pacientes diabéticos com lesões nos rins que se tornariam pacientes renais. No link sobre:" Diabetes e insuficiência renal: qual a melhor dieta?" tem a explicação do nefrologista, presidente da sociedade mineira de nefrologia e os estudos indicando a dieta low carb como a melhor para diabetes e insuficiência renal.

Editado por Norton
Postado (editado)

Reduzir o consumo de ômega-6 pode auxiliar na saúde mental
 

Spoiler
SEU CÉREBRO COM ÔMEGA-3: EQUILIBRANDO A PROPORÇÃO ENTRE ÔMEGA-3 E ÔMEGA-6
 

Título do artigo original: Your Brain on Omega 3: Balancing the O3 to O6 Ratio

 
NOVAS PESQUISAS MOSTRAM QUE REDUZIR O CONSUMO DE ÔMEGA-6 PODE AUXILIAR O CÉREBRO
 
Autora: Emily Deans, psiquiatra evolucionista
Artigo publicado em 08/01/2017
 
emilydeans.jpeg
Emily Deans,MD
As gorduras que comemos vêm em todos os tipos e tamanhos, de poli-insaturadas a saturadas, com cadeias longas, médias, curtas e esteróis. Cada uma destas categorias de gorduras desempenha um papel no nosso corpo, desde fontes de calorias para o armazenamento de energia até os hormônios, e também como moléculas de sinalização que enviam e recebem mensagens entre as células do cérebro, do sistema endócrino sistema, e do sistema imunológico. Pesquisadores de saúde mental há muito tempo tem se interessado no papel dos ácidos graxos de cadeia longa - ômega 3, encontrados no óleo de peixe, por exemplo, os quais são tão prevalentes em nossos cérebros.
Nos últimos anos, com o advento de alimentos processados e uso generalizado de óleos vegetais, a quantidade de ácidos graxos ômega 3 e ômega 6 que estamos comendo mudou de uma quantidade relativamente igual para uma proporção altamente distorcida em favor do ômega 6. Por que isso importa? A resposta a essa pergunta é, digamos, complicada, mas pode ser reduzida ao fato que os ácidos graxos ômega 3 e os ácidos graxos ômega 6 terem papéis opostos como moléculas de sinalização no corpo. Os ácidos graxos ômega 3 são (em geral) anti-inflamatórios, enquanto os ácidos graxos ômega 6 são pró-inflamatórios. Por exemplo, metabólitos ácidos graxos de cadeia longa ômega-6 são responsáveis por aumentar a dor e inchaço de uma lesão, e bloqueando esta via utilizando o ibuprofeno irá reduzir a dor e inchaço. Ácidos graxos ômega 3, por outro lado tendem a desligar estas vias de sinalização inflamatória. Tanto a inflamação quanto desfazer a inflamação são importantes no combate à doença, lesões e mantém uma saudável homeostase corporal.
No cérebro, essas vias inflamatórias, se crônicas e descontroladas, podem afetar todos os tipos de processos que passam a afetar não só a saúde do cérebro, mas de todo o corpo. Por exemplo, ácidos graxos ômega 6 se transformam em prostaglandina E2, uma molécula pró inflamatório que afeta o sono , reduz a concentração , suprime o apetite , e leva a comportamentos, tais como o afastamento social. Esses comportamentos são comuns na doença, como um resfriado ou gripe, mas também são comuns na depressão . As prostaglandinas também desencadeiam a resposta "luta ou fuga" para o estresse induzindo o cérebro a enviar hormônio liberador de corticotropina, o que leva a liberação a jusante do cortisol, adrenalina e outros hormônios do estresse.
Agora ambos os ácidos graxos ômega 3 e ômega 6 são armazenados nas membranas celulares. Até certo ponto, esse fato nos protege da ingestão dietética extremamente distorcida, como a maioria do ômega 3 de cadeia longa que comemos substitui o ômega 6 que preenche as nossas membranas celulares. Portanto consumir mesmo um pouco de ômega 3 pode contrapor um monte de ômega 6. Mas poderíamos melhorar o equilíbrio anti-inflamatório / inflamatória ainda mais, ao restringir o ômega 6 na dieta? Tanto quanto isso faria um sentido perfeito, e uma pesquisa que suporta essa conclusão foi publicada somente recentemente. Um novo estudo do Journal of Clinical Psychiatrytraz um caso interessante para uma relação mais equilibrada entre ômega 3 e ômega 6, como sendo benéfica para o transtorno bipolar .
Muitas das primeiras pesquisas clínicas sobre o uso de óleo de peixe para transtornos do humor foram feitas para o transtorno bipolar, com base em algumas descobertas cerebrais em humanos e animais post-mortem onde o aumento de ácidos graxos de cadeia longa ômega 6 (ácido araquidônico) e inflamação são aumentados em modelos animais e humanos diagnosticados com transtorno bipolar. Estudos posteriores usando neuro-imagens e marcadores periféricos de inflamação também mostram aumentos em pessoas com transtorno bipolar, especialmente durante um episódio agudo.
Estabilizadores de humor, tais como drogas antiepilépticas são usadas para tratar o transtorno bipolar e enxaqueca também. No entanto, algumas drogas antiepilepsia que funcionam bem para convulsões, como topiramato e gabapentina, não funcionam bem para o transtorno bipolar. Aquelas que funcionam (como ácido valproico e carbamazepina) e outras drogas antibipolares, como o lítio, na verdade regulam para baixo a cascata inflamatória do ômega 6. Topiramato e gabapentina não o fazem.
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Fontes de ômega-3
Os suplementos de ômega 3 têm resultados mistos em ensaios clínicos para ambos - transtorno bipolar e depressão. Em geral, apenas os suplementos que contêm EPA ou uma mistura de EPA + DHA foram benéficos (e é por isso que eu não recomendo produtos à base algas com DHA ou DHA de leite). Os autores do artigo do JCP questionam se a suplementação com ômega 3 deve ser combinada com uma dieta com redução em ômega 6 para ver se isso iria funcionar melhor para fins psiquiátricos. Curiosamente, uma avaliação como esta tem sido feita para enxaquecas, que também é uma doença com aumento da inflamação e supra regulação da cascata de ômega 6 no cérebro. Não só o suplemento de ômega 3, mas uma dieta com redução em ômega 6, ajuda com a diminuição da (intensidade da) dor da enxaqueca e no número de crises de enxaquecas, um artigo também mostrou aumento da qualidade de vida.
 
É bastante plausível que podemos reduzir os sintomas de doenças inflamatórias cerebrais, como o transtorno bipolar, enxaquecas e muito mais, reduzindo os ácidos graxos ômega 6 em nossa dieta e aumentando, mesmo em uma pequena quantidade, os ácidos graxos de cadeia longa ômega 3. Tal intervenção é improvável de ser prejudicial, considerando que as principais fontes de ácidos graxos ômega 6 dietéticas são alimentos processados (chips de batatas fritas, outras frituras e salgadinhos assados). Como alguns investigadores têm mostrado, reduzindo o ômega 6 na dieta reduz metabolitos inflamatórios em seres humanos, bem como aumenta a biodisponibilidade de ômega 3. Alguns outros alimentos saudáveis, como nozes e aves caipiras também contém ômega 6, mas como a desde a ideia é reduzir, não eliminar o ômega 6, quantidades moderadas de nozes e frango estão ok. Certamente vale a pena estudar mais!
 
Copyright Emily Deans MD
Tradução: lipidofobia
Foto superior LINK

 

David x Golias? Uma história sobre a estranha liberdade do século XXI

 

Spoiler
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Esse é um artigo publicado pelo site THE RUSSELLS. Se trata de um excepcional detalhamento do embate, já no campo jurídico contra o médico Tim Noakes, emérito pesquisador, que se aventurou a propor uma alimentação low carb como sendo a base de um estilo dietético na África do Sul, o que colocou em alerta máximo os interesses da grande indústria alimentar daquele país. Os autores entendem que esse é um exemplo de força e coerção, para que outros profissionais em todo o mundo não se aventurem a propor esse tipo de projeto. Naturalmente as forças do poder estão totalmente infiltradas em instituições oficiais, sejam na educação, entidades de regulamentação e órgãos de governo. Há nomes pomposos que representam e ao mesmo tempo encobrem esses interesses. Aparentemente lá como aqui, a justiça é o braço forte do Rei. Obviamente a ciência de verdade não existe para garantir interesses. No entanto se os financiadores das pesquisas são os mesmos que lucram com seus resultados, quem pode chamar isso de ciência?
Artigo longo, repleto de referências, publicado online em 5 de janeiro de 2017.
Os Russells são Russ Greene e Russell Berger
Uma grande investigação que os site lipidofobia tem a felicidade de publicar.

 

 
 
As indústrias de alimentação X Tim Noakes: A Cruzada Final
 
(Abreviaturas mais comuns amplamente usadas no artigo a seguir:
ADSA - South Africa’s Dietetics Association (Associação sul-africana dos dietéticos)
ILSIInternational Life Sciences Institute (Instituto Internacional de Ciências da Vida)
NSSA - Nutrition Society of South Africa (Sociedade sul-africana de nutrição)
HPCSA - South Africa’s Council for Health Professionals (Conselho Sul-africano dos Profissionais de Saúde)
 
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Dr Tim Noakes
Um americano pode não ser capaz de entender o que Tim Noakes significa para a África do Sul, já que não existe equivalente ao professor Noakes nos Estados Unidos. Na África do Sul, Noakes é um cientista e médico de renome nacional que transformou a prática do esporte desafiando as crenças mais comumente praticadas. Mas, no entanto, a própria universidade e colegas de Noakes, juntamente com o “establishment” médico, todos de repente se voltaram contra ele no que ele descreve como sua "cruzada final." Tendo demolido dogma em temas tão diversos como hidratação, motivação e fadiga, Noakes pode ter ido longe demais. Ele se voltou contra os carboidratos.
Na superfície, a controvérsia de Tim Noakes pode ser vista como uma simples guerra entre o cientista renegado e alguns profissionais da nutrição sul-africanos. Essa história é algo como isto: em fevereiro de 2014, o mundialmente famoso fisiologista do exercício e MD twittou que os bebês devem ser desmamados em dietas com redução de carboidrato. Porém, Claire Julsing Strydom, a presidente da Associação de Dietética da África do Sul, ADSA, denunciou Noakes por conduta não profissional. Noakes escolheu lutar e defender seu conselho dietético mesmo que não pratique mais a medicina e que poderia igualmente ter desconsiderado sua licença. E, finalmente, após dezenas de horas de audiências, o conselho da África do Sul para profissionais de saúde decidirá se Noakes manterá sua licença médica.
Parece que já vimos essa história mil vezes antes. Interesses entrelaçados tentam proteger sua indústria de “outsiders” renegados habilitados pela internet. A semelhança da indústria de táxis vs Uber, ou ACSM vs CrossFit e seus afiliados. Para compreender mais profundamente, você tem que fazer suas próprias investigações.
 
Bill Gifford publicou uma perspectiva superficial do julgamento de Noakes na revista Outside no mês passado. Gifford assistiu a uma audição na África do Sul, viu Claire Strydom se derramar em lágrimas e perguntou: "Será que este é realmente o rosto da vasta conspiração pro-carb que Noakes parece pensar que está se dispondo contra ele?" No entanto, no campo da nutrição, as coisas raramente são como parecem. A distância Gifford aparentemente não se incomodou nem mesmo com o nível mais básico de pesquisa. Nós fomos atrás.
Nós já estávamos familiarizados com o Dr. Noakes em nossa pesquisa sobre excesso de bebidas nos esportes. Noakes escreveu o livro mais importante sobre o assunto, " Waterlogged " (Alagado). E quando a CrossFit organizou uma conferência científica sobre o assunto, pudemos conhecer muitos colegas de Noakes. No entanto, nunca encontramos o Dr. Noakes pessoalmente durante esse período.
No mês passado, minha colega da CrossFit Inc., Andréa Maria Cecil e eu voamos para a África do Sul para entrevistar o Dr. Noakes. Após cerca de cinco horas de fala com Noakes e a leitura de quase 300 páginas do trabalho de  Marika Sboros  sobre o julgamento de Noakes, bem como as declarações da oposição, temos percebido uma desconfortável realidade.
A indústria de alimentos está tentando usar o Dr. Noakes, com a finalidade de dar um exemplo a qualquer pessoa que se atreva a desafiar a sua autoridade na nutrição.
Enquanto Noakes ainda pode ganhar e manter sua licença, seu julgamento estabelece um precedente assustador. Qualquer pessoa que se atreve a tweetar algo que está fora de sincronia com as organizações do “proxy” da indústria alimentar pode enfrentar toda a força da indústria do lixo alimentar.
Como um médico altamente bem sucedido, autor e professor, Noakes pode pagar cerca de US $ 150.000 em custos legais e suportar ataques intermináveis sobre sua reputação profissional. Na verdade, ele parece, às vezes, se divertir com a controvérsia. Mas se este é o preço de falar contra os carboidratos processados, quem, além de  Noakes (e a CrossFit) pode pagar?
 
Não é sobre Claire Strydom ou Dietistas
Claire Strydom é o rosto da oposição a Noakes, mas não sua líder. As suas são apenas uma das várias queixas feitas ao Conselho Profissional de Saúde da África do Sul (HPCSA) contra Noakes. A HPCSA recebeu a reclamação de Strydom pinçando entre tantas, mas ela não teve nenhuma preferência nessa decisão. Por exemplo, Katie Pereira da ASDA (Associação de Dietética da África do Sul) também entrou com uma queixa contra Noakes vários meses após Strydom ter feito.
Nem mesmo são os dietistas como um grupo quem realmente lidera a acusação contra Noakes. Com certeza, Strydom foi presidente da Associação de Dietética na África do Sul, quando ela apresentou sua queixa. Mas talvez mais importante, ela também é uma consultora da Kellogg’s .
Desde que o julgamento de Noakes começou, Strydom apagou a maioria da documentação on-line do relacionamento com a Kellogg’s. Por exemplo, seu site uma vez orgulhosamente proclamou seu relacionamento com a Kellogg's:
 
claire.png
Claire Strydom
 
No entanto, agora que Strydom está sob escrutínio pelos laços com a Kellogg’s, seu site tornou-se mais reticente. Ela afirma de forma oblíqua, "que presta consultoria para indústrias de alimentos e farmacêuticas." Strydom não apagou toda a evidência digital, contudo. Nós ainda podemos ver no site KelloggsNutrition.com que a Kellogg’s tem patrocinado a empresa de Strydom, para soluções nutricionais.
Nem Strydom está sozinha. Além de Strydom, Linda Drummond teve para a Kellogg’s o papel de "Manager de Nutrição e Relações Públicas " e também membro da comissão da ADSA. Cheryl Meyer manejou as comunicações para ADSA sendo consultora para Kellogg's. E Leanne Kiezer controlou a tesouraria e os patrocínios para ADSA, além de seu trabalho como "assistente em nutrição" para Kellogg’s.
A ADSA afirma , "nós não acreditamos no endosso de marcas para as comunidades para que trabalhamos." No entanto, eles certamente parecem fazer exatamente isso:
 
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A parceria da Kellogg’s  com a ADSA não gerou muita controvérsia na África do Sul fora da comunidade ativista. Pelo menos, os produtos emblemáticos da Kellogg’s incluem alguns que as pessoas comuns podem considerar saudáveis, como Special K e All-Bran. Nem tanto com outros parceiros da ADSA.
Mais de 1/3 da receita da ADSA vem de seus patrocinadores corporativos, o que inclui gigantes como a Nestlé Unilever Huletts Sugar . Juntamente com a Sociedade de Nutrição da África do Sul (NSSA), a ADSA hospeda um Congresso anual de Nutrição. Seus patrocinadores o leem como um "quem é quem" da “Big Pharma” e “Big Food”: GlaxoSmithKline, Discovery Vitality e a Associação do Açúcar, além, é claro, da Unilever, o Nestlé Nutrition Institute e a Kellogg's. Muitas destas parcerias estão aí pelo menos há uma década.
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Em 2014 o Congresso de Nutrição, realizado entre 16-19 setembro, uma organização “proxy” (que representa) da Coca-Cola chamada de Instituto Internacional de Ciências da Vida, " contribuiu para o programa da conferência, e organizou uma sessão plenária." Alguém duvida que isso foi de graça.
Estranhamente, três funcionários do Departamento de Saúde da África do Sul falavam na sessão ILSI na conferência do ADSA: da Direção Nutricional, Gilbert Tshitaudzi; o Diretor-Chefe de Promoção da Saúde e Nutrição, Lynn Moeng Mahlangu; e o Diretor-Chefe de Doenças Não Transmissíveis, Melvyn Freeman. Alguns destes funcionários têm falado em outros eventos do ILSI também.
 
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ILSI no Congresso de Nutrição: "Da esquerda para a direita: Lynn Moeng (Departamento de Saúde); Prof. Hettie Schönfeldt (Presidente, ILSI África do Sul); Dr. Rendani Ladzani (Universidade de Pretória); Gilbert Tshitaudzi (Departamento de Saúde); Prof Melvyn Freeman (Departamento de Saúde) "
 
Transformando a queixa de Strydom no julgamento de Noakes
Após a reclamação de Strydom em Fevereiro de 2014, a Comissão de Inquérito Preliminar de HPCSA se reuniu em 22 de maio de 2014. O que eles estariam por fazer sobre esta queixa contra Noakes? Após dois dias de reunião, o comitê não conseguiu chegar a uma decisão e optou por se reunir novamente em 10 de setembro.
Para ajudar a clarear as suas mentes, a comissão HPCSA solicitou um relatório secreto de Este Vorster, ex-presidente da referida proxy da Coca-Cola, o Instituto Internacional de Ciências da Vida na África do Sul. Em seu relatório secreto , Vorster mencionou uma nova meta-análise que supostamente refutava a posição dietética de Noakes (Noakes só teria a oportunidade de ver o relatório quando um funcionário da HPCSA o enviou para seus advogados por engano).
 
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A ex-presidente ILSI Este Vorster
 
 
O jornal PLOS One tinha publicado a nova meta-análise citada por Vorster, Carboidratos versus dietas balanceadas iso-energéticas para redução de peso e risco cardiovascular: uma revisão sistemática e meta-análise , em 9 de Julho de 2014. Esta meta-análise ficou conhecido como a Naude Review, em Referência a autoria principal: Celeste Naude. Mais sobre a Revisão Naude adiante.
De volta ao relatório Vorster. Uma questão pendente era como Strydom poderia provar que a posição de Noakes era uma ameaça à vida e não baseada em evidências. Assim,  Vorster respondeu , dizendo que não tinha necessidade de apoiar esta posição com "evidência experimental." Em vez disso, Vorster insistiu, "que as referências das orientações dietéticas baseadas em alimentos pediátricos Sul Africanos seriam suficiente."  
Vorster concluiu que Noakes "ou não está familiarizado com ou não confia nas atuais orientações dietéticas da África do Sul." E, portanto, Vorster alegou que, Noakes "não é qualificado para aconselhar sobre questões alimentares." Então Vorster dispistou sua própria autoria dessas orientações com inapropriadas citações em sua seção de literatura. As diretrizes publicadas orientam que essas (referências) devem ser citadas como "Vorster HH, Badham JB, Venter CS ..." De outra maneira, o relatório do Vorster citou o autor dos suas orientações como "Anon".
Com base no relatório de Vorster, a HPCSA responsabilizou Noakes em 10 de setembro, 2014, alegando que Noakes é culpado de,
"... comportamento ou conduta não profissional que, tendo em conta a sua profissão, na medida em que durante o período entre Janeiro de 2014 e Fevereiro de 2014 você agiu de uma forma que não está em conformidade com as normas e padrões de sua profissão em que você forneceu conselhos não convencionais sobre amamentação de bebês em redes sociais (tweet / s) ".
 
Se a HPCSA cobrou de Noakes pelo fornecimento de "aconselhamento não convencional" sobre nutrição, então o que constituía a aconselhamento convencional? Na África do Sul, a principal autoridade é a Food-Based Dietary Guidelines do país, de autoria de ninguém menos que ela, Este Vorster.
Assim, Vorster convenceu a HPCSA a acusar Noakes da alegada ofensa de discordar dela.
Mas o que torna Vorster uma autoridade real em dietas de baixo teor de carboidratos, mesmo na África do Sul? Ela nunca atuou como um nutricionista e admite nunca ter estudado sobre as dietas de baixo carboidrato.
 
Diretrizes Alimentares da África do Sul, by Big Soda e Big Sugar
 
Big Soda e Big Sugar (as grandes empresas de refrigerante e do açúcar) colaboraram para desenvolver as diretrizes dietéticas da África do Sul. De 1997 a 2001, Este Vorster serviu como o presidente do Instituto Internacional de Ciências da Vida, da África do Sul. O vice-presidente da Coca-Cola Alex Malaspina fundou o ILSI em 1978. O ILSI estabeleceu-se como a mais poderosa organização de defesa da indústria de alimentos, do tabaco e junk food.
É difícil dizer onde Coca-Cola termina e o ILSI começa. O vice-presidente da Coca-Cola Rhona Applebaum serviu como Presidente do ILSI até o final de 2015. O ILSI chefiou a interferência da indústria  sobre as políticas de tabaco da Organização Mundial da Saúde , os esforços contra doenças crônicas do CDC , e, mais recentemente, as orientações dietéticas que limitam a ingestão de açúcar .
Além de seu relacionamento com o ILSI, Vorster manteve laços com a Associação de Açúcar Sul-Africano, que financiou a sua pesquisa (Daqui em diante vamos nos referir a esta organização como a Associação de Açúcar). Vorster continua a servir no Painel Científico da Associação de Açúcar. A Organização Mundial da Saúde determinou que o papel Associação de Açúcar de Vorster "poderia ser considerado como um conflito de interesses" e, portanto, recomendou que ela "se abstivesse de participar nos debates específicos e o processo de tomada de decisões para o desenvolvimento de recomendações e orientações sobre os açúcares". No entanto, em África do Sul, ela goza de reinado livre sobre açúcares, e qualquer outro tópico relacionado com os “junk food”.
Enquanto Vorster presidida o ILSI da África do Sul, ela também desenvolveu e foi co-autora das primeiras orientações dietéticas África do Sul.  A influência da indústria de alimentos sobre essas diretrizes é quase infinita. A Associação de Açúcar financiou o workshop inicial que produziu as diretrizes. O ILSI pagou delegados dessas orientações para voar para o Zimbabué para "partilhar a experiência Sul-Africana com onze outros países africanos."   Penny Love presidiu o grupo de trabalho que desenvolveu as diretrizes. A sra. Love consultou para a Associação de Açúcar durante ou logo após este período de tempo, incluindo a organização de "simpósios" sobre "açúcar e saúde." A chefe da Sugar Association de assuntos públicos Carol Browne serviu no grupo de trabalho também.
Vorster e seu colega no ILSI Michael Gibney publicaram as primeiras diretrizes alimentares da África do Sul em 2001 no Journal of Clinical Nutrition da África do Sul. A publicação incluiu um artigo intitulado "DESENVOLVIMENTO DE ORIENTAÇÕES ALIMENTARES DIETÉTICAS PARA A ÁFRICA DO SUL - O PROCESSO". Carol Browne foi coautora, declarando sua afiliação profissional como "South African Sugar Association, Public Affairs".
A frase "conflito de interesses" não é encontrada em nenhum dos materiais publicados associados às diretrizes de 2001 da África do Sul. No entanto, é onipresente na manifestação. A página 17 afirma que "os alimentos ricos em ... açúcares ... evitam doenças crônicas por vários efeitos e mecanismos". A página seguinte propõe que "a ingestão moderada de açúcar e alimentos ricos em açúcar também pode fornecer uma dieta saborosa e nutritiva". A página 21 alega, que "a sacarose e outros açúcares não foram diretamente implicados" em causar diabetes.
Em nenhum lugar as diretrizes de 2001 recomendam limitar a ingestão de açúcar. Em vez disso, advertem os sul-africanos a "comer gorduras com moderação." Ao fazer isso, imitam a bem trilhada estratégia da indústria de transferir a culpa a partir do açúcar para a gordura, como Anahad O'Connor tem documentado no New York Times.
 
Os "imperativos gêmeos" por trás das diretrizes dietéticas da África do Sul
As diretrizes de 2001 foram tão transparentemente influenciadas pela Big Sugar que até mesmo os especialistas da indústria reconheceram o problema. Como o ILSI da África do Sul tem na administradora Nelia Steyn, um lugar representante e defensor da criação nutricional da África do Sul, explicou,
 
"Os membros do Grupo de Trabalho sobre Orientações Alimentares Baseados em Alimentos vieram de uma vasta gama de organizações; muitos participantes ativos eram da indústria de alimentos, embora alguns tiveram um papel duplo, em que também representou a sua associação profissional . Desde o início, a Associação Sul-Africana do Açúcar desempenhou um papel e também patrocinou workshops. "
 
Steyn conclui que as orientações alimentares da África do Sul foram desenvolvidas de acordo com " imperativos gemelares:  A formulação de políticas de saúde pública adequadas e à proteção dos interesses comerciais de açúcar" Este momento de sinceridade é especialmente notável dada a sua origem, Nelia Steyn. A Associação de Açúcar financiou a sua investigação e, igualmente, ela é uma administradora do ILSI da África do Sul.
 
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Nelia Steyn apresentou-se no Instituto Internacional de Ciências da Vida da Coca-Cola. Fonte
O Departamento de Saúde da África do Sul aceitou apenas provisoriamente as orientações para 2001, mas o departamento insistiu que fosse editada para incluir diretrizes para o consumo de açúcar. Está se dizendo que os oficiais de saúde do governo tiveram que recorrer a esta demanda quando os nutricionistas e os dieticistas superiores do país tinham aparentemente nada a dizer sobre o tópico da limitação do açúcar.
O governo adotou oficialmente primeiras diretrizes do país em 2003 . Até então, eles advertiram, para "comer e beber alimentos e bebidas que contêm açúcar com moderação e evitar entre as refeições."
Então, em 2012, a África do Sul lançou uma segunda edição das diretrizes dietéticas baseadas nos alimentos. Foi pior.
Enquanto Vorster continuou envolvida, desta vez como autora principal, a seção "suporte técnico" sobre o açúcar foi escrito por Nelia Steyn e Temple Norman.  A Associação do Açúcar financiou cada uma delas. Elas reconheceram implicitamente que as diretrizes anteriores não conseguiram retardar a propagação do açúcar, observando, "O consumo de açúcar adicionado parece estar aumentando constantemente em toda a população sul-africana".
No entanto, as novas diretrizes foram mais suaves para o açúcar. Eles removeram o cuidado de não comer açúcar entre as refeições. Em vez disso, eles simplesmente recomendaram usar "açúcar e alimentos e bebidas ricas em açúcar com moderação". Os autores sabiam que esta formulação não travaria efetivamente o aumento na África do Sul do consumo de açúcar.
A seção de "suporte técnico" para as diretrizes de ingestão de gordura também sofreu da dissonância cognitiva. Ele alertou que as crianças e outros da África do Sul já estavam comendo no limite inferior da ingestão de gordura recomendada. E, portanto, os autores advertiram que comer gorduras com moderação poderia "representar um risco, especialmente quando recomendado para crianças, crianças e comunidades com um baixo consumo de gordura."
Diante deste risco para a saúde infantil e infantil, os autores propuseram uma nova recomendação alternativa: "Comer e usar o tipo certo de gorduras e óleos com moderação".
No entanto, de alguma forma, suas diretrizes finais rejeitaram esse conselho mais moderado e mantiveram a recomendação anterior quase exatamente na mesma: "Use as gorduras com moderação". Os autores não tentaram explicar sua decisão, que contradiz os dados e a mensagem geral do seu trabalho. Como eles forneceram "suporte técnico" às diretrizes de gordura consideradas arriscadas para a saúde infantil?
Se as pessoas comem uma maior parte de sua dieta em gorduras, eles deverão comer menos alguma outra coisa. Muito provavelmente, um aumento percentual de gordura vem à custa dos carboidratos. E com Vorster como principal autor das diretrizes, menos carboidratos deveria ter sido uma proposta inaceitável.
Sem deixar de mencionar que a ADSA solicitou o envolvimento da indústria nas orientações de 2012. ADSA escolheu Sue Cloran especificamente, a fim de representar os interesses da indústria de alimentos na elaboração das recomendações. Cloran é uma Gerente Sênior de Nutrição Marketing da Kellogg’s, bem como membro de necessidades nutricionais da Força Tarefa ILSI na Europa.
 
As Testemunhas Peritas da Indústria Alimentar
 
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Agora que Vorster convencera a HPCSA a acusar Noakes de conduta não profissional, as audiências começaram. Em novembro 2015 , depois de alguns engasgos, a HPCSA, convocou os peritos contra Noakes: Este Vorster, Ali Dhansay, Salomé Kruger e Willie Pienaar. Nós cobrimos a longa história de Vorster com a Big Sugar e Big Soda acima. Não pode surpreendê-lo aprender que Dhansay e Kruger são bem conectados aos Junk Foods também.
Em 2013, Dhansay serviu como presidente da proxy da Coca-Cola a ILSI da África do Sul. Ele é atua atualmente como presidente da NSSA e "Diretor da Unidade de Investigação Intervenção Nutricional" no "Medical Research Council" nacional, que é semelhante ao Institutos Nacionais de Saúde dos EUA. Assim, o homem encarregado da pesquisa de intervenção nutricional para o governo sul-africano também presidiu um infame grupo proxy da Big Soda e Big Food.
Note-se que através de sua presidência a ILSI, Dhansay trabalhou em cooperação com representantes da Coca-Cola, a empresa de doces Mars, a empresa farmacêutica Bayer e da Nestlé. Observe também que em seu papel na ILSI, Dhansay apresentou-se como um representante do Conselho de Investigação Médica da África do Sul (aos leitores americanos: seria negligente assumir seu país está imune à mesma patologia).
 
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O pediatra testemunha pericial contra Noakes, Ali Dhansay, é o recente ex-presidente de uma proxy da Coca-Cola. Fonte
 
Quanto ao terceiro perito contra Noakes, Salomé Kruger, ela tem uma longa história com a pesquisa financiada pela Big Sugar. Um estudo financiado pela Sugar Association dela alegou que "o sedentarismo", e não o consumo excessivo de comida, era o "principal determinante da obesidade em mulheres negras na província do Noroeste." Isto pode soar familiar para quem já ouviu falar da Global Energy Balance Network da Coca-Cola.
 
O ILSI cria uma força-tarefa de nutrição para a África do Sul
Em 13 de maio de 2014, o ILSI realizou seu próprio encontro sobre nutrição na África do Sul. Talvez não por coincidência, esta reunião ocorreu exatamente nove dias antes da HPCSA se reunir para decidir se iriam condenar Noakes. A reunião de Maio do ILSI estabeleceu um Grupo de Trabalho de Nutrição (NTF) para o país.
Esta foi a primeira força-tarefa do ILSI, sempre dedicada especificamente à nutrição na África do Sul. E a primeira atividade do NTF foi sua apresentação no Congresso de Nutrição da ADSA de 2014, como discutido anteriormente. Não foi por acaso que a apresentação do ILSI incluiu três funcionários de saúde do governo sul-africano. O ILSI teve como objetivo construir "parcerias de colaboração entre a academia, governo e indústria", como exibido abaixo:
 
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Uma parceria público privada envolvendo a academia
 
A NTF determinou que seu primeiro esforço acadêmico seria “um projeto em potencial para um estudo integral da dieta para a África do Sul”. Dois anos mais tarde, o ILSI da África do Sul lançou a sua Primeira publicação acadêmica sobre nutrição desde a criação do NTF: Avaliação da Ingestão Dietética de escolares na África do Sul: 15 anos após o primeiro estudo nacional.
Os autores financiados pelo ILSI deste novo estudo declararam "nenhum conflito de interesse", apesar de reconhecer que o ILSI produziu e financiou inteiramente a sua investigação, e apesar do fato de que a Associação de Açúcar tinha financiado cada um deles no passado ( ).
Então, se uma proxy da Coca-Cola financiou sua pesquisa, como os autores poderiam alegar estarem livres de conflitos de interesse? Bem, os autores afirmaram que o ILSI,
 
"Não teve nenhum papel na concepção do estudo; no recolhimento, análise ou interpretação de dados; na redação do manuscrito, e na decisão de publicar os resultados".
 
Assim, podemos ter a certeza de que um proxy de Coca-Cola que financia totalmente a pesquisa não teve qualquer influência sobre o produto final. Ou podemos?
 
Outras pesquisas do ILSI também reivindicaram total independência da influência do ILSI. Por exemplo, Candice Choi da Associated Press relatou em um esforço em nutrição do ILSI da América do Norte - financiado em Dezembro de 2016. O seu objetivo era desacreditar várias diretrizes nacionais que tentaram desencorajar o consumo excessivo de açúcar.
A peça do ILSI North America também afirmou que seus autores "escreveram o protocolo e conduziram o estudo independentemente do (próprio) ILSI". Isso era 100% falso. A repórter da Associated Press, Choi descobriu e-mails indicando que o ILSI "solicitou revisões" dos autores. Se o ILSI está lhe dizendo como revisar, seu estudo não é independente do ILSI. E assim, os Anais de Medicina Interna tiveram de alterar o estudo financiado pelo ILSI para refletir as revelações de Choi. Os AIM ainda não divulgaram o financiamento direto da Coca-Cola que um autor recebeu.
Se a pesquisa financiada pelo ILSI norte-americano fez afirmações falsas sobre o envolvimento do ILSI e escondeu conflitos de interesse relacionados à Coca-Cola, qual a razão que temos para acreditar que a pesquisa do ILSI na África do Sul é diferente?
 
Consultor da Big Soda e Big Sugar para o julgamento de Noakes: Marjanne Senekal
Com certeza, o período de tempo entre o julgamento de Noakes e a iniciativa de nutrição do ILSI poderia ter sido um mero acidente. Ambos foram lançados no mesmo período de 10 dias em maio de 2014, mas essa concorrência não significava necessariamente que há qualquer relação entre eles. Ou seja, exceto pelo fato de que a mesma mulher desempenhou um papel de liderança no NTF da ILSI e no julgamento de Noakes. Marjanne Senekal co-autora do estudo ILSI de 2016 sobre ingestão alimentar, o primeiro produzido desde que o ILSI estabeleceu sua NTF.
Senekal, que também foi financiada pela Associação de Açúcar, coautora do acima mencionado Naude Review . Esta revisão desempenhou um papel crítico na motivação do julgamento de Noakes, graças ao relatório de Este Vorster à HPCSA. Ele alegava mostrar que níveis variados de ingestão de carboidratos fazia "pouca ou nenhuma diferença na perda de peso e nas mudanças nos fatores de risco cardiovascular".
Os autores tomaram algumas decisões excêntricas antes de chegar a essa conclusão. Por um lado, eles não divulgaram seus conflitos de interesse, e de alguma forma o PLOS One os deixou escapar assim. Esta decisão é particularmente notável à luz do fato de a própria PLOS One publicou algumas das evidências mais marcantes demonstrando que a indústria financiou pesquisas tendenciosas.
Tivessem os autores divulgados seus conflitos, poderia ter sido reconhecido, que pelo menos, dois deles foram pagos pela Associação de Açúcar, e um foi financiado pela Novartis.
A autora principal, Celeste Naude falou no "Simpósio Açúcar e Saúde Simpósio" da Sugar Association do ano anterior, e a Associação de Açúcar financiou sua pesquisa publicada em 2015.
Nelia Steyn, de confiança do ILSI foi relatada na imprensa como tendo sido "envolvida" na revisão, mas seu nome não aparece em nenhum lugar do artigo publicado. É mais um exemplo de influência escondida do ILSI?
Curiosamente, os autores da Naude Review classificam as dietas de baixo carboidrato como qualquer coisa com menos de 45 por cento de carboidratos. E eles descrevem até dietas com até 65 por cento de carboidratos como "equilibradas". É razoável descrever uma dieta como "equilibrada" quando quase dois terços de suas calorias vêm dos carboidratos? E dado que Noakes recomenda que 5 por cento ou menos da dieta viesse dos hidratos de carbono para os resistentes à insulina, a Naude Review tem praticamente nenhuma relevância para a posição de Noakes, quer para apoiá-lo ou desacreditá-lo.
Além disso, Noakes considera que o benefício principal de dietas de baixo teor de carboidratos é a sua capacidade de suprimir o apetite. Controlando a ingestão calórica total, a Naude Review negou assim este alegado benefício removendo toda a diferença possível no apetite entre grupos com quantidades inferiores e mais elevadas de hidratos de carbono.
Noakes e Dr. Zoë Harcombe publicaram uma crítica da Naude Review em dezembro de 2016. Eles mostraram que Naude et al. não seguiram seus próprios padrões relatados na seleção de estudos para revisão. A resposta veio dois anos mais tarde, no entanto. Não só a defectiva Naude Review ajudou Vorster a convencer a HPCSA a processar Noakes, mas facilitou uma campanha de relações públicas em larga escala para desacreditar Noakes e sua recomendação alimentar.
O dia em que a Naude Review foi publicada em julho de 2014, as organizações de saúde financiadas pelas Junk Food da África do Sul entraram em ação. A estratégia era simples: usar a revisão Naude para desacreditar Noakes e sua dieta low-carb, ou "Banting". O press release da Naude Review (comunicado à imprensa) recomendou entrar em contato com representantes da Heart and Stroke Foundation da África do Sul, ADSA, NSSA, e o próprio HPCSA. A Associação de Açúcar informou , com aparente alegria, "que descobertas desmascararam as alegações de que dietas pobres em carboidratos resultam em mais perda de peso."
Na imprensa, da Heart and Stroke Foundation, a CEO Vash Munghal-Singh concluiu: "Com base na evidência atual não podemos recomendar uma dieta baixa em hidratos de carbono para o público." Singh tem servido no Conselho de Curadores do ILSI da África do Sul por anos. A Unilever, a maior fabricante de sorvete do mundo, é um apoio financeiro membro do ILSI da África do Sul. Talvez não seja uma coincidência, então, que a Unilever também é um Patrocinador de Ouro da Singh’s Heart and Stroke Foundation (fundação para cardiopatia e derrame de Singh).
Estes conflitos de interesses desenfreados, entretanto, não retardaram a campanha para desacreditar Noakes. Singh e seus colegas raramente, ou nunca, revelaram seus interesses financeiros pela indústria de Junk Food quando eles publicamente opinavam sobre nutrição.
 
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Vash Mungal-Singh, falando em um evento do Instituto Internacional de Ciências da vida (ISLI)
A campanha anti-Noakes continuou em ritmo acelerado. O mês seguinte à Naude Review, Senekal e seus colegas da Universidade da Cidade do Cabo, enviaram uma carta ao editor do Cape Times atacando "as implicações para a dieta e saúde de Noakes. " Senekal et al. ligou a dieta de Noakes ao "risco aumentado para a doença de coração, o diabetes mellitus, os problemas de rins, a constipação, determinados cânceres e excessivas reservas de ferro em alguns indivíduos no longo prazo." Não citaram uma única fonte para dar suportar a estas reivindicações.
A carta de Senekal também afirmou ser assinada pelo professor de cardiologia da UCT, Lionel Opie. No entanto, Opie enviou para a Universidade e para Tim Noakes para dizer que ele nunca assinou tal carta e repudia seu conteúdo.
Senekal projetou claramente a carta anti-Noakes para ter impacto máximo. Ela e os seus colegas enviaram-na ao Ministro da Saúde, ao Presidente do Parlamento e ao Comité Sul-Africano de Decanos Médicos, entre outros. Quando lhe perguntei sobre essa carta, Noakes respondeu: "Minha própria universidade me humilhou publicamente".
A carta acusava Noakes de violar os princípios da "liberdade acadêmica" e da "livre investigação". Estes são valores surpreendentes para Senekal defender. Ela não sentiu a picada de ironia no ano seguinte, quando se juntou à equipe que processava Noakes por seu tweet?
Na audiência de outubro de 2016 no julgamento de Noakes, Senekal havia sido nomeada consultora oficial da equipe jurídica da HPCSA que processava Noakes. Ela apareceu proeminente nas audiências, pairando sobre os advogados que examinaram Noakes. O papel de Senekal de processar Noakes é totalmente independente de seu trabalho sobre nutrição para o ILSI?
 
 
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O ILSI e a Sugar Association financiaram Marjanne Senekal na consultoria para os advogados da HPCSA contra Noakes.
 
O Papel Clandestino do ILSI na Campanha Contra Tim Noakes
Resumindo: um ex-presidente do ILSI da África do Sul convenceu a HPCSA a acusar Noakes, outro ex-presidente do ILSI da África do Sul testemunhou como perito contra ele, e um pesquisador financiado pelo ILSI forneceu consulta a equipe jurídica que o processou. E, no entanto, não uma notícia única onde se conectasse o ILSI ao julgamento de Noakes.
A capa da Outside Magazine com Noakes é notavelmente pouco curiosa no que diz respeito ao envolvimento da indústria. Claire Strydom é consultora do cereal da Kellogg’s, e ela apresentou a queixa durante seu mandato como presidente da Associação de Dietética na África do Sul, mas nunca se saberia disso por meio do artigo da Outside. E o artigo cita Louise Burke, sem mencionar seu trabalho para o Gatorade Sports Science Institute. Cita o professor da Universidade de Cape Town, Jacques Rousseau, mas não menciona que ele é o filho de Jacques Rossouw, um dos mais proeminentes rivais de Noakes .
Nem o repórter do LA Times, Robyn Dixon mencionou esses fatos. Ela também cita Rousseau e não divulga seu conflito de interesses. Além disso, Dixon escreve que os partidários de Noakes "afirmam que a Big Food - as indústrias de processamento de alimentos, açúcar e grãos – no fundo é quem estão à espreita ". No entanto, ela não relata uma única evidência apoiando esta afirmação agora bem documentada.
 
O livre discurso pela comida: Sobreviverá?
 
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Falar pode ter um custo. Pintura de Jacques Louis David - A morte de Sócrates, 1787
Ao se encontrar com Noakes, ele não mostra o dogmatismo de que foi acusado. Duvido que ele prescrevesse uma dieta cetogênica para a maioria dos CrossFitters, por exemplo. Ele imediatamente reconheceu que os participantes de esportes de alta intensidade, intermitentes se beneficiariam com moderada ingestão de carboidratos, o que ele definiu como aquela com até 200 gramas por dia.
A abordagem de baixo carboidrato de Noakes é a melhor para a população em geral? É uma dieta mais moderada em carboidratos, como a  The Zona Diet, imprópria para pessoas comuns? Eles perderiam mais peso e melhorariam a sensibilidade à insulina com uma dieta com 5% de carboidratos? Deveriam ser as dietas de baixo teor de carboidratos ser o padrão para os seres humanos?
Um estudo do ano passado no American Journal of Clinical Nutrition descobriu que uma dieta low-carb "alcançam grandes melhorias no perfil lipídico, na estabilidade de glicose no sangue, e a redução na necessidade de medicação de diabetes" em relação a uma dieta com 53% de carboidratos. Ambas as abordagens "conseguiram uma perda de peso substancial e reduziram a HbA1c e a glicose em jejum".
E assim, a totalidade da pesquisa acadêmica ainda não respondeu definitivamente a essas perguntas, em parte graças à confusão que a indústria de Junk Food tem causado. O debate dieta aumenta, mas isso é uma coisa boa. O debate é um pré-requisito necessário para a ciência, e para a sociedade livre em geral. Todas as publicações revisadas por pares no mundo não se enquadrariam na ciência real se a dissidência é proibida. As eleições populares não constituem democracia sem a liberdade de expressão.
Será que o debate aberto persistirá, no entanto, se a indústria de Junk Food e seus representantes continuarem a assediar legalmente seus oponentes? Além de Noakes, nutricionistas tentaram tirar do ar o paleo blogger Steven Pinsey da Carolina do Norte. E cirurgião australiano Dr. Gary Fettke está atualmente sob investigação depois que um nutricionista o denunciou por seus conselhos para uma nutrição pobre em carboidratos.
O HPCSA vai divulgar a sua decisão final sobre Noakes em 21 de abril de 2017. Noakes está cautelosamente otimista. Parece improvável que a HPCSA declare que seu tweet de 2014 constituiu uma relação médico-paciente. A própria Strydom admitiu que o tweet de Noakes não se qualificava como tal relacionamento. O caso contra Noakes desmorona sem esse elemento crucial. Noakes ainda pensa que é possível que seus 900 slides e mais de 30 horas de testemunho convencerão a África do Sul a descartar suas diretrizes dietéticas corruptas promovidas pela indústria. Possivelmente.
 
A decisão de abril também pode ter implicações dramáticas para a indústria sul-africana de Junk Food. Noakes é um dos adversários mais proeminentes do país ao açúcar, bem no momento em que o ministro das Finanças do país tem proposto um imposto para bebidas açucaradas o que pode " colocar em colapso " a indústria de açúcar do país. Phil Gutsche, presidente da Coca-Cola Beverages da África, descreveu o imposto proposto como " assassino ". Os sul-africanos consomem três vezes mais produtos da Coca-Cola do que a média global, mas a empresa local da Coca-Cola diz que o imposto vai reduzir os seus lucros em mais da metade. O imposto está previsto para entrar em vigor em abril de 2017. Para combatê-lo, a Coca-Cola tem empregado sua estratégia normal do financiamento secreto de pesquisas favoráveis à indústria.
 
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Coca-Cola está secretamente financiando pesquisa na África do Sul para fazer lobby contra um imposto dos refrigerantes. Fonte
Os dias de um proxy da Coca-Cola e da Associação do Açúcar que controlam a política sul-africana de saúde certamente parecem estar contados. No entanto, mesmo se Noakes ganhar, os representantes dos Junk Foods já estabeleceram um precedente perigoso para a liberdade de expressão. Os cientistas e médicos mais altamente qualificados devem agora pensar duas vezes antes de falarem sobre carboidratos. Eles podem realmente suportar uma investigação, enormes honorários legais e serem alvos de campanhas de press release? É provável que a indústria só aumente sua agressividade uma vez que ela enfrente ameaças crescentes de impostos e regulação.
 
O Complexo Industrial-Governo-Acadêmico
 
Após Noakes reunr-se com Greg Glassman e outros funcionários da CrossFit no mês passado, ele teve uma epifania sobre as forças agregadas contra ele:
 
"Um complexo industrial-governamental-acadêmico (IGA) está protegendo os interesses comerciais da crescente indústria médica da diabetes"
 
Pode parecer uma teoria da conspiração, mas pode-se descartar a avaliação de Noakes à luz dos fatos? Afinal de contas, um "complexo industrial-governamental-acadêmico" não está longe das autodeclaradas "parcerias colaborativas entre a academia, o governo e a indústria" pelo ILSI.
Para alguns, o julgamento de Noakes pode parecer uma voz de repressão fascista pela promoção de produtos tóxicos, mas para a Coca-Cola e seus proxies, é apenas um bom negócio.
 
 
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Observação: proxy tem o significado de “representante” no artigo
LINK do original:

 

Editado por Norton

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