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Postado (editado)

Hipertrofia Muscular: Definição e mecanismos de modulação.

 
“Corpo sarado em 1 mês!”, “20 táticas para construir um corpo nota 10!”, “Fique forte já!”. Se você chegou até aqui à espera de mais algumas “dicas infalíveis” à la Men's/Women's Health, sinto informar que veio ao lugar errado. O objetivo desse post é, baseado em estudos recentes, procurar, primeiramente, entender o que vem a ser a tão famosa hipertrofia muscular, como ela ocorre e quais são as possíveis vias de interação que nos permitiriam potencializá-la. Se você se interessa pelo assunto, siga em frente, valerá a pena. Prometo.
 
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Para definir formalmente o conceito de hipertrofia muscular, é necessário, primeiramente, entender como é estruturado o nosso músculo. O músculo em questão nesse artigo, é formado pelo que chamamos de tecido muscular estriado esquelético, ou mais comumente, tecido muscular esquelético. Esse tipo de tecido é constituído por um conjunto de células multinucleadas especializadas, as fibras musculares. Essas fibras são formadas por um conjunto de feixes ainda menores, as miofibrilas. Estas, são construídas a partir da união de unidades estruturais que se repetem, conhecidas como sarcômeros. Cada sarcômero é formado a partir de um determinado conjunto de proteínas, que podem ser divididas em dois grupos: contráteis (Actina, Miosina, Tropomiosina e Troponina) e estruturais (Titina e Nebulina) [4], [5]. Como o nome já diz, as proteínas contráteis são aquelas responsáveis por permitir a contração/descontração muscular, sendo sua quantidade, importantíssima para a determinação do potencial de realização de trabalho mecânico pelo músculo. Em outras palavras, quanto maior o conteúdo de miofibrilas, mais forte é o músculo. Agora, podemos definir com mais clareza o conceito de hipertrofia muscular, que nada mais é que o aumento da área da seção transversal (AST) de uma fibra muscular [1], [3], [4], [5], [6], [7]. Esse aumento pode ser classificado em dois tipos de hipertrofia: sarcoplasmática e miofibrilar [6], [7].
 
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A hipertrofia sarcoplasmática ocorre devido ao aumento do volume do citoplasma na fibra muscular, resultando no aumento quantitativo de estruturas e componentes que permitirão aumentar a eficiência da contração das fibras musculares, enquanto que a hipertrofia miofibrilar consiste no reparo e fortalecimento dos filamentos protéicos formadores das miofibrilas [7]. O primeiro tipo é observado com mais frequência em praticantes de bodybuildingenquanto que o segundo é mais frequente em atletas de powerlifting. Isso talvez tenha contribuído para a ideia de que protocolos de exercícios baseados em menores quantidades de repetições e cargas muito pesadas, como praticado por levantadores de peso, contribuam para um maior estímulo da hipertrofia miofibrilar, enquanto que, treinos com menos peso e mais repetições estariam associados ao desenvolvimento de hipertrofia sarcoplasmática. Porém, a ciência desconhece até aqui qualquer correlação precisa entre os protocolos de exercícios e os diferentes tipos de hipertrofia. A única coisa que parece consenso é que uma não ocorre sem a outra, caso contrário, a homeostase das fibras musculares seria comprometida [7]. Por ser diretamente associada ao ganho de força através do aumento do conteúdo proteico das fibras musculares, estando associada à regeneração muscular, a hipertrofia miofibrilar é a mais estudada e melhor documentada, sendo assim, o foco das pesquisas atuais e, portanto, desse post.
 
 
Sabe-se que o treinamento resistido (TR), ou treinamento com pesos, é capaz de gerar pequenas lesões nas miofibrilas (miotraumas), o que por sua vez resulta em uma resposta imediata da célula muscular a fim de re-estabelecer e fortalecer sua estrutura. Tal resposta é, a princípio, o aumento da transcrição celular com o propósito de elevar a síntese de proteínas necessárias para o reparo das miofibrilas afetadas. A transcrição é orientada pelos núcleos da fibra muscular (mionúcleos), de forma que a quantidade deles é um fator determinante da taxa de síntese protéica. O fato da fibra muscular ser multinucleada, dá origem ao conceito de domínio mionuclear, que nada mais é do que a quantificação da região do citoplasma na qual um mionúcleo é suficiente para exercer o controle [4]. Estudos recentes com humanos mostraram que para um crescimento moderado da fibra muscular (aumento da AST ~20%), o aumento do domínio mionuclear é suportado pela elevação na eficiência dos processos de transcrição/tradução, acarretando uma maior taxa de síntese de proteínas. Porém, em casos onde ocorrem acentuada hipertrofia muscular (aumento da AST das fibras > 25%), o domínio mionuclear aumenta de tal forma que faz-se necessária uma maior quantidade de núcleos, o que pode ser obtido a partir da atuação de algumas células específicas [4],[5].
 
satelite.jpg
 
Um conjunto de células importantes para a regulação trófica do músculo esquelético é aquele formado por células tronco que se situam entre as fibras musculares e são conhecidas como células satélites. Tais células encontram-se em estado quiescente, ou seja, adormecidas, inativas, até que um estímulo as ativem [4]. A ativação das células satélites é influenciado por uma série de fatores como por exemplo, hormônios (GH, insulina e testosterona), fatores de crescimento (IGF-I, HGF, FGF e MGF), citocinas (IL-6, IL-15 ...) e estímulos adaptativos (TR) [1], [3], [4], [5]. Após a ativação, as células satélites podem realizar mitose, proliferando-se e, em seguida, podendo sofrer diferenciação celular gerando os mioblastos, que são as células precursoras das fibras musculares. Quando esse processo ocorre em decorrência de miotraumas, uma pequena proporção de células satélites que sofreram proliferação retorna ao estado quiescente e re-estabelecem a população de células satélites, pelo processo de auto-renovação. Já, os mioblastos comprometidos com a regeneração migram para a região danificada e fundem-se à fibra muscular pré-existente para adicionar núcleos, ampliando a capacidade de síntese proteica e, assim, promovendo a hipertrofia. Entretanto, em casos de lesões mais severas que ocasionem a necrose da fibra (ação de toxinas e distrofia muscular), os mioblastos poderão alinhar-se e fundir-se entre si, para formar uma nova miofibra [5]. Como pode-se perceber, o processo de hipertrofia muscular envolvendo as células satélites é bastante complexo e ainda pouco compreendido, sendo o foco atual de inúmeras pesquisas científicas, que buscam entender, principalmente, que vias de sinalização intracelular são responsáveis pela ativação e proliferação dessas células [2], [5].
 
 
Suplementos.gif
 
 
E em termos práticos? O que sabemos? A resposta pode soar bastante decepcionante: Pouco, muito pouco. O que temos documentado, são alguns estudos baseados no mais puro empiricismo. Apesar disso, comentarei algumas conclusões aqui. Sabemos, por exemplo, que o estímulo da musculatura via corrente elétrica tende a gerar necrose tecidual, fazendo com que as células satélites sejam mobilizadas para a reposição das fibras em vez da regeneração e fortalecimento, promovidas pelo estímulo por TR. Além disso, suspeita-se que exercícios que privilegiam ações excêntricas são mais eficazes em causar hipertrofia porque esse tipo de movimento pode causar maior dano muscular e inflamação - especula-se que nesse tipo de exercício, aumentos nas concentrações de IGF-1 muscular podem gerar maior ativação das células satélites. Os níveis mais exacerbados de lesões gerados pelas ações excêntricas necessitam de um reparo maior, que é mediado pela incorporação das células satélites. Com relação à suplementação alimentar, suspeita-se que a utilização de suplementos de proteína, bem como aqueles a base de creatina, juntamente com treinamentos de força, são capazes de amplificar a ativação e a proliferação das células satélites, tornando mais eficaz o processo de hipertrofia muscular. Em relação ao momento da suplementação nutricional, sabe-se que os aminoácidos são fundamentais durante a sessão de treinamento físico para evitar um dano muscular excessivo, e três horas após a sessão, quando maximizam a síntese proteica. A utilização de esteróides anabolizantes parece não ter ação sobre a população de células satélites, tendo seus efeitos hipertróficos provavelmente associados à outras vias de modulação [4].
 
É importante ressaltar aqui que, como pudemos observar, as únicas certezas em relação ao processo de hipertrofia muscular, são os efeitos benéficos decorrentes da prática de exercícios físicos. Não há fórmula mágica daMen's/ Women's health, não há AB shaper, não há stanozolol, não há oxandrolona que fará milagres se você não deixar de preguiça e for suar na academia. Como já bem dizia a mãe loira do funk carioca: “Quer ficar sarada?? Quer ficar com a perna grossa?? Tem que ter disposição”
 
 
 
 
 
Referências:
 
[1] Blaaw, B., Reggiani, C., The role of satellite cells in muscle hypertrophy, J. Muscle Res. Cell Motil. 35, 3 - 10, 2014.
 
[2] Fernandes, T., Soci, U.P.R., Alves, C.R., Carmo, E.C., Barros, J.C., Oliveira, E.M., Determinantes moleculares da hipertrofia do músculo esquelético mediados pelo treinamento físico: Estudo de vias de sinalização, Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte 7 (1), 169 - 188, 2008.
 
[3] Kadi, F., Charifi, N., Denis, C., Lexell, J., Andersen, J.L., Schjerling, P., Olsen, S., Kjaer, M., The behaviour of satellite cells in response to exercise: what have we learned from human studies?, Eur. J. Physiol. 451, 319-327, 2005.
 
[4] Yamada, A. K., Bueno Júnior, C.R., Células satélites e atividade física: Relação dos conhecimentos básicos com a prática profissional, Revista Brasileira de Ciência e Movimento 17(1), 2009.
 
[5] Aguiar, A.F., Aguiar, D.H., Plasticidade muscular no exercício físico, Revista Brasileira de Ciência e Movimento 17(3), 104-113, 2009.
 
[6] Baye, D., The myth of training for sarcoplasmic versus myofibrilar hypertrophy, 2014.
 
[7] Sabino, M., Hipertrofia muscular: miofibrilar e sarcoplasmática, 2013.
 
Editado por Torf

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E em termos práticos? O que sabemos? A resposta pode soar bastante decepcionante: Pouco, muito pouco. O que temos documentado, são alguns estudos baseados no mais puro empiricismo.

rs

pelo contrário cara, a questão é que as pessoas complicam demais algo que é simples. Não tem segredo nenhum pra hipertrofia, vc mandando os nutrientes para dentro e treinando pesado, 80% do trabalho tá feito...

Postado

pelo contrário cara, a questão é que as pessoas complicam demais algo que é simples. Não tem segredo nenhum pra hipertrofia, vc mandando os nutrientes para dentro e treinando pesado, 80% do trabalho tá feito...

A citação do texto foi pra aqueles que CRIANDO UM CASO AQUI PROS EXTREMOS NÃO ESFREGAREM MINHA CARA NO ASFALTO PRA DEPOIS CUSPIREM NA MINHA CARA mesmo com 10 anos de treino sem resultado preferem continuar com aquele por quê ''a ciência comprova que é o melhor'' e uma hora vai dar resultados

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A citação do texto foi pra aqueles que CRIANDO UM CASO AQUI PROS EXTREMOS NÃO ESFREGAREM MINHA CARA NO ASFALTO PRA DEPOIS CUSPIREM NA MINHA CARA mesmo com 10 anos de treino sem resultado preferem continuar com aquele por quê ''a ciência comprova que é o melhor'' e uma hora vai dar resultados

Nesse caso eu concordo, a maioria das pesquisas não tem um rigor adequado, pegam meia duzia de cobaias e depois de poucas semanas tiram as conclusões mais loucas possíveis... Claro que tem aquelas pesquisas que realmente são bem formuladas e embasadas, mas infelizmente muitas não estão em português/ inglês (como o russo). Por isso eu prefiro dar mais preferencia à prática do que a teoria

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