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Postado (editado)

Como já é sabido de alguns por aqui, as gorduras saturadas não são propriamente as vilãs do coração, apesar de os últimos 50 anos de pesquisa terem tentado mostrar isso.

Um novo e importante estudo realizado na University of Cambridge, só a terceira melhor do mundo, vem questionar o link existente e praticamente santificado entre as gorduras saturadas e até mesmo as insaturadas e doenças do coração, indicando que essa relação é muito complexa e que na prática os carbos em excesso ou dietas açucaradas são quem mais prejudicam o coração.

Segue o artigo:

Muitos de nós sabemos faz muito tempo que gorduras saturadas, o tipo encontrado na carne, manteiga e queijo, causa doença do coração. Mas uma grande e exaustiva nova análise realizada por um time internacional de cientistas não encontrou nenhuma evidência de que comer gorduras saturadas pudesse aumentar os ataques do coração e outros eventos cardíacos.

As novas descobertas são parte de um corpo crescente de pesquisa que vem desafiando a sabedoria comum aceita de que gorduras saturadas são inerentemente ruins para você e continuarão a debater quais comidas são melhores para comer.

Por décadas, oficiais de saúde têm urgido ao público para evitar gorduras saturadas ao máximo, dizendo que elas devem ser substituídas por gorduras insaturadas nas comidas como nozes, peixe, sementes e óleos vegetais.

Mas a nova pesquisa, publicada na segunda-feira nos “Annals of Internal Medicine” (Anais internos de medicina), não encontrou nada que mostrasse que pessoas que comeram altos níveis de gordura saturada tivessem mais doenças do coração do que aquelas que comeram menos. Nem encontraram menos doenças naqueles que comeram altas quantidades de gordura insaturada, inclusive gorduras mono-insaturadas como azeite ou poli-insaturadas como óleo-vegetal.

“Minha opinião sobre isso seria de que não é com a gordura saturada que nós deveríamos nos preocupar” nas nossas dietas, disse o Dr. Rajiv Chowdhury, o autor líder do novo estudo e um epidemiologista cardiovascular no departamento de saúde pública e cuidados primários na Universidade de Cambridge.

Mas o Dr. Frank Hu, um professor de nutrição e epidemiologia na Escola de Saúde Pública em Harvard, disse que as descobertas não devem ser levadas como “uma luz verde” para comer mais bifes, manteiga e outras comidas ricas em gordura saturada. Ele disse que focar em gorduras individuais e outros grupos de nutrientes isoladamente pode ser enganador e te confundir, porque quando pessoas cortam as gorduras eles tendem a comer mais pão branco, cereais e outros carbos refinados que também podem ser ruins para a saúde cardiovascular.

“A visão puramente do macronutriente é desatualizada”, disse o Dr. Hu, que não estava envolvido no estudo. “Eu penso que as direções dietéticas do futuro colocarão mais e mais ênfase nas comidas reais ao invés de dar um limite superior absoluto ou um ponto de corte para certos macronutrientes”.

Ele disse que as pessoas deviam tentar comer comidas que são típicas da dieta do Mediterrâneo, como nozes, peixe, abacate, grãos fibrosos e azeite de oliva. Um grande teste clínico do ano passado, que não foi incluído na análise atual, descobriu que uma dieta mediterrânea com mais nozes e azeite extra virgem reduzira os ataques do coração quando comparada com uma dieta com baixo teor de gorduras com mais amido. http://www.nytimes.com/2013/02/26/health/mediterranean-diet-can-cut-heart-disease-study-finds.html?_r=0

Alice H. Lichtenstein, uma bioquímica nutricional na Universidade de Tufts, concordou que “seria triste se esses resultados forem interpretados de modo a sugerir que as pessoas podem voltar a comer manteiga e queijo à vontade,” citando evidências de que substituindo gorduras saturadas por comidas que são ricas em gorduras insaturadas – ao invés de simplesmente comer mais carbos- reduzem o risco cardiovascular.

A doutora Lichenstein, que não estava envolvida no último estudo, foi a autora líder do American Heart Assiciation’s dietary guidelines” (o guia dietético da Associação Americana do Coração), que recomenda que as pessoas restrinjam as gorduras saturadas a apenas 5% das suas calorias diárias (https://www.heart.org/HEARTORG/GettingHealthy/NutritionCenter/HealthyEating/The-American-Heart-Associations-Diet-and-Lifestyle-Recommendations_UCM_305855_Article.jsp), ou simplesmente duas colheres de sopa de manteiga ou duas fatias de queijo cheddar para uma pessoa típica comendo 2,000 calorias por dia. A associação do Coração diz que restringir gorduras saturadas e comer mais gorduras insaturadas, como feijões e vegetais pode proteger contra doenças do coração abaixando os níveis de lipoproteínas de baixa densidade, o LDL, tão chamado de “mau colesterol”. (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16785338)

Na nova pesquisa, o doutor Chowdhury e seus colegas visaram avaliar as melhores evidências disponíveis, puxando estudos desde a década dos anos 80 que envolveram mais de meio milhão de pessoas. Eles buscaram não apenas o que as pessoas comeram, mas também medidas mais objetivas tais como a composição de ácidos graxos em suas correntes sanguíneas e em seu tecido adiposo. Os cientistas também revisaram evidências de 27 testes controlados randomicamente – o padrão de ouro das pesquisas científicas – que procuravam saber se ingerindo suplementos de gorduras poli-insaturadas como óleo de peixe promoviam saúde ao coração.

Os pesquisadores encontraram um link entre as gorduras trans, a tão largamente maliciosa gordura parcialmente hidrogenada dos óleos que há tempos é adicionada nas comidas processadas, e doenças do coração. Mas eles não encontraram evidência de perigos da gordura saturada, ou benefícios de outros tipos de gordura.

O principal motivo pelo qual as gorduras saturadas possuem uma má reputação é que ela aumenta o colesterol LDL, o tipo que aumenta o risco de algum evento cardíaco. (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16785338) Mas a relação entre gorduras saturadas e o LDL é complexa, disse o Dr. Chowdhury. Além de aumentar o colesterol LDL, as gorduras saturadas também aumentam o colesterol de alta densidade, o HDL, o tão chamado bom colesterol. E o LDL que ela aumenta é um subtipo de partículas grandes, fofas, que são geralmente benignas. Doutores se referem a uma preponderância dessas partículas como “Padrão A de LDL”.

As menores e mais densas formas do LDL é quem são mais perigosas. Essas partículas são facilmente oxidadas e podem mais provavelmente causar alguma inflamação e contribuir para a instalação de plaquetas nas artérias. Um profile de LDL que consiste basicamente desse tipo de partículas é chamado de “Padrão B de LDL”, e normalmente coincide com taxas altas de triglicérides e baixos níveis de HDL, ambos fatores de risco para ataques do coração e infartos.

As pequenas e mais perniciosas partículas no sangue não são aumentadas pela gordura saturada, mas pelas comidas açucaradas e um excesso de carboidratos, disse o Doutor Chowdhury. “É com as dietas ricas em carboidratos ou açucaradas que o foco do manual dietético deveria estar se preocupando”, ele disse. “Se alguma coisa está levando seu LDL a níveis mais adversos, são os carboidratos”.

Enquanto a nova pesquisa não mostrou nenhuma relação geral entre a ingestão de gorduras saturadas ou poli insaturadas e eventos cardíacos, existem numerosos ácidos graxos individuais dentre esses grupos, e há alguns indicativos de que eles não são todos iguais.

Quando os pesquisadores olharam para os ácidos graxos na corrente sanguínea, por exemplo, eles descobriram que o ácido margárico, uma gordura saturada no leite e derivados, foi associada a um menor risco cardiovascular. Dois tipos de ácidos graxos ômega-3, as gorduras poli insaturadas encontradas nos peixes, também são protetoras. Mas alguns ácidos graxos poli insaturadas ômega-6, normalmente encontrados em óleos vegetais e comidas processadas, podem apresentar riscos, sugeriram as descobertas.

Os pesquisadores então procuraram informações nos testes randomizados para ver se tomar suplementos como óleo de peixe produzia algum benefício cardiovascular. E não encontraram.

Mas o Dr. Chowdhury disse que pode haver um bom motive para essa discrepância. Os testes envolvendo suplementos tinham como cobaias em sua maioria pessoas que já tinham alguma doença do coração ou que tinham um alto risco de desenvolvê-las, enquanto que outros estudos envolveram populações saudáveis em geral.

Então é possível que os benefícios dos ácidos graxos ômega-3 estejam em prevenir as doenças do coração, ao invés de trata-las ou revertê-las. Pelo menos dois grandes testes clínicos projetados para ver se esse é o caso estão atualmente em andamento.

A version of this article appears in print on 03/18/2014, on page A3 of the NewYork edition with the headline: Study Doubts Saturated Fat’s Link to Heart Disease.

Fontes:

http://well.blogs.nytimes.com/2014/03/17/study-questions-fat-and-heart-disease-link/

Sobre o estudo, pelo jeito ele não está disponível gratuitamente, saiu nos anais de medicina interna, aqui:

http://annals.org/article.aspx?articleid=1846638&atab=7

Se você for um subscriber pode ter acesso.

Mas tem também um link direto pra university of Cambridge, que soltou o estudo, onde aborda a questão de forma mais comedida, sem meter o pau em nada como revistas e jornais:

http://www.cam.ac.uk/research/news/new-evidence-raises-questions-about-the-link-between-fatty-acids-and-heart-disease

Editado por Brunobyof

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Postado

Vlw ae por trazer esse artigo!

Realmente,o ser humano não foi feito pra comer açúcar,é de se esperar que a ingestão dos mesmos de algum problema além da diabetes.

  • Supermoderador
Postado

Muito bom o estudo, Bruno.

só não entendi onde você entendeu que:

na prática os carbos em excesso ou dietas açucaradas são quem mais prejudicam o coração.

No artigo que você linkou tem apenas uma opinião de um pesquisador que não participou do artigo, falando sobre outro estudo que comparou dieta mediterrânea x dieta com alimentos processados (era para ser uma dieta low-fat, mas os participantes não reduziram muito a ingestão de gorduras), em pessoas que já apresentavam problemas de saúde, e com idades variando de 55 a 80 anos.

Link para o estudo: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1200303

Postado

Opa valew Martin.

Então, a parte que cita isso é a citação do Dr. ChowdHury, que era o Autor Líder do novo estudo em Cambridge, que tá mais pro final do artigo:

The smaller, more artery-clogging particles are increased not by saturated fat, but by sugary foods and an excess of carbohydrates, Dr. Chowdhury said. “It’s the high carbohydrate or sugary diet that should be the focus of dietary guidelines,” he said. “If anything is driving your low-density lipoproteins in a more adverse way, it’s carbohydrates.”

Vou começar o trampo de tradução agora.

  • Supermoderador
Postado

Opa valew Martin.

Então, a parte que cita isso é a citação do Dr. ChowdHury, que era o Autor Líder do novo estudo em Cambridge, que tá mais pro final do artigo:

The smaller, more artery-clogging particles are increased not by saturated fat, but by sugary foods and an excess of carbohydrates, Dr. Chowdhury said. “It’s the high carbohydrate or sugary diet that should be the focus of dietary guidelines,” he said. “If anything is driving your low-density lipoproteins in a more adverse way, it’s carbohydrates.”

Vou começar o trampo de tradução agora.

Opa, isso eu não tinha visto :D valeu Bruno!

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