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Parkour Impressão Médicodesportiva Paulo Muzy


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Visitante usuario_deletado17
Postado

Texto retirado do FaceBook do Paulo Muzy (Formado em Medicina, Pós graduado em Fisiologia do Exercício, Treinamento Desportivo e Ortopedia e Traumatologia)

Leiam tudo, foi uma das melhores análises que já vi de um cara que realmente entende, sem sensacionalismo.

PARKOUR: PRIMEIRA IMPRESSÃO MÉDICO-DESPORTIVA

Foi uma surpresa ao ver meu irmão, esportista sazonal e hacker habitual dizer a frase: “Paulinho – vou treinar!”. O que me chocou foi, além da indicativa de que ele iria praticar uma atividade física externa – fato assaz difícil em uma sociedade violenta e sem espaços livres seguros para usos recreativos da população – foi o entusiasmo com que ele

emitiu essa frase. Chegou a lembrar-me da época em que eu praticava exercícios com

a mesma freqüência que escovava os dentes. Intrigado com a natureza do esporte que nunca havia ouvido falar, busquei por mais informações que pudessem iluminar minhas idéias.

Apresentação informal

Através de um link num e-mail mandado com o título: “é isso que o seu irmão faz”, tomei conhecimento deste esporte que lembrava uma corrida de obstáculos, mas com obstáculos tão diversos que num primeiro momento me causou apreensão. Me perguntei como esses garotos eram capazes de transpor tais obstáculos sem se machucar? Muitas vezes saltavam distâncias enormes, outras saltavam de alturas enormes e outras ainda corriam e saltavam sobre coisas como se não estivessem saltando, como se estivessem simplesmente correndo com uma amplitude maior de passada. Meu primeiro impulso, como médico-irmão-ortopedista foi a de comprar um paraquedas e um kit completo de protetores para as articulações dele. Mantive-me racional e então decidi estudar um pouco mais sobre o assunto.

Apresentação formal

Fiz um “googleagem” sobre o assunto no meu browser e conheci a história de um rapaz chamado David Belle, que definia o traceurs (a qualificação do praticante de parkour) como sendo o indivíduo capaz de transpor obstáculos de uma forma fluída, com a mínima interrupção do movimento. Segundo Belle, desenvolveu seu esporte tendo como motivação a necessidade do homem de escapar de situações de risco, inspirado na história de vida de seu pai e avô e impulsionado por sua própria trajetória (como militar e bombeiro). Da mesma forma que um soldado precisa se deslocar harmoniosamente entre os obstáculos em um campo de batalha, ora protegendo-se ora progredindo, ou mesmo um bombeiro precisa estar pronto a enfrentar as adversidades de forma ágil em um desastre ou incêndio para poder realizar um salvamento, o traceur deve realizar sua progressão em uma pista de obstáculos com o máximo de economia de movimento possível aliado ao máximo de agilidade disponível e o mínimo de interrupção deste movimento, condições que provavelmente garantiriam um uso racional de energia dando ao soldado ou ao bombeiro um ganho de tempo e economia de esforço ao enfrentar os obstáculos inerentes das adversidades que se apresentariam diante destes.

Assim nasceu a arte do movimento, conhecida pelo nome universal de parkour. Derivada do francês “Le Parcours” (o percurso) tendo sido modificada na sua interpretação inglesa para “Le Parkour” e admitida uma variante anglo-saxônica: o free-runnig.

Análise biomecânica rápida

Imediatamente revi os vídeos que recebi e notei que a proposta era de fato esta mesmo, e que os praticantes queriam transpor os obstáculos não somente por transpor, e sim com uma certa “elegância”, impressão que ficava patente devido a característica da não interrupção de forma alguma do movimento linear que faziam ao ir de encontro aos obstáculos. O que o praticante de parkour faz é adaptar seu sistema nervoso central para reagir a comandos e estímulos de forma a possibilitar a progressão do movimento praticamente sem interrupção, usando para isso contrações musculares intensas, mas precisas, pontos de equilíbrio exatos e movimentos ora dissipadores de energia ora amplificadores do impulso. O exemplo mais visível é o uso de técnica de rolamentos nas “manobras” onde o toque ao solo de forma mais ríspida é inevitável. Com o uso de tais movimentos, consegue-se de fato dissipar mais eficientemente a energia cinética diminuindo a chance desta ser dissipada em forma de deformação dos tecidos ósseos, cartilaginosos, musculares e tendinosos além da capacidade destes suportarem tal stress sem serem lesados.

Análise traumatológica preliminar

Por este esporte envolver alturas e transposição de obstáculos que são na maioria das vezes maiores que o traceur, este tem riscos aumentados de sofrer lesões ósseas, tendinosas e musculares, principalmente na fase de “aterrisagem” do praticante, fazendo com que alguns cuidados devam ser pensados:

1 – não realizar sem supervisão de um traceur mais experiente

2 – não abrir mão de equipamentos de segurança

3 – adequar atleta ao campo de prova, dividindo os obstáculos em graus de dificuldade

4 – iniciar conjuntamente um programa de preparação física para permitir que o corpo suporte o stress a que ele está submetido

5 – ter bom senso para saber a hora de parar e considerar um obstáculo intransponível

Ainda assim, tomados estes cuidados, o esporte apresenta seus riscos, que talvez não sejam diferentes de se andar de bicicleta, patins ou mesmo correr no parque.

As lesões de natureza ortopédica podem acontecer decorrentes de quedas de muros ou quedas em velocidades, e na verdade, o que vai determinar o grau de gravidade da lesão é o grau de risco eu o atleta se impôs. Para ilustrar minha tese proponho uma discussão: qual será mais perigoso? Descer a Brigadeiro (Avenida Brigadeiro Luis Antonio) de bicicleta ou realizar um circuito de parkour no Parque do Ibirapuera a frente de obstáculos de 160 centímetros de altura?

Difícil julgar. Acredito todo esporte tem um potencial lesivo só pelo fato de ser esporte, ou seja, somente pelo fato de colocarem o corpo humano sob intenso stress mecânico. Um jogador de futebol pode fraturar um tornozelo após uma aterrisagem mal sucedida, um jogador de tênis de mesa pode lesar os ligamentos do joelho por mudar de posição bruscamente em movimentos rotacionais entre os côndilos do fêmur e o platô tibial, um tenista pode sofrer uma lesão de quadril que pode culminar com osteoartrose no futuro e inclusive determinar a substituição da sua articulação natural por uma prótese devido ao efeito da doença degenerativa ao longo dos anos, e por aí vai...

Colocar o corpo humano sob stress é correr riscos, sejam estes tipos de stress físicos ou mesmo mentais.

Assim, a melhor resposta é ter bom senso e respeitar o próprio corpo como forma de respeitar o bem pelo qual você é capaz de fazer o que gosta.

Análise fisiológica básica

Apesar do exercício ser baseado em movimentação fluída através dos obstáculos, o esforço físico não é linear, ou seja, não permanece em um determinado patamar de utilização. O esforço que o parkour exige dos traceurs vem de sistemas variados de utilização de energia e de utilização muscular.

Observando de forma simples vemos um estilo de se movimentar que é basicamente aeróbio, ou seja, utiliza o oxigênio como comburente da reação de queima da glicose e dos ácidos graxos. Sendo assim, parte deste estímulo tem origem nas fibras musculares tipo I, tem um bom potencial para queimar gordura e ainda o tipo de estímulo é capaz de causar um bom condicionamento cardiovascular.

Se olharmos mais atentamente, veremos movimentos que exigem para sua execução uma contração muscular do tipo “explosiva”, sistema metabólico caracterizado pela utilização exclusiva de ATP (a moeda energética dos organismos vivos). Estes movimentos não causam uma queima de glicose e gordura tão eficaz, mas causam modificações importantes no corpo do esportista:

1 – provocam um tipo de estímulo que atua no aparelho neurológico do indivíduo, melhorando o controle da musculatura e a capacidade de contração muscular intensa, aumentando assim a força propriamente dita.

2 – provoca o estímulo das fibras musculares tipo IIA e IIB, principalmente a tipo IIB, que é exatamente a fibra muscular que tem o maior poder de aumentar de tamanho de acordo com um treinamento adequado. Ainda, a hipertrofia desta fibra em estímulos de força é às custas de síntese de proteína contrátil, tipo de hipertrofia que chamamos de hipertrofia miofibrilar – em contraponto com a hipertrofia sarcoplasmática, aquela onde só há aumento de estoques energéticos dentro da fibra muscular (aquele ganho de tamanho transitório que ocorre quando começamos a fazer “musculação” e ganhamos rapidamente massa muscular num período compreendido entre as primeiras 6 semanas e três meses de treinamento e que da mesma forma que ganhamos rapidamente perdemos rapidamente quando interrompemos o treinamento em períodos compreendidos entre 3 e 6 meses).

Sendo assim, podemos dizer que o parkour causa adaptações do organismo que vão culminar em:

1 – melhora do trabalho do sistema cardiovascular, ganhando capacidade funcional e portanto previnindo doenças crônico-degenerativas

2 – diminui o risco de doenças crônico-degenerativas metabólicas como obesidade, diabetes, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, etc... pois atua no sistema metabólico aeróbio, gastando a energia dos açúcares, triglicérides, ácidos graxos e colesteróis de forma eficiente, impedindo que estes se acumulem, predispondo a tais patologias citadas.

3 – cria adaptações no sistema neurológico, melhorando a utilização do nosso aparelho locomotor, melhorando ainda nosso equilíbrio, esterognosia (percepção do nosso corpo no espaço), postura e reflexos.

4 – cria adaptações musculares que vão nos proteger da inevitável (mas adiável) sarcopenia, ou seja, a falta de musculatura, que começa logo após a maturação completa do nosso aparelho locomotor – nossos músculos. Através do estímulo de força-explosão, mais fibras musculares são sintetizadas, nos protegendo dos efeitos do envelhecimento.

Conclusões primárias sobre o esporte:

O senhor David Belle desenvolveu um esporte que mescla dois tipos de estímulo biológico: atividade de endurance aeróbio com atividade explosiva, criando assim um esporte que, dependendo da maneira que é praticado, é capaz de causar tanto benefícios cardiovasculares quanto benefícios osteomusculares.

Tais adaptações irão refletir na nossa saúde atual, deixando-nos mais resistentes às solicitações do cotidiano, prevenir doenças crônico-degenerativas e ainda programar para nós uma velhice mais amena e independente (de remédios e pessoas).

Como todo esporte, o parkour tem características próprias e estas devem ser observadas para avaliar o potencial de adequação e ganho fisiológico para cada indivíduo. Sabendo dessas características a escolha torna-se também racional, fornecendo ao praticante a capacidade de se auto-avaliar , programando progressões e calculando riscos.

Vale a pena lembrar que é sempre bom consultar uma equipe multidisciplinar antes de praticar qualquer atividade física: um médico para avaliar as condições de saúde atuais e eventuais riscos, uma nutricionista especializada em esporte para adequar as refeições às necessidades do esporte e a supervisão de um educador físico, para orientar a realização deste de forma segura e com capacidade de causar todas estas adaptações valiosas que falamos previamente.

Desejo a todos um bom treino, uma boa prática de parkour, uma vida saudável e uma velhice agradável. E se me permitem um recado pessoal:

Guilherme, estou orgulhoso de você.

Do seu irmão:

(Paulinho)

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Postado (editado)

VEEEEEEEEEEEELHO Muito fooooda, Permissão para apresentar para meus amigos?

vou até favoritar aqui XD

Editado por Megalondon
Visitante usuario_deletado17
Postado

O cara realmente fez uma análise cabulosa.

O que achei melhor é que ele não ficou de mimimi do tipo: Parkour vai te matar se vc cair.

Ele falou a verdade, se vc errar vc se machuca, mas se vc errar jogando tênis vc pode estourar o joelho do mesmo jeito. O perigo do parkour é como o de qualquer esporte.

Postado

pior q ja vi alguns amigos meus jogando bola

e se machucando terrivelmente....

eu pelo contrario so sofro uns ralados inoportunos,e uma certa vez fiz eggs macetados(dor horrivel,digno do partoba)

Visitante usuario_deletado17
Postado

O.o isso foi tipo um evento do parque ou os caras chegaram e começaram a invadir a montanha russa ??

O salto de precisão dos caras é perfeito...

PS: Tá dando vontade de voltar a praticar parkour (eu era tão ruinzão kkkk, foi na época que eu cresci e não tinha muito controle sobre o copro, movimentos muito desengonçados)

Postado

caralhowww muito bom!

Esse cara poderia fazer essas analises em vários esportes radicais hein? Ia ficar show

caralhowww muito bom!

Esse cara poderia fazer essas analises em vários esportes radicais hein? Ia ficar show

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