Excelente diário!! Sem dúvida que vou estar acompanhando! Até porque me revejo muito na sua história também.
Citei este seu post, porque gostei muito dessa sua perspetiva sobre a saúde! A sociedade nem sabe como dar valor ao ter um serviço de saúde gratuito. Sou de Portugal, me formei em Enfermagem em Portugal, onde existe o serviço nacional de saúde que é tendencialmente gratuito. Pessoas com insuficiência económica, idosos, crianças, doentes crónicos, não pagam nada pelos serviços de saúde, consultas, exames,etc. Restantes pessoas pagam apenas uma pequena taxa. Pequena mesmo.
No fim de curso, como parte da minha família tem descendência americana, fui para os EUA, para poder continuar os estudos, pra fazer doutoramento em "advcance practice in family care nurse practitioner", e só tenho a dizer que foi um choque muito grande mesmo, ao lidar diariamente com o serviço de saúde americano, capitalista, onde tudo gira em torno do dinheiro. Só quem passa por um sistema assim, sabe dar o valor a um serviço público e gratuito, por mais defeitos que tenha, por mais lotado que seja, por mais demorada que seja a fila para fazer exame ou ter uma consulta de especialidade. Tudo isso, toda a espera das filas do SUS/SNS, é certamente melhor do que um sistema monopolizado pelo privado e por companhias de seguros de saúde que só olham ao lucro. No fim do dia, só olham a $$$$, não querem saber da parte humana, coisa alguma.
Eu próprio, estou de férias agora em Portugal, e estou aproveitando as minhas férias cá para tratar uma tendinite do supraespinhoso cá, porque o meu seguro nos EUA não comparticipa algumas sonografias, nem consultas especialistas sem referência prévia de um médico ou de um enfermeiro de família. É tudo tão, mas tão burocrático com seguros, que dá até pra entender porque realmente alguns gringos preferem nem fazer seguros de saúde. Os seguros só servem mesmo para atendimento na emergência, porque para atenção primária, só dão mesmo uma grande cefaleia!
Como profissional e enfermeiro especialista, eu nem conto os pacientes, diabéticos, que chegam no meu consultório com hemoglobinas glicadas acima de 10%, porque além de nem terem condições para seguir um regime dietético adequado (sim galera, os gringos não comem só besteira porque querem. Ter uma alimentação equilibrada e correta nas terras gringas, sai caro. Muito caro!), abandonam o regime farmacoterapeutico prescrito por falta de dinheiro ou por o seguro que usam deixar de comparticipar. Ainda no final de fevereiro tive um paciente com HbA1c de 12,4%, ficou sem emprego e por isso perdeu seguro, abandonou a medicação. E o que faço com estes pacientes? Se quiser encaminhá-los para um endocrinologista, eles não vão poder pagar consulta. Se quiser iniciar insulinoterapia, não vão ter grana na mesma. Peço mais exames num espaço de tempo mais curto,e adiciono outros que acho pertinentes também, também não vão poder fazer porque nos EUA os exames são pagos ao preço do ouro. Enfim, muito triste mesmo.
Desculpem o off-topic mas senti necessidade de compartilhar isto também, porque tem tanta gente criticando SUS/SNS, falando bobagem, e nem imaginam a benção que é ter um SUS, por mais sangrante que seja, por mais demorado que seja.
Enfim, tenho que dar os meus parabéns ao Glasgow pela visão humanista que tem do SUS. Tenho certeza que é, e será sempre um excelente médico.