Não conhecia nem nunca coloquei nada aqui no fórum, mas acompanho esse tópico há dois meses.
Faço 38 dias no hard-mode hoje.
Eu nunca tive nenhum problema de excessos. Ao contrário da maioria, eu nem fapava diariamente. Eram umas duas ou três vezes na semana. E só.
Também nunca pensei ter um problema aparente quanto ao ato. Não me sentia escravo, não achava errado nem via malefícios.
Conheci o movimento pelo r/nofap, pelo yourbrainonporn e primariamente pelo Pe. Paulo Ricardo, que já acompanhava há anos, mesmo não sendo religioso.
A minha primeira reação quando soube algo fundamentado além do padrão Laura Müller de bobagens acadêmicas foi de espanto. Eu nunca imaginaria que a pornografia fosse algo além de um estimulante qualquer para satisfazer um prazer temporário. Para mim, era como um prato de comida bonito e saboroso para que eu não sentisse fome e, ao mesmo tempo, tivesse um momento aprazível.
Quando esse meu conceito caiu por terra, meu primeiro sentimento foi de culpa. Eu tentei colocar na minha mente que tudo aquilo era uma conspiração e que não estava fazendo nada de errado mesmo. Eram só fundamentalistas querendo restringir meu "direito à felicidade".
Eu não conseguia, no entanto, configurar isso para além de um wishful thinking. Naquele início de setembro eu dei uma meta prioritária à minha vida: seguir rigorosamente o que a comunidade nofap pregava.
Como o meu corpo ainda não condizia plenamente com a minha mente, eu busquei no início uma "política" de redução de danos.
Descartei imediatamente qualquer possibilidade de buscar material pornográfico que não fosse uma simples foto estimulante, ainda que eu nunca tenha consumido material hardcore ou que envolvesse coisas incomuns e doentias.
A segunda medida foi anotar cada dia em que eu fapava. Eu queria sempre dar um intervalo igual ao anterior mais um dia. Não foi com precisão cirúrgica e tive alguns momentos de chegar a fapar dias consecutivos (algo que não fazia) sem motivo aparente.
Iniciado o mês de outubro, fi-lo apenas duas vezes após a primeira semana, até que do dia 26 em diante iniciei meu ciclo que espero ser eterno.
Durante esse processo do início de setembro ao fim de outubro, eu dei uma regredida ainda maior no grau de material pornográfico, até considerar como algo sem graça e perder o interesse. Parece ter dado certo.
A cada dia que passava, eu sentia mais desgosto por PMO e ficava desmotivado só de ter vontade de fazê-lo. Eu sentia uma vontade crescente de acabar com tudo aquilo.
Iniciado o processo, a minha primeira semana foi parecida com a dos relatos. Um bocado de vontade, constante excitação e, concomitantemente, uma motivação enorme para continuar.
A segunda e a terceira semanas foram bem fáceis, ainda que eu tenha ficado um pouco abatido.
Durante a quarta semana, no entanto, quase pus tudo a perder. Tive excitações constantes e pensei em parar. Felizmente continuei.
Foi nessa semana também meu único sonho sexualizado, seguido de uma polução bem desagradável e de duas pequenas poluções durante um cochilo no mesmo dia (não cheguei a produzir muito nem a pôr para fora, mas saiu claramente quando fui ao banheiro).
Após essa turbulenta semana, era já impossível abandonar. Eu nunca havia conseguido ficar um mês sem e sabia que, se eu tivesse qualquer recaída, tudo o que eu havia progredido durante quase três meses acabaria em meia hora.
A partir de semana passada eu comecei a constatar uma consolidação de pensamento e isso, para mim, é o mais importante. Apesar de ser sempre levemente conservador em todos os assuntos, eu estou apenas agora completamente liberto de qualquer relativismo que seja.
Pensamentos reducionistas e inconsequentes, geralmente individualizando a moral e a consequência de um ato simplesmente sumiram da minha mente. Eu sou incapaz de dizer de cabeça erguida que sexualidade é algo totalmente individual, sem moralidade universal e que deve ser vivida conforme cada um bem entender. Estaria mentindo para mim mesmo. Estaria negando a minha experiência.
Eu passei a ver as coisas do cotidiano buscando valores acima de tudo. Se antes eu via um morador de rua e pensava inconscientemente que ele era um encosto, um imundo, alguém cuja vida deveria pelo próprio bem ser terminada, hoje não consigo não sentir compaixão. Se antes eu via alguém falando sobre "libertação sexual" e pensava que era uma pessoa defendendo o direito de viver como a faz feliz, hoje tenho pena por ela não ver nada acima de um desejo primitivo, que pode, nesse caso, ser uma ferramenta de escravidão.
Por mais que eu seja uma pessoa de exatas e tenha economia como foco, não consigo mais basear a realidade com base em estatísticas ou cifras monetárias.
Mantenho a minha vocação, mas não a emprego como método de ver o mundo, apenas uma parte dele, a materialista.
Assim como o relato do usuário acima, estou cada vez mais religiosamente convicto. O meu agnosticismo, que vinha sendo enfraquecido gradualmente, praticamente acabou.
A aproximação com Ele não é mais uma ideia metafísica para mim. É uma realidade que eu vinha vivendo e agora estou no auge.
Não consigo mais ver o mundo por uma perspectiva materialista. O desejo sexual desordenado tem agora meu repúdio. O individualismo não é mais para mim sinônimo de liberdade, mas de egoísmo e destruição.
Tenho um anseio cada vez maior de aprofundar minha vida intelectual. Compreender a Fé, o Belo, o Ético e ver o que a Civilização nos deixou me agradam mais do que um prazer material temporário, como até mesmo coisas boas do tipo viagens, reuniões e etc.
A ansiedade tem sido o maior side effect da minha experiência. Tenho transtorno e sempre lutei contra usar qualquer tarja preta ou fumar. Eu penso que seja temporário, pela experiência ser nova e ainda um pouco imatura.
Nofap para mim começou sem objetivo nenhum. Não queria melhorar desempenho sexual, não queria ter um corpo melhor, não queria nada além de ver o que era de fato essa comunidade virtual na prática.
Por acidente (ou não), tem sido a melhor experiência possível. Eu tenho cada vez mais autoconfiança em quem sou e no que penso e defendo. Vejo propósito e despropósito nas ações que eu tomo.
Eu espero que esse sentimento maravilhoso continue em mim e que eu nunca mais volte aos velhos hábitos.
Nofap para mim não signficiou nenhuma mudança física, mas me deixou mentalmente mais convicto e coerente. Isso está acima de qualquer coisa.
Espero que o meu relato tenha alguma utilidade para alguém que busque o caminho. Não pretendo participar ativamente do fórum, mas torço para que todos consigam se libertar e ter um horizonte limpo de nuvens cinzentas.