1. CONHECENDO O GLICEROL O glicerol, também chamado de glicerina, é uma molécula orgânica da função álcool cuja nomenclatura oficial é propano-1,2,3-triol. Podemos também classificá-lo como poliol (álcool com várias hidroxilas (OH) por sua cadeia). Ao contrário do que muitos imaginam, ele não é uma gordura, mas sim um carboidrato. Aproveitando a deixa, saiba que ele tem um sabor adocicado (equivalente, numa escala de doçura, a aproximadamente 40% do poder adoçante do açúcar de mesa) e uma consistência líquida meio de xarope, sendo incolor e inodoro. Além disso, possui aproximadamente 4 calorias/grama (na verdade, 4,32). Uma característica interessante é que ele não proporciona picos de insulina quando consumido, ao contrário do açúcar, haja vista que tem um índice glicêmico baixíssimo. Isso ocorre pois, para ser aproveitado, ele deve primeiramente passar pelo fígado, para que seja metabolizado em glicose. Tal fato permite que seja consumido inclusive por pessoas diabéticas. Por conta disso, fique tranquilo: se ingerido nessa forma, ele não é armazenado como gordura. Na dieta, ele normalmente aparece sob a forma de triglicerídeos, também conhecidos por triglicérides, que nada mais são do que a associação do glicerol com três cadeias de ácidos graxos (gorduras), numa reação do tipo esterificação que os libera como produto em conjunto com a água. Observe o esquema abaixo: Continuando, e agora vou entregar o ouro da série, a molécula de glicerol é altamente higroscópica. O que isso quer dizer? Simples: ela tem uma propriedade (característica, habilidade) especial que lhe permite absorver água. Em outras palavras, ele vai agarrar moléculas de água e levá-las consigo aonde quer que vá. Vai depender de você decidir esse caminho: para as suas células ou para o seu ânus. Se tomado com grandes quantidades de água, o glicerol é capaz de promover uma hiper-hidratação; por outro lado, se puro, uma desidratação por má rabugem, ou caganeira, caso prefira. Serão justamente estes dois efeitos que eu gostaria de estudar com vocês ao longo desta série. Vamos lá: 2- GLICEROL: O PUMP DO CAPETA E A PERFORMANCE ESPORTIVA Esse suplemento old school, consumido desde os anos 50, não brinca em serviço! Como dito acima, por conta de sua propriedade higroscópica, o glicerol atrai grandes quantidades de água para si. Sendo assim, se utilizado no pré-treino, com um aporte elevado e suficiente de água, ele vai entrar na corrente sanguínea trazendo consigo várias e várias moléculas do líquido. Depois, por ter uma incrível facilidade de atravessar membranas celulares, vai começar a entrar nas células do corpo, com enorme destaque para as musculares, aumentando o volume citoplasmático de cada uma delas e, consequentemente, seu tamanho. Bom, que fique claro que essa retenção hídrica é INTRACELULAR, não é líquido intersticial, que vai embaçar o seu shape, estragando sua definição! É o mesmo mecanismo da creatina, porém mais potente nesse quesito hidratação. Além disso, o aumento do volume sanguíneo vai causar uma vasodilatação corporal, permitindo maior fluxo e distribuição de nutrientes. Vale mencionar também que essa verdadeira enxurrada de água acaba “carregando consigo” mais aminoácidos e glicose para dentro da célula. O resultado final é o aumento do metabolismo celular (por conta da hiper-hidratação) e de matérias-primas, permitindo que você treine com mais intensidade e com mais peso (força), melhorando sua performance esportiva e elevando o rompimento de mais fibras musculares, fato que muito irá lhe auxiliar no processo de hipertrofia. O pump durante o treino é sinistrão, porém, não é só pra isso que o glicerol serve, como dito acima. O efeito pode ser interessante para tirar fotos e para realização pessoal, afinal, quem não gosta de um inchaço infernal ao final do treino?! Depois de algumas horas, todo esse pump some, deixando para trás, no entanto, um sorriso no rosto e um belo estrago muscular. Metabolismo do glicerol em glicose, mencionado anteriormente. Outra ação bastante interessante do glicerol, baseada nesse aspecto da hiper-hidratação, é que ele pode ser usado em esportes aeróbios de longa duração, como corridas, já que estoca muita água no corpo e impede a desidratação, de modo que o indivíduo não perca performance, demandando um período de tempo muito maior para atingir a fadiga. A título de curiosidade, apenas 2% de desidratação já são capazes de prejudicar de alguma forma o seu treino. Vale mencionar que ele ainda acaba sendo um importante aliado nas práticas esportivas a céu aberto, com muito calor, já que esse elevado aporte líquido ajuda a regular a temperatura corporal com maior facilidade. 3. O GLICEROL E O OUTRO LADO DA MOEDA: RETIRANDO ÁGUA DA PELE Conforme visto no último artigo, o glicerol tem alta capacidade osmótica de arrastar água consigo. No caso da musculação ou de esportes inferiores (não resisti), conseguimos, com isto, um efeito que promove hiper-hidratação celular. Ok, mas isso só ocorre quando tomamos elevadas quantidades de água junto do produto, caso contrário, o glicerol vai ficar lá bonitinho no seu intestino e, como não contou com água externa, ele vai puxar a sua água corporal para si, lotando a parte final do tubo digestivo de líquidos e causando uma BELÍSSIMA CAGANEIRA! O efeito laxante é tão poderoso a ponto de existir glicerol na versão supositório, para facilitar o serviço. Só para deixar claro, amigos leitores, quando falo em suplementar glicerina, não me refiro a introduzi-la no seu lindo ânus, ok? Tudo o que você conseguirá será uma nova “via urinária” com tal prática e não ocorrerá porcaria nenhuma de hiper-hidratação! Porém, agora vem o outro lado da moeda a que me referi no título deste capítulo: dá para retirar a água subcutânea com essa caganeira glicerinada?! Segundo minhas pesquisas, sim. O mais interessante aqui é que a água perdida durante a má rabugem é predominantemente subcutânea, e não muscular, haja vista que o estoque de glicogênio deste tecido tende a reter água consigo (na proporção de 3:1, se não me falha a memória: 1g de glico para 3g de água). A vantagem aqui em relação aos diuréticos é que eles retiram água do corpo, jogam no sistema circulatório e dão um baita trabalho para o sistema excretor, saindo sob a forma de urina e deixando o usuário desidratado (pela perda de eletrólitos). Para piorar, muito do que perdemos não é do líquido intersticial, mas da própria corrente sanguínea. O glicerol, por sua vez, atrai muita água desses espaços “perdidos” entre as células, puxando-a para a corrente sanguínea e depois entrando nas células. A quantidade de sangue em si, acaba variando muito pouco, segundo pesquisas, fato extremamente interessante pois impede que ocorra uma hipertensão (como nos diuréticos). Fonte: “musclemedia summer 1997 issue on glycerol – one of the Best kept secrets of drug-free bodybuilding”.
4. DOSES E PROTOCOLOS DE SUPLEMENTAÇÃO Opções é que não faltam quando o assunto é a suplementação desse assustador volumizador. Antes de qualquer coisa, saiba que você poderá consumir glicerol, glicerina e/ou glicerina vegetal. Dado nosso objetivo, podemos dizer que é tudo a mesma merda! Recomendo que se compre a versão utilizada no preparo de alimentos, normalmente empregada em doceiras e panificadoras ou em manipuladoras. É meio difícil de encontrar, mas pela internet você acaba achando (não quero fazer propaganda gratuita aqui não). A forma vendida em farmácias, bi-destilada, teoricamente é para uso externo, mas sei que muitas pessoas já utilizaram, sem maiores problemas. Eu não recomendo, ok? Minha parte é apenas trazer temas sobre o universo da musculação para vocês e discuti-los. O que cada um vai fazer fora daqui, não é problema meu. Acho mais interessante usar a comestível, mas vai do leitor... Primeiramente, irei passar meu protocolo favorito de suplementação. Como ele sai caro e pode dar alguns colaterais (náusea, caganeira, etc), passarei também outras alternativas. Por que ele é meu preferido? Porque é personalizado! Não curto recomendações genéricas do tipo “tome x gramas por dia”, já que não levam em conta o peso dos indivíduos: - 1 grama de glicerina para cada kg de peso corporal ou 1g/kg. Dilua a brincadeira em 20 a 25mL de água para cada grama de glicerina ou 20-25mL/g. Resumindo: se você pesa 80kg, vai tomar 80g de glicerol misturados em algo entre 1,6 e 2L de água. Feito isso, comece a saborear esta deliciosa bebida, aos goles (não de uma só vez), a partir de 1 ou 2 horas antes do treino.