Quando os fisiculturistas começaram a usar esteroides?

Atualmente, os esteroides anabolizantes e o fisiculturismo parecem quase inseparáveis, mas como e quando exatamente isso aconteceu?

Embora não seja uma prática saudável, não é segredo que esteroides são amplamente usados no esporte. Na verdade, há estudos mostrando que mais pessoas usam esteroides anabolizantes do que heroína. Esteroides estão se tornando algumas das drogas mais populares do mundo.

Neste texto, vamos explorar a história dos anabolizantes para tentar descobrir quando exatamente os fisiculturistas começaram a usá-los.

Não há dúvida de que Arnold Schwarzenegger e outros fisiculturistas da era de ouro do fisiculturismo usavam esteroides, mas a área nebulosa é a de prata (entenda sobre as eras do fisiculturismo).

O que você precisa saber

  • De acordo com dados históricos, é possível afirmar com grande segurança que ao menos até 1935 todos os fisiculturistas eram naturais. A testosterona já tinha sido descoberta, mas sua viabilidade e disponibilidade eram quase inexistentes – não se podia ir até a farmácia comprar testosterona, pois era um artigo usado apenas em laboratório.
  • Há uma zona cinza a partir de 1935, mas podemos apenas afirmar que fisiculturistas começaram a usar esteroides anabolizantes a partir de 1960, com o lançamento do Dianabol no mercado, pois somente neste período essas substâncias se tornaram de fácil acesso.

Origens da testosterona e dos esteroides

Os anos 1940 e 1950 produziram físicos lendários, como Steve Reeves, John Grimek, George Eiferman, Leroy Colbert e Marvin Eder.

Mas será que esses atletas eram naturais? Os esteroides estavam disponíveis para eles?

Vamos mergulhar na história.

Sabemos que todos os esteroides anabolizantes são derivados da testosterona.

A testosterona foi sintetizada pela primeira vez em 1935, quase simultaneamente por Adolf Butenandt, na Alemanha, e Leopold Ruzicka, na Suíça. Essa descoberta rendeu a ambos o Prêmio Nobel de Química.

Antes de 1935, tentativas de criar algo semelhante foram ineficazes.

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Por séculos, pessoas usaram testículos de animais para criar pílulas, pós e poções, acreditando que isso aumentaria a força ou trataria sintomas de impotência e hipogonadismo.

No entanto, a testosterona não é armazenada nos testículos, e qualquer quantidade ingerida oralmente é inativada pelo fígado.

Tentativas preliminares e descobertas científicas

Antes de 1935, muitas substâncias foram vendidas como supostos ‘reforços hormonais’, mas, na prática, eram placebos.

Um exemplo famoso é o ‘Elixir Brown-Séquard’, que ganhou popularidade no final do século XIX. Era uma mistura de fluídos e partes de animais, incluindo extratos de testículos, e alegava aumentar a força e vitalidade.

Elixir Brown-Séquard

Porém, estudos posteriores provaram que o produto não tinha efeito real.

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Outras substâncias dessa época, como cocaína ou metanfetaminas, também eram usadas por atletas, mas não tinham propriedades anabólicas. Podem ser consideradas como ‘pré-treinos proibidos’, mas, na realidade, prejudicavam mais do que ajudavam.

Somente no início dos anos 1930 foi possível isolar algo que se assemelhava a um esteroide.

Adolf Butenandt conseguiu extrair androsterona de 15 mil litros de urina. Apesar disso, a substância era extremamente fraca e ineficaz.

Em 1934, cientistas holandeses isolaram 10 miligramas de testosterona de 100 quilos de testículos de touro, um processo caro e inviável para uso esportivo.

Avanços na síntese de testosterona

Em 1935, a síntese de testosterona foi finalmente alcançada, marcando um ponto de virada.

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Mas isso não significava que fisiculturistas começaram imediatamente a usar a substância.

A testosterona oral era ineficaz, e a versão injetável tinha uma meia-vida de apenas 10 minutos, limitando sua utilidade prática.

Nos anos seguintes, cientistas começaram a desenvolver ésteres de testosterona, como propionato e enantato, que tinham meia-vida mais longa. Além disso, criaram a metiltestosterona, a primeira forma de testosterona eficaz por via oral.

Mesmo com esses avanços, nos anos 1930 a testosterona estava disponível apenas em ensaios clínicos para tratamento de homens idosos e doentes. Era improvável que qualquer fisiculturista tivesse acesso a ela nessa época.

Testosterona no mercado e publicidade enganosa

Com o aumento da publicidade em torno da descoberta da testosterona, empresas começaram a tentar lucrar com a novidade, mesmo sem oferecer produtos legítimos.

Um exemplo é o ‘Testilon’, anunciado nos jornais de 1943. A publicidade sugeria que o produto continha hormônios, mas, na realidade, sua composição incluía apenas substâncias derivadas de testículos de boi, ineficazes quando ingeridas.

testilon 1943

Esse tipo de propaganda enganosa gerou problemas legais.

Em 1945, a FDA obrigou empresas como a responsável pelo Testilon a ajustar suas descrições. Após decisões judiciais, a propaganda do produto passou a mencionar apenas vitaminas, sem fazer referência a hormônios.

Embora anúncios como esses possam levar a crer que a testosterona estava amplamente disponível nos anos 1940, na prática, os produtos vendidos eram essencialmente placebos.

Primeiros casos de uso dos esteroides nos anos 1950

O primeiro caso documentado de uso de testosterona como anabolizante no esporte ocorreu em 1954, durante o Campeonato Mundial de Levantamento Olímpico, em Viena.

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Durante o campeonato, o médico americano John Ziegler percebeu que os atletas soviéticos estavam muito mais fortes – e com um tanto de pelos suspeitos! Depois de alguns drinks com o médico do time russo, ele descobriu o segredo: testosterona.

Ziegler voltou para os Estados Unidos e começou a experimentar com testosterona, mas os resultados iniciais não eram animadores.

Aí ele trabalhou com a empresa farmacêutica Ciba para criar algo mais eficiente.

1960: A era dos esteroides começou

Em 1958, através da parceria de Ziegler com a Ciba, nasceu o Dianabol – uma pílula que revolucionou o esporte.

Atletas que utilizavam a substância começaram a se destacar rapidamente. Por volta do início dos anos 1960, tanto fisiculturistas quanto levantadores de peso estavam em busca do famoso ‘comprimido rosa’ de Ziegler.

 

Basicamente, a partir da década de 1960, os esteroides anabolizantes começaram a se tornar cada vez mais uma parte integrante do fisiculturismo.

Em comparação com a década anterior, os atletas exibiam corpos significativamente maiores e mais definidos, marcando uma mudança clara na estética do esporte.

Essa nova era de fisiculturismo redefiniu padrões corporais e trouxe uma nova dimensão ao esporte, ainda que com custos à saúde dos atletas.

Com isso, a década de 1960 marcou o início de uma nova era no fisiculturismo, conhecida como a “era de ouro”, onde a utilização de esteroides se tornou praticamente o normal entre os competidores.

fisiculturistas da era de ouro do fisiculturismo

As imagens de fisiculturistas dessa era, com seus corpos extremamente musculosos, destacam como essa prática moldou os padrões do esporte que continuam a influenciar até hoje.

Reflexões e conclusões

Hoje, os esteroides continuam sendo uma parte controversa do fisiculturismo e de outros esportes. Apesar dos avanços em treinamento e nutrição, o uso dessas substâncias é cada vez maior e questionável, já que diminui a vida dos competidores.

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